Lançado em 2011, o filme “Hanna” oferecia uma interessante mistura de gêneros; era um filme de ação, sobre uma adolescente criada por um projeto governamental para ser uma assassina perfeita, mas era também uma trama sobre descobertas e amadurecimento - tudo embalado em uma roupagem pop e com trilha sonora original do Chemical Brothers. Era ação, mas era “cult”, com uma estética de cinema independente. O filme não se tornou um fenômeno, mas também não foi mal em arrecadação e circulação.
David Farr, um de seus roteiristas, porém, entendeu faltar elementos ao filme. Em entrevista à coluna, ele conta que queria uma visão mais humana da personagem principal e uma aproximação menos sexualizada para a vilã Marissa Wiegler, no filme interpretada por Cate Blanchett, além de achar que a trama carecia de mais profundidade. Um desenvolvimento desses talvez não fosse possível em um filme, mas ele entendeu que funcionaria perfeitamente em uma série. Assim nasceu “Hanna”, a série, lançada pelo Amazon Prime Video em 2019.
Saíram Saoirse Ronan, Cate Blanchett e Eric Bana, chegam Esme Creed-Miles, Meirelle Enos e Joel Kinnaman, mas a história permaneceu a mesma. A primeira temporada da série acompanhava Hanna (Esme Creed-Miles) e seu pai, Erik (Kinnaman) em fuga enquanto Marissa (Meirelle Enos) está em uma violenta perseguição a eles. A trama é a mesma da do filme, mas “Hanna” ganha desenvolvimento no formato seriado de oito episódios.
A série tem mais tempo para deixa Hanna ser uma adolescente, fazer suas primeiras escolhas (nem sempre acertadas) e lidar com as consequências dela. O tempo também é utilizado para que o público entenda mais o que acontece na Utrex, a tal empresa que cria jovens meninas como supersoldados, máquinas de matar. Em contrapartida, a série perdeu no quesito estilo, pois seria praticamente impossível manter o nível de qualidade do filme ao longo de uma temporada.
A segunda temporada de “Hanna” chega nesta sexta-feira (3) ao Amazon Prime Video com mais oito episódios que dialogam diretamente com o arco final da temporada anterior. Uma novidade é a descentralização da história - se antes tudo era centrado na protagonista, agora ela ganha a companhia de Clara (Yasmin Monet Price), que conhecemos no final da temporada passada.
Outra novidade é a mudança na narrativa de Marissa, que deixa de ser a vilã da história para se tornar parceira e cúmplice de Hanna. Em entrevista ao colunista, Meirelle Enos disse entender que sua personagem não é nem uma vilã nem uma mocinha. "Minha filha me perguntou: 'então quer dizer que você é a heroína agora?'. Respondi que não era bem assim. Como a gente pode ver, Marissa não tem uma bússola moral, ela apenas reage ao que acha correto. Na primeira temporada, acreditava ter que eliminar Hanna e seu pai, agora acredita ter que protegê-la", disse.
A presença das outras jovens confere à série ganha até características adolescentes, discutindo identidade, sexualidade e descobertas, com destaque para as personagens de Gianna Kiehl e Áine Rose Daly. A trama principal, porém, segue a mesma: a Utrex, agora personificada no personagem de Dermot Mulroney, perseguindo Hanna e agora Marissa.
A alternância de narrativa entre Meadows, onde ficam as garotas da Utrex, dá mais ritmo à série, que ganha alguns respiros até então inexistentes, mas, em contrapartida, tira dela um pouco de urgência e foco. A relação entre Marissa e Hanna, mesmo que funcione, acaba não sendo tão bem desenvolvida; as duas por vezes são até relegadas a um segundo plano, ou seja, “Hanna” agora não é exatamente sobre Hanna.
A série continua com um problema que assolava a primeira temporada: para uma trama de jovens assassinas supertreinadas, falta vê-as mais em ação, faltam boas coreografias e um estilo mais ousado - filmes como “John Wick” e “Resgate” (para ficarmos apenas no mainstream) levantaram a barra para o gênero. Sim, o público entende que “Hanna” envolve várias questões de amadurecimento, identidade e descobertas, entende não se tratar de uma série de ação, mas ela faz falta e ofereceria uma dinâmica diferente.
“Hanna”, ao fim da segunda temporada, ainda se sustenta pelas possibilidades, uma vez que há muito a ser explorado nesse universo. Ao fim dos 16 episódios que vimos até agora em suas duas temporadas, “Hanna” ainda não atingiu seu potencial, mas parece ao menos saber aonde quer chegar, mesmo que tropece um pouco pelo caminho.
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