"Um livro de poesia na gaveta não adianta nada / Lugar de poesia é na calçada", canta Sérgio Sampaio em "Cada Lugar na sua Coisa". A arte do cachoeirense ainda não pode voltar às ruas, local a que pertence, mas volta aos palcos na 15ª edição o Festival Sérgio Sampaio, que exibe nesta quinta (16), às 19h, um show gravado no Sesc Glória, em Vitória. O festival conta com produção da FiNA e coprodução da TVEducativa-ES em uma realização do Clube Capixaba do Vinil e do Centro Cultural Sesc-Glória. A exibição será em formato de estreia nos canais do Festival e do Clube Capixaba do Vinil no Youtube, na página do Sesc Glória no Facebook e na TVE Espírito Santo. Você também pode só salvar o link do vídeo que está abaixo deste parágrafo. Simples, né?
Na edição deste ano, o o Duo Zebedeu (Fábio do Carmo e Júlio Santos) reúne-se a um eclético quarteto de intérpretes: Caju, Dan Abranches, Julia Nali e André Prando - que assina a direção musical do espetáculo. Assim, a obra do Velho bandido vai ser visitada em diversos momentos do seu processo evolutivo por jovens capixabas com arranjos do experiente duo, desenhando um retrato histórico do “poeta do riso e da dor”. A apresentação ainda tem um grupo formado por integrantes da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses), lembrando a participação de toda a orquestra na edição de 2018 do Festival. "Foi apoteótico", lembra o músico e diretor musical do espetáculo, André Prando.
Finalizando, o especial traz uma palinha de grande Zeca Baleiro, um grande fã de Sérgio Sampaio e um dos caras que resgatou a obra do cachoeirense no início dos anos 2000. Baleiro é o responsável pelo lançamento do disco "Cruel", em 2006, 12 anos após a gravação original.
O especial tem cerca de 85 minutos de duração e conta com depoimentos além das belíssimas apresentações musicais. O formato duo de violão e voz possibilita um mix de música pop, urbana, das ruas, com uma pegada mais clássica, erudita. "Assim é também um pouco sua obra, popular, carnal, canção, violão e, ao mesmo tempo, fina, rebuscada e até com certa erudição", reforça Prando.
Confira abaixo a entrevista com André Prando e já fique ligado na exibição do festival.
Vocês esperavam este ano já ser possível realizar o festival presencialmente?
Não. O Festival sempre acontece em torno da data 13 de abril (aniversário do Sérgio) e nessa época, em 2021, os eventos presenciais estavam longes de ser uma realidade segura. Então a ideia do festival em 2021 já era de realizar o especial em edição virtual. Justamente pela situação ainda mais grave e sem vacinação na época, acabou atrasando tudo, mas felizmente conseguimos realizar agora no segundo semestre.
Como se deu a escolha dos convidados?
Definir o formato do duo de violões foi uma forma de evidenciar a importância e a centralidade do violão na obra de Sérgio Sampaio. Então convidamos o Duo Zebedeu, um duo de violões incrível formado por Fábio do Carmo e Julio dos Santos, eles já participaram do festival em outros anos, já lançaram um disco tributo ao Sérgio (na época com Juliano Gauche na voz). É um duo já conhecido, com versões primorosas do Sampaio. Como no início do ano a situação do COVID estava mais grave, decidimos que seriam poucos intérpretes - tendo em vista que em edições anteriores, o festival organizava "Sampaiadas" com cerca de 8 convidados. Sendo assim, estipulamos 4. Preferencialmente artistas jovens que já tivessem em circulação, com trabalhos autorais, que já tivessem alguma relação ou identificação com a obra de Sérgio. Dan Abranches, um artista multinstrumentista, compositor incrível com trabalho autoral na praça, nascido em Cachoeiro de Itapemirim; Julia Nali, cantora com trabalho autoral e que participa da montagem capixaba do espetáculo baseado no disco que Sampaio participou: “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, onde ela interpreta Mirian Batucada; Caju, uma jovem cantora, fã de Sampaio, que eu conheci de perto dividindo palco na montagem capixaba do musical “Hair”, desde lá eu considero ela uma promessa na música; eu já acompanho o Festival Sérgio Sampaio há alguns anos em diferentes papéis na produção e esse ano recebi o convite para fazer a direção musical, podendo também ser um dos cantores. Sampaio é inspirador pra mim, sua obra e o Festival Sérgio Sampaio foram meu tema de TCC, gravei uma composição sua em um de meus discos, já costumo realizar shows tributos à sua obra e nesse ano participo do especial interpretando apenas canções inéditas de Sérgio.
Você, como diretor, opta por um repertório que acompanhe todas as fases do Sérgio Sampaio. Que fases são essas e o que o público pode esperar?
O repertório foi de livre escolha para cada intérprete, cada um escolhendo quatro canções. De forma natural o conjunto de músicas contemplou todas as fases da obra de Sérgio, desde “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” – sua primeira aparição em disco - ao “Cruel” – seu último disco, de lançamento póstumo - além de canções inéditas. Roteirizar e criar a ordem do repertório foi desafiador e gostoso, hora guiado pelo clima das músicas, hora guiado por ganchos das letras em relação à cada intérprete, ou pela alternância entre cada cantores e até mesmo pelos depoimentos. Foi todo um conjunto.
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O Festival terá a participação de um grupo de Orquestra Sinfônica do Espírito Santo. Essa junção do pop e do erudito funciona bem para a obra do Sérgio?
“Uma canção para o povo da rua e mais erudita não há” – verso de Sérgio na canção “Real Beleza”. Assim é também um pouco sua obra, popular, carnal, canção, violão e, ao mesmo tempo, fina, rebuscada e até com certa erudição, pode-se dizer, com a marca de passar por diferentes estilos. Orquestração esteve presente em sua obra e novas releituras nessa linguagem também cabe muito bem. Em 2018 recebemos a Orquestra Sinfônica completa com arranjos originais, foi apoteótico!
Como a obra do Sérgio ecoa na música brasileira que se faz hoje? É possível fazer essa relação?
Sérgio Sampaio está presente em artistas que simbolizem alguma forma de resistência, de não conformidade, de não ceder às tendências, de marginalidade, de sarcasmo, de poesia profunda. Todo artista antenado na história da MPB ou que seja antenado em contra-cultura, vanguardistas, marginalizados, conhece e aprecia Sérgio Sampaio. É quase unanimidade. É uma referência que faz bem não só ao público, mas a outros artistas também.
Como diretor do projeto e um grande fã do Sergio, o que você fez questão de trazer para a edição deste ano?
Minha função foi específica na direção musical do espetáculo. A direção geral e a concepção do festival, desde sua origem, é do Clube Capixaba do Vinil, pela pessoa de Gilson Soares e este ano com a produção também da FINA produções. Juntos, quisemos trazer um registro de alta qualidade, pensando num formato de especial de TV, que pudesse abranger diferentes fases da obra de Sérgio Sampaio, com foco na linguagem do violão, com intérpretes plurais (homem, mulher, trans, branco, preto), homenageando, além de Sérgio, seu irmão Helinho Sampaio que faleceu ano passado.
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