Quando “Ricos de Amor” foi lançado, em maio de 2020, o mundo era um lugar diferente. Vivíamos o um momento de dúvidas, angústias e perdas com o início da pandemia. Neste cenário, o filme dirigido por Bruno Garotti, mesmo com ideias nem sempre muito boas, apresentava um apanhadão de estilos de comédia na história de um romance entre um playboyzinho herdeiro e uma jovem batalhadora estudante de medicina. Sem grandes pretensões e em um momento em que a procura por conteúdos leves aumentava, o filme foi um sucesso.
Três anos depois, porém, a história não se repete, e isso não acontece apenas pelo contexto sanitário global, mas simplesmente porque “Ricos de Amor 2” se perde pelo caminho entre repetições, problemas com o roteiro e até na utilização de um “white savior”, aquele personagem branco que “salva” alguma minoria.
Quando o filme tem início, reencontramos Teto (Danilo Mesquita) e Paula (Giovana Lancellotti) agora no Rio de Janeiro. Ao lado de Igor (Jaffar Bambirra) e Monique (Lellê), Teto criou o coletivo de tomates que conhecemos no fim do primeiro filme. Enquanto isso, Paula está prestes a embarcar para o interior da Amazônia para trabalhar no atendimento em pequenas comunidades indígenas. Teto, claro, não está nada satisfeito com isso, ainda mais porque está morrendo de ciúmes de Tawan (Adanilo, do ótimo “Noites Alienígenas), um médico colega da namorada que irá acompanhá-la na jornada.
Em menos de 10 minutos de filme, o pai de Teto já descolou um antigo amigo na Amazônia, uma pessoa influente que ficou rica por lá vendendo tomate e que com certeza irá ajudar o jovem na empreitada. Assim, sem aviso nenhum Teto parte para surpreender a amada na distante comunidade em que ela se encontra, mas as coisas não saem como o planejado.
Quando percebemos, Igor e Monique também estão por lá e o filme busca repetir a fórmula do primeiro filme, com trocas de identidades e as previsíveis confusões que isso pode gerar. “Ricos de Amor 2” deixa a pequena Paty dos Alferes em busca da grandiosidade amazônica, mas não dá a sua ambientação o devido peso. Personagens transitam entre Rio de Janeiro de Amazônia como se fosse uma viagem entre Vitória e Guarapari (para os não capixabas, cerca de 50 minutos de carro).
O texto até ensaia um contexto maior, com a presença de garimpos ilegais prejudicando a saúde dos povos originários da região, mas é tudo muito superficial – sim, é uma comédia romântica inofensiva, mas isso não a exime de tudo. É curioso como, no momento em que o primeiro paciente chega doente ao posto, o espectador já imagina o motivo, mas o filme demora bastante para chegar a essa conclusão, colaboração de uma atuação ridícula de Paula e de Tawan.
“Ricos de Amor 2” tem imagens belíssimas, principalmente quando busca os planos mais abertos em tomadas aéreas, mas é só. É quase engraçado como o filme usa a fórmula o branco salvador para salvar os povos originários do garimpo ilegal e, depois de tudo resolvido, tenta jogar em Tawan os méritos da virada. Ainda, a cena final entre Teto e Paula, que talvez parecesse uma boa ideia na cabeça dos realizadores,
O filme praticamente esquece Paula e se concentra em mais uma jornada de autoconhecimento e descobertas de Teto. O problema é que Teto é insuportável a maior parte do tempo, um jovem mimado, arrogante e raramente disposto a ouvir – para legitimar seu comportamento, o roteiro ainda dá a ele razão em todas as suas decisões, principalmente após ele “se tornar um homem melhor”. Era de se esperar um personagem mais maduro nessa continuação, mas não é o que acontece.
Com texto expositivo, viradas artificiais (a conversa da sauna é um horror) e um humor que pouco funciona, “Ricos de Amor 2” tenta ser maior, mas não consegue sequer repetir o charme “good vibes” do primeiro filme, que, se não era um primor, ao menos divertia e oferecia conforto.
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