Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Sem Maturidade Pra Isso" é excelente animação adulta na Netflix

Série do criador de "Apenas um Show" brinca com comportamento de adultos na casa dos 30 anos sem se sustentar na nostalgia barata

Publicado em 22/09/2020 às 18h44
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Série "Sem Maturidade Pra Isso". Crédito: Netflix/Divulgação

A animação “Sem Maturidade Pra Isso”, disponível na Netflix, tem um público alvo bem definido: adultos entre os 30 e 40 anos que têm que lidar com as responsabilidades da vida adulta, mas não querem deixar no passado as lembranças da juventude.

A série criada por J. G. Quintel (“Apenas um Show”) para o serviço HBO Max, com produção do Cartoon Network, chega ao Brasil pela Netflix em oito episódios que, na verdade, são 15 - cada um dos sete primeiros divide seus 22 minutos em dois mini-episódios.

O texto acompanha Josh e Emily, pais da pequena Candice. Com ambos na casa dos 30 anos, dívidas estudantis e a vontade de oferecer uma educação de qualidade para a filha, eles resolveram dividir a casa em que moram com os amigos Alex e Bridgette, um ex-casal de amigos agora divorciados.

Josh é um talentoso desenvolvedor de jogos, mas nunca conseguiu um grande sucesso, já Emily é uma espécie de faz tudo em uma grande empresa. Alex, por sua vez, é um pós-doutor em antropologia que tem os vikings como material de estudo, ou seja, nada que dê dinheiro. Por fim, Bridgette, a mais jovem dos quatro, está desempregada.

Todo o humor de “Sem Maturidade Pra Isso” (péssimo título em português) se sustenta em referências e identificação, tudo num clima de muito absurdo. Por isso, para a audiência que passa por situações similares e consumiu as referências, a série é um espetáculo. É interessante se reconhecer nas situações e por vezes até se ver como alvo das piadas - Josh é fã de Weezer, acha que ainda sabe andar de skate e mantém hábitos e costumes da adolescência; já outro personagem não para de falar sobre a viagem que fez para Machu Picchu... Se identifica com algo?

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Série "Sem Maturidade Pra Isso". Crédito: Netflix/Divulgação

Mesmo que os adultos sejam o foco da série, ela brinca não apenas com quem não sabe muito bem, por exemplo, pra que serve o Tik-Tok - o retrato que o texto faz de jovens pós-millennials é interessante e funciona quase como um espelho de comparação. Já fomos como eles (sim, me incluo no público alvo), donos de verdades incontestáveis e de uma visão umbiguista de mundo; fossem os adultos de hoje jovens, com certeza estariam admirando celebridades influencers e se alimentado de curtidas em redes sociais.

Assim, “Sem Maturidade Pra Isso” funciona praticamente ao contrário do que o título nacional sugere: a série mostra justamente o processo de amadurecimento, de perceber que talvez a vida não seja justamente como a gente imaginava que seria e entender que ser bem-sucedido por não ser exatamente uma questão financeira. É como finalmente entender que a letra de “I Don’t Wanna Grow Up” do lendário Descendents (“Se crescer significa ser como você, então eu não quero ser como você”), não é uma recusa a envelhecer, mas aos padrões comportamentais impostos pela sociedade.

Como os mini-episódios duram cerca de 11 minutos cada, não há tempo a ser desperdiçado; a agilidade da série, sempre com muita coisa acontecendo rapidamente, compromete um pouco o desenvolvimento inicial dos personagens, pois é só ao final da temporada que passamos a entender um pouco mais o comportamento de cada um deles.

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Série "Sem Maturidade Pra Isso". Crédito: Netflix/Divulgação

É interessante notar como praticamente todos os episódios partem de situações normais para logo depois mergulhar no absurdo, uma escolha que aumenta o poder de empatia da animação com o seu público - se você tem mais de 35 e já foi a uma balada jovem, vai entender o que estou dizendo.

Por fim, o que torna “Sem Maturidade Pra Isso” tão interessante é a maneira como ela consegue dialogar com seu público sem se apoiar na nostalgia; tal qual “Cobra Kai”, agora um sucesso na Netflix, a série criada por J.G. Quintel faz graça com quem opta olhar para trás ao invés de entender as inevitáveis mudanças.

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