Com origem oficial que data das primeiras peças de Shakespeare no século 16, que, por sua vez, carregavam forte influência da Nova Comédia do teatro grego, as comédias românticas atravessaram séculos para se tornar um dos gêneros mais populares do cinema. A Netflix entendeu isso e tem produzido, com sucesso de audiência, vários filmes e séries do gênero em vários cantos do mundo - o amor, afinal, é universal.
Ano passado o serviço lançou “Modo Avião”, com Larissa Manoela, uma comédia romântica adolescente que, impulsionada pela popularidade de sua protagonista, se tornou o filme de língua não-inglesa mais visto da plataforma. Agora, sem o poder de Larissa Manoela, mas com um elenco afiado, a Netflix lança “Ricos de Amor”, filme que se encaixa bem em seu catálogo de comédias românticas internacionais um tanto… convencionais.
O filme dirigido por Bruno Garotti (“Tudo por um Popstar” e “Cinderela Pop”) não reinventa o gênero e tampouco tenta apresentar novidades a ele, mas não faz feio ao jogar em sua receita influências que vão das clássicas comédias de costumes, cheias de humor físico, a uma leitura mais moderna, com uma inversão no lugar de poder da trama.
O texto acompanha Teto (Danilo Mesquita), um playboy acostumado a ficar com todas as garotas da pequena cidade de Paty dos Alferes, interior do Rio de Janeiro. Filho do bilionário Teodoro (Ernani Moraes), o “Rei do tomate”, ele não tem compromisso nenhum a não ser curtir a vida. Em sua festa de aniversário, ele conhece Paula (Giovanna Lancelotti), uma estudante de medicina pé no chão que, ao contrário das meninas da cidade, não faz a menor ideia de quem ele seja ou do tamanho do império de seu pai.
O problema é que Paula detesta playboys como Teto. A solução encontrada por ele é tentar conquistá-la fingindo ser Igor (Jaffar Bambirra), o filho do caseiro das propriedades do Rei do Tomate e seu amigo de infância. Juntos, eles partem para a capital com a missão de conquistar o coração da médica e mostrar a seu pai seu verdadeiro valor.
Fórmula
A receita clássica de uma comédia de trocas de identidade confere ao filme alguns bons momentos. Nada, mas nada mesmo, é novidade em “Ricos de Amor”, mas ele se garante com as boas atuações do elenco e a química entre os atores. Teto, a princípio, é irritante e faz a audiência torcer contra ele na trama; com o tempo, porém, o personagem se torna mais palatável.
O interessante é notar que o texto dá espaço para o desenvolvimento de coadjuvantes, então Jaffar e Fernanda Paes Leme (no papel de uma coach de RH) funcionam tão bem em seu núcleo quanto Danilo e Giovanna.
Em entrevista,, Fernanda Paes Leme, plenamente recuperada da covid-19, conta que essa química na “coxia” é essencial. Quando a coxia funciona, é difícil o produto final não dar certo”, afirma. A atriz diz ainda que tudo se encaixou bem por ser amiga de praticamente todos no elenco. “Eu não contraceno tanto com a Giovanna, que é minha vizinha, uma de minhas grandes amigas, o Danilo também é muito amigo meu. Com o Jaffar a gente tava criando uma relação, ficando amigo, por conta de amigos em comum, da galera com quem fiz ‘Malhação’. Tudo se encaixou pra essa coxia, essa química, ser o ponto alto do filme”.
Para Jaffar Bambirra, desde o início as coisas já caminharam bem. “ A Jennifer (Dias, também no elenco) é minha amigona, minha irmã. Por meio dela eu tava construindo uma amizade com a Fernanda. Quando essa relação existe, ela transpassa as telas e chega ao público”, pondera.
Comédias modernas
“Ricos de Amor”, dentro do possível, tenta tocar em questões sociais. É tudo bem superficial, mas o filme trata aborda privilégios de classe e assédio, além da já citada posição da mulher na sociedade. Todas essas camadas, porém, são esquecidas com o tempo. Deixando-as de lado, o roteiro abusa dos clichês e das situações que o público provavelmente já viu em diversas outras produções - o que resulta em um certo conforto.
O filme, ao fim, é uma comédia romântica simpática. Apesar de uma ou outra regionalidade, é tudo bem universal, feito à medida para funcionar bem no catálogo da plataforma. Não vai mudar o gênero, mas pode arrancar risadas de quem espera apenas entretenimento leve e bem-humorado.
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