Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Se Eu Soubesse", da Netflix, é divertida série de viagem no tempo

Série espanhola "Se Eu Soubesse" brinca com viagem no tempo e as diversas possibilidades em trama confusa, mas divertida, sobre uma mulher infeliz no casamento

Vitória
Publicado em 01/11/2022 às 19h08
Série
Série "Se Eu Soubesse", da Netflix. Crédito: MARIA HERAS/NETFLIX

Viajar no tempo com a possibilidade da fazer escolhas diferentes e tomar outros rumos na vida é uma narrativa que sempre funcionou. De “De Volta Para o Futuro” a “Click”, passando por “De Repente 30” até chegar à boa “De Volta aos 15”, a fórmula é garantia de bons conflitos e desperta uma empatia imediata no público, principalmente dos mais nostálgicos. Para esses, “Se Eu Soubesse”, série espanhola da Netflix, é um prato cheio.

Em oito episódios de pouco mais de 30 minutos, “Se Eu Soubesse” acompanha Emma (Megan Montaner, da ótima “30 Monedas”), uma mulher na casa dos 30 anos, casada com Nando (Miguel Fernández), com quem tem um relacionamento próximo desde infância, e mãe de um casal de gêmeos. O casamento, no entanto, não anda lá grandes coisas - Emma se sacrificou para cuidar das crianças, deixando passar oportunidades de crescimento profissional para ficar com os filhos enquanto Nando não se absteve de nada no mesmo período. Agora, frustrada, em luto pela morte do pai e pensando nas possibilidades que perdeu na vida, resolve pedir o divórcio.

Pouco tempo após a decisão, em uma noite de Lua de Sangue, ela retorna ao restaurante em que foi pedida em casamento e uma conjunção de estranhos fatores faz com que ela retorne a 2008, para os momentos que antecederam o pedido de Nando. Emma, é óbvio, estranha tudo logo de cara, mas também enxerga em toda a loucura, mesmo que talvez seja apenas um sonho, a possibilidade de corrigir rumos em sua vida e de viver novas experiências. O problema é que Emma também logo percebe que, ao não se casar com Nando, seus filhos não existirão - conseguiria ela abrir mão dos filhos por uma nova vida, por mais tempo ao lado do pai?

“Se Eu Soubesse” abusa da fórmula e tenta abraçar o mundo, mas tem bons momentos. O roteiro tem algumas surpresas, umas boas, outras mais ou menos e algumas simplesmente constrangedoras, mas, de forma geral, entrega o que o público espera. É interessante, por exemplo, como o texto começa a lidar com a inevitabilidade de alguns acontecimentos de forma sutil, sem precisar quem um dos personagens que voltaram no tempo (sim, há mais além de Emma) fale que algumas coisas estão destinadas a acontecer.

Série
Série "Se Eu Soubesse", da Netflix. Crédito: MARIA HERAS/NETFLIX

Em contrapartida, a série também tem momentos de pura confusão. O comportamento de Emma é errático - às vezes é uma mulher madura, acostumada à nova realidade, mas na cena seguinte já assume um comportamento infantil. O roteiro também peca na tentativa de criar não um, mas dois triângulos amorosos para a protagonista, mas a construção de Nando, insuportável, tira força dos arcos, mesmo que o personagem tenha papel essencial no fio condutor da série.

A narrativa é ágil, sem se prender muito em um ou outro ponto da história de Emma. Ela também acerta ao mostrar como as coisas aconteceram “no futuro” em contraste à maneira como Emma age no passado, pois entendemos que Emma era feliz ao lado de Nando antes de o casamento desandar. Em contrapartida, a série se perde ao inserir elementos rocambolescos de espionagem, agências secretas e espiões russos que até “se conectam” (as aspas são importantes) ao final de tudo, quando a trama transborda didatismo para que tudo faça sentido na cabeça do espectador (e algumas coisas continuam não fazendo sentido algum).

Série
Série "Se Eu Soubesse", da Netflix. Crédito: MARIA HERAS/NETFLIX

“Se Eu Soubesse” faz algumas escolhas ousadas, mas opta quase sempre pelo ambiente seguro das comédias românticas para oferecer conforto ao espectador. Megan Montagner, mesmo com alguns percalços oferecidos a ela pelo roteiro, é ótima na maior parte do tempo e segura a dinâmica de uma mulher dividida. O texto dá dicas de suas viradas às vezes de maneira eficaz, o que recompensa o espectador mais atento ao fim. Apesar do epílogo ser bem ruim, ele prepara a série para possíveis novas temporadas apesar de o roteiro funcionar muito bem como um arco fechado.

Série
Série "Se Eu Soubesse", da Netflix. Crédito: MARIA HERAS/NETFLIX

Os caminhos escolhidos pelo roteiro poderiam ser diferentes e até bem mais simples, com um texto mais enxuto e sem furos causados pela bagunça que toma conta da segunda metade da temporada, que torna necessário não questionar para aproveitar a série. Ainda assim, ao fim, “Se Eu Soubesse” é divertida e entrega o que promete: um produto agradável, de fácil consumo e digestão.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Netflix Rafael Braz Espanha Streaming

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.