“Primeiro foram os elfos. Em breve, serão os anões. Cedo ou tarde, virão por todos”. A fala de um personagem de “The Witcher” em um episódio da segunda temporada dá o tom que a série abraça em sua segunda leva de episódios, que chega à Netflix nesta sexta (17). Após uma primeira temporada com sérios problemas de ritmo, mas sustentada sobre personagens interessantes e pelo “star power” de Henry Cavill, a série agora corrige vários desses problemas com uma narrativa mais simples e um escopo maior, uma história focada em seus protagonistas, mas já preparando o terreno para um arco maior que lida como preconceitos e regimes totalitários.
Em sua segunda temporada, “The Witcher” se aprofunda nas aventuras de Geralt de Rívia (Henry Cavill) agora ao lado de Ciri (Freya Allan). A narrativa se aproveita da história contada na animação “The Witcher: A Lenda do Lobo” para apresentar novos personagens sem grande esforço. Assim, Vasemir (Kim Bodnia) já não surge como um estranho a ser apresentado pelo texto, pois teve sua introdução bem realizada na animação - da mesma forma, todo universo da fortaleza dos bruxos, Kaer Morhen, dispensa apresentações nos novos episódios de “The Witcher”.
O tempo que seria utilizado apresentando alguns personagens e suas histórias é utilizado agora para contar novas histórias e dar rumo definido à narrativa. A nova temporada se aprofunda nas políticas do Continente de uma forma meio mística, com tramas de poder e algumas subtramas que se cruzam ao arco principal em determinado momento.
“The Witcher” tem uma particularidade interessante de criar episódios semi-procedurais, ou seja, na maioria deles há um arco que se abre e se encerra, mas o texto também consegue avançar na narrativa principal. O aspecto episódico da temporada fica pela bem-vinda presença de mais monstros a serem combatidos por Geralt, aspecto muito presente nos livros de Andrzej Sapkowski e também nos jogos da CD Projekt Red, mas que acabou em segundo plano na primeira temporada. Os monstros possibilitam boas e criativas cenas de ação, mas o roteiro é inteligente o suficiente para inseri-los também como parte do arco principal.
Nos seis primeiros episódios da segunda temporada (quantidade disponibilizada antes da estreia para a imprensa, de oito, no total), “The Witcher” se preocupa em desenvolver a relação de pai e filha entre Geralt e Ciri com boa carga emocional. É sobre a jovem que orbita a narrativa da série, o que dá um foco maior à personagem e um desenvolvimento que ela não tinha anteriormente.
A trama deles se desenvolve de maneira paralela à de Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra). que tem que lidar com os acontecimentos de Sonnen. Yennefer é uma boa surpresa, pois nunca se sabe ao certo o que esperar dela, mas ela é melhor quando interagindo com o grupo principal.
Outros rostos conhecidos, como o de Triss Merigold (Anna Shaffer) e do bardo Jaskier (Joey Batey), também têm seus momentos. Outros, como o elfo Filavandrel (Tom Canton) ganham muito mais destaque na trama sobre preconceito e no mise-en-scène do conflito que se constrói para os episódios finais ou para as próximas temporadas.
Fazendo bom proveito da injeção de verba da Netflix após o sucesso do lançamento, a série é grandiosa, com belas locações e efeitos de computação competentes que ajudam a dar noção do que é aquele mundo de grandes castelos e fortalezas. Algumas características do texto continuam incomodando, mas talvez o problema do didatismo e dos diálogos expositivos para desenvolver personagens e cenários seja mais do material original (os livros) do que da série em si.
A segunda temporada de “The Witcher” é um grande avanço em relação à primeira. Agora, além de entregar uma aventura de fácil consumo, a série também desenvolve seu universo e seus personagens além do retrato superficial da temporada anterior. Com um astro carismático em Henry Cavill, uma narrativa mais direta e um texto que até se permite fazer piada com a própria série, ela ganha estofo e já se prepara para a próxima temporada. “The Witcher” não é e nem tenta ser a nova “Game of Thrones”, mas é uma divertida fantasia pop que caminha além das comparações.
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