Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Rodrigo Sant'Anna: "Sou suburbano antes de ser ator. Essas são minhas histórias"

Ator, criador, roteirista e showrunner de "A Sogra que Te Pariu", Rodrigo Sant'Anna fala sobre o sucesso da série da Netflix mundo afora e sobre a nova temporada

Vitória
Publicado em 12/04/2023 às 19h15
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Série "A Sogra que te pariu", da Netflix. Crédito: Helena Barreto/NETFLIX

Rodrigo Sant'Anna nunca escondeu suas origens, pelo contrário, sempre fez questão de ressaltá-las em suas obras. Nascido e criado no Morro do Macaco, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, e depois tendo se mudado para o Quintino. Seu primeiro trabalho de destaque, não por coincidência, foi o espetáculo "Os Suburbanos", que escreveu, dirigiu e protagonizou. A peça ficou cinco anos em cartaz e abriu portas para Rodrigo na televisão. Fez personagens no "Zorra Total" (o ex-namorado da Lady Kate e Valéria Vasques, do bordão "ai como eu tô bandida") e levou "Os Suburbanos" para o Multishow, que abraçou o seu estilo de humor.

Quando assinou com a Netflix para levar seu estilo para a plataforma, ele estava ciente das dificuldades. A gigante do streaming não possuía em seu catálogo nada parecido com o que Rodrigo costuma fazer, na tradição do humor brasileiro, no palco, com erros, improvisos, estereótipos e figuras tipicamente suburbanas. "A Sogra que te Pariu" foi lançada em 2022 e se tornou um surpreendente sucesso global, logo garantindo uma segunda temporada, lançada nesta semana pela Netflix. "Acho que as questões do cotidiano e o fato da história girar em torno de uma sogra, que é uma figura tão popular na humanidade e universal, colabora para que o projeto seja um acerto", explica o ator/diretor/roteirista, em entrevista.

Na nova temporada, "A Sogra que Te Pariu" cresceu, ganhou cenas externas (que eram exibidas ao público que acompanha ao vivo) e novos até para alguns personagens secundários, como Jonas (Pedro Ottoni), antes preocupado apenas em fumar maconha. "Foi pensada com mais possibilidades", diz Rodrigo. Os novos episódios trazem diversos convidados como Dani Calabresa e Luciana Gimenez, além da piada recorrente com os motoristas de aplicativo, sempre um famoso.

Na entrevista abaixo, Rodrigo fala sobre o sucesso da série da Netflix mundo afora, sobre a nova temporada e sobre a importância de levar para as telas histórias protagonizadas por figuras suburbanas outrora relegadas ao núcleo secundário de novelas ou a ser alívio cômico de filmes. Confira.

A primeira temporada foi gravada com a pandemia ainda como uma questão urgente. É visível nos novos episódios que o momento deu novas possibilidades à série, com algumas cenas externas, como no mercado, na prisão... A ideia de expandir foi intencional?

Para uma segunda temporada, sempre buscamos ser mais inventivos e criativos, então escolhemos um momento propício para que a gente pudesse realizar cenas que, durante a pandemia, não foram viáveis por uma questão de segurança e protocolo. A segunda temporada foi pensada com mais possibilidades.

Essas cenas me levantaram uma dúvida: elas foram exibidas ao público que acompanhou as gravações ao vivo ou são "exclusivas" de quem vai ver pela Netflix?

Sim, essas cenas eram todas passadas para o público, que estava ali assistindo, porque ele é nossa primeira amostra do que está funcionando ou não. Então, para nós, é muito relevante que ele acompanhe a história toda. Isso faz muita diferença.

Antes, o formato era algo inédito para a Netflix e a gente não sabia como seriam os resultados. Dá pra dizer que deu muito certo? Como você recebeu a notícia dessa renovação, da produção de mais episódios? Como foi a resposta de outros mercados?

Só tenho a agradecer a todo público que acompanha a série. Acho que as questões do cotidiano e o fato da história girar em torno de uma sogra, que é uma figura tão popular da humanidade e universal, colabora para que o projeto seja um acerto e esteja indo para uma segunda temporada.

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Rodrigo Sant'Anna e Jojo Toddynho na série "A Sogra que te pariu", da Netflix. Crédito: Helena Barreto/NETFLIX

Mesmo sendo uma comédia escrachada, a série tem uma questão social presente, algo que não é panfletário, mas que talvez seja uma das forças da série. Uma família negra que saiu do subúrbio para a Barra, uma mulher negra (Alice) que se deslumbra com o luxo enquanto os filhos buscam o subúrbio como algo mais "real". A intenção do texto é essa?

Eu costumo dizer que sou suburbano antes de ser ator. Eu vim do Morro do Macaco depois fui para o Quintino, então toda minha vivência é pautada nisso. Eu fiquei quase 30 anos no subúrbio. Hoje tenho 42, isso significa que tenho apenas 12 anos de uma nova realidade, mais atual. Então essas são as minhas histórias! Eu naturalmente falo disso com mais propriedade porque vivi tudo que eu falo e transformo tudo isso em humor.

O texto dá voz à periferia, expõe suas mazelas com humor, de olho nas possibilidades dos personagens e sem aquele sofrimento que durante muito tempo marcou essas histórias. Isso é algo que você faz questão de ter?

Para mim a intenção é trazer protagonismo para figuras que por muito tempo ficaram escondidas ou em núcleos menores nas novelas. Então, para mim, representar uma família preta e ver o subúrbio retratado como algo real, é um orgulho. Acho que essa é a nossa relevância né, trazer protagonismo para o subúrbio, para os seus costumes, para suas maneiras e para essas pessoas, para a minha gente, de maneira geral.

Seu texto tem piadas o tempo todo sem nunca cometer nenhum crime contra a humanidade ou ofender minorias. Essa característica foi um processo de adaptação ou foi uma mudança natural para você?

Falando da piada, acho que é uma evolução natural da sociedade, faz parte da nossa evolução como ser humano ter critérios de respeito, com todas as minorias e pessoas que sofreram até aqui, e não fazer mais piadas com isso. Acho que nosso trabalho acompanha essa evolução pessoal.

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