Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Santo": série policial de Bruno Gagliasso na Netflix fica no quase

Entre Brasil e Espanha, "Santo", da Netflix, tem bom arco policial com Bruno Gagliasso, mas se perde com edição confusa e subtramas que não chegam a lugar algum

Vitória
Publicado em 19/09/2022 às 17h57
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Série "Santo", da Netflix. Crédito: MANOLO PAVÓN/NETFLIX

Criada pelo espanhol Carlos López e dirigida em sua totalidade pelo brasileiro Vicente Amorim (“Princesa da Yakuza”), “Santo”, lançada pela Netflix, é uma série que busca a complexidade e se esquece de fazer o simples pelo caminho. O resultado depende muito da expectativa criada pelo espectador e das referências de cada um.

De olho em dois dos principais mercados da Netflix (Brasil e Espanha), “Santo” é um thriller policial que acompanha a caçada pelo traficante que dá nome à série. Desde o início, Santo é tratado mais como uma entidade do que como uma pessoa, é o “pai” de seus capangas, é temido pela violência com que elimina seus adversários e adepto de macabros rituais de sacrifício de crianças.

O roteiro não nos situa de imediato, pelo contrário, somos atirados em meio à trama e temos que nos ambientar antes de entender realmente o que estamos vendo. Na Espanha, conhecemos Millán (Raúl Arévalo), um policial que opera por seus próprios métodos e está de alguma forma conectado a uma pessoa que morre em chamas após uma operação do Santo. Pouco depois, somos levados a Salvador, onde o corpo de uma criança é encontrado no mar, sem cérebro, em um crime que se assemelha ao modus operandi do Santo.

Quando Bruno Gagliasso aparece como Ernesto Cardona, demoramos para entender o papel dele na engrenagem da série. Entendemos que Cardona é um policial infiltrado para tentar chegar ao Santo e gradualmente somos apresentados às suas motivações. “Santo” opta por uma narrativa não-linear, construindo MIllán e Cardona como quebra-cabeças nem sempre de forma muito clara - o arco do policial brasileiro é muito mais interessante do que o do espanhol.

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Série "Santo", da Netflix. Crédito: MANOLO PAVÓN/NETFLIX

É curiosa a maneira escolhida pelo texto para as idas e vindas narrativas; Cardona é exposto como infiltrado muito cedo, dando pouco ou nenhum peso ao acontecimento e utilizando-o apenas para colocar os dois detetives em contato. A série inicialmente também dá indícios de seguir a fórmula do “eles terão que trabalhar juntos para desmascarar um perigoso traficante”, mas o brasileiro quase nunca opera em parceria com seus colegas espanhóis, servindo quase sempre como um entrave para eles, inclusive.

No decorrer da temporada, “Santo” se torna menos policial e mais um suspense/horror de culto. Esteticamente, a série funciona muito bem quando parte para esse caminho, com excelente utilização de luzes, sons e ambientes para construir a tensão. A confusa edição funciona para deixar claro o estado mental dos protagonistas, mas também contribui para a falta de ritmo da série que, entre idas e vindas, faz com que nos sintamos um tanto enrolados pelo arco principal.

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Série "Santo", da Netflix. Crédito: MANOLO PAVÓN/NETFLIX

O roteiro se esforça o tempo todo para equilibrar alguns aspectos. Para não soar preconceituosa com as religiões de matriz africana, a série coloca Cardona como adepto do Candomblé (como Gagliasso é fora das telas) e busca tratar a religião com o devido respeito. O texto também busca o equilíbrio entre os dois policiais, mas falha ao traçar paralelos entre eles de forma rasa em algumas subtramas, tornando o brasileiro um sujeito interessante e o espanhol.

Como thriller, “Santo” funciona razoavelmente bem, mas incomoda a impressão de a série se estender demais. O arco principal tem bons momentos que nos fazem querer continuar acompanhando, mas, em contrapartida, o trama parece não chegar a lugar nenhum - tratar o Santo como uma entidade é interessante a princípio, mas se torna repetitivo e até irritante. Quando o sexto (e último) episódio se aproxima da metade e a série finalmente se aproxima de um desfecho, logo percebemos a provável ausência de uma conclusão satisfatória - se houver mais temporadas, há o que ser desenvolvido, mas, caso contrário, o final é horroroso.

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Série "Santo", da Netflix. Crédito: MANOLO PAVÓN/NETFLIX

“Santo” fica no quase. É esteticamente interessante, mas dá voltas com um texto nem sempre eficiente; tem um arco bom com o policial brasileiro, mas outro que pouco acrescenta com o espanhol, uma história presente apenas para sustentar mais temporadas.

Quando a virada final se apresenta, mesmo que o texto dê um ou outro indício, ela é mal trabalhada, pois já não há tempo para desenvolver o terceiro ato da série. A revelação confunde mais do que explica e praticamente joga fora o que foi trabalhado nos cinco episódios anteriores. Ao fim, “Santo”, se preocupa demais em ser misteriosa e se esquece de convidar o espectador para ser parte daquele mistério, para tentar adivinhar, encontrar a solução.

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