Uma mulher dirige seu carro elétrico com seu filho no banco de carona - ele acaba de brigar na escola motivado por um incidente racial. De repente, um alarme. Pessoas na rua correm em busca de abrigo e abrem seus guarda-chuvas enquanto os carros param. Lulas começam a cair do céu e a se desfazer no vidro dos carros e no chão. Mais um dia normal no universo de “Watchmen”, que estreou no último domingo (20) na HBO.
A questão racial se faz presente na série desde o início de seu primeiro episódio, quando recria o real massacre da Rebelião Racial de Tulsa, em 1921. Em 31 de maio daquele ano, um grupo de brancos atacaram uma comunidade negra em Tulsa, no Oklahoma, considerada a Wall Street Negra, a comunidade negra mais rica dos EUA. Estima-se que cerca de 300 pessoas, a grande maioria negra, morreu; outros 10.000 ficaram desabrigados.
“Watchmen”, a série, é diferente da clássica HQ de Alan Moore e Dave Gibbons e do filme de Zack Snyder. Ao invés de povoar o mundo à beira de uma guerra nuclear de heróis mascarados, ele ambienta a história no mesmo universo, mas em 2019. No mundo criado por Damon Lindelof (“The Leftovers”), o fim da HQ aconteceu, ou seja, uma lula gigante de outra dimensão foi transportada para Nova York por Adrien Veidt, um bilionário considerado o homem mais inteligente do mundo. A ideia dele era de que, com um inimigo em comum a combater, forças antagônicas se uniriam em nome da paz mundial. O monstro mata três milhões de pessoas, mas a humanidade encontra “paz”.
Claro, um evento dessa dimensão deixaria diversos efeitos colaterais, e é isso que vemos no primeiro episódio da série da HBO. No 2019 de “Watchmen” os carros são elétricos, mas a tecnologia não se transporta para os aparelhos celulares e computadores. As pessoas se comunicam via pager e telefones fixos em uma sociedade muito pouco tecnológica. O que teria causado isso? Um medo de uma nova ameaça?
Outra herança também não explicada dos acontecimentos da HQ é a figura de Rorschach se transformar em um ícone para o grupo fascista Sétima Kavalaria - provavelmente em função dos diários do personagem terem sido divulgados e mal-interpretados. Ao mesmo tempo, os policiais não mostram seus rostos e atuam juntos com os pouco mascarados ainda restantes. Tudo isso nos EUA governado por Robert Redford há mais de duas décadas.
O primeiro episódio explica muito pouco, mas faz a função de despertar o interesse do público. Lindelof resgata o que fez na ótima “The Leftovers” e apresenta os fatos sem necessidade de explicá-los. Em um tempo de séries disponibilizadas na íntegra e devidamente maratonas, o desafio de manter o interesse do público para um episódio semanal é grande. A HBO aposta alto com grande elenco e produção impecável para tentar criar um novo fenômeno pop; “Watchmen” tem ação, mistério, drama, discurso social, mas ainda depende de um conhecimento prévio da HQ para ser totalmente desfrutada.
Quer assistir a "Watchmen" sem se sentir deslocado? A série de quadrinhos animados abaixo reconta toda a história. Uma boa opção para quem quer tanto se interar quanto relembrar um dos livros mais importantes de todos os tempos. Confira.
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