Quando foi lançada pela Netflix, em 2021, a série “Sex/Life” foi um sucesso não apenas por uma certa cena de nu masculino frontal, mas pela fácil assimilação de um texto simples e direto. A série criada por Stacy Rykeyser (“UnReal”) é praticamente uma transposição para as telas da literatura erótica de E.L. James, Sylvia Day, Jill Davis ou Christina Lauren, autoras que ficaram famosas nos últimos anos com os livros “mommy porn”, ou seja, histórias eróticas para mulheres maduras.
“Sex/Life” é a história de Billie (Sarah Shahi), uma mulher com seus quase 40 anos, casada com um bonitão, Cooper (Mike Vogel), e mãe de duas crianças. Billie levava a vida dos sonhos de muitas mulheres, mas não estava sexualmente satisfeita. A primeira temporada da série tem a protagonista escrevendo em seu diário suas aventuras passadas, principalmente com Brad (Adam Demos), que reaparece em sua vida de maneira um pouco torta.
A segunda temporada, recém-lançada pela Netflix, começa no exato momento narrativo em que a primeira acaba, mas o desenvolvimento não é bem o que se espera. Billie se diz mudada, disposta a fazer as próprias escolhas, e, por isso, decide se divorciar de Cooper e se mudar sozinha para Nova York. Em seus primeiros dias na cidade, claro, ela conhece um novo cara perfeito, Majid (Darius Homayoun), um bem-sucedido dono de restaurante com quem logo se envolve.
Os novos episódios também dão muita atenção a Sasha (Margaret Odette), que ganha um arco próprio que a torna quase uma coprotagonista da série. Sasha, com um livro de sucesso recém-lançado, agora busca expandir seu alcance com um novo empresário que pretende vendê-la como um ícone feminista. O problema é que ela reencontra Kam (Cleo Anthony), um crush da juventude de quem se separou quando ele deixou a cidade e ela não quis acompanhá-lo. A paixão dos dois é reacesa de imediato e eles precisam tomar algumas decisões, mas o “mercado” não reage bem: como uma mulher feminista e libertária como Sasha pode renunciar a alguma coisa para estar com um homem?
“Sex/Life” é uma série que nunca é sutil, o que é tanto um mérito quanto um problema. O foco do texto é abordar a culpabilização das mulheres em diversos ambientes. Quando quer falar da demonização da sexualidade, tem uma personagem totalmente descartável dizendo para Billie que seu “apetite sexual é um problema desde a adolescência”. Todo o processo de libertação de culpa da protagonista vem de pressões impostas a ela pela sociedade patriarcal e conservadora - é interessante como a temporada agora faz de Billie um exemplo de coragem, de mulher forte, inclusive com a admiração de personagens que antes a condenavam.
A falta de sutileza também se dá em outros arcos, como o de Cooper, que precisa ser desenvolvido como um completo imbecil tóxico antes de ter sua redenção, mas não sem antes dar dicas de ser um sujeito sensível e preocupado com as mulheres. Não só ele, todos os homens da série têm comportamentos razoavelmente infantilizados e acabam “transformados” pelas mulheres de suas vidas, mas só após errarem com elas.
Tal qual a primeira temporada, a segunda, em seus seis episódios, também é uma grande “fanfic” erótica. O roteiro é sempre o que se espera dele, acelerado, com todas as cenas ou revelando algo, ou ganhando contornos eróticos. “Sex/Life”, como uma série voltada para mulheres, erotiza o corpo masculino (e até brinca com a já citada cena da primeira temporada), com homens sempre lindos e sarados, enquanto adota um discurso de aceitação de corpos femininos - o que não significa que as mulheres também não sejam erotizadas, mas as cenas sempre colocam a mulher em posição de poder, de desejo. Isso fica claro quando o primeiro nu da temporada é um close nas nádegas de Cooper durante um banho.
Em seis episódios e com narrativa ágil, “Sex/Life” não esconde suas origens na literatura erótica, cumprindo seu objetivo de reforçar sua mensagem de que lugar de mulher é onde ela quiser. Sasha pode escolher ter o namorado que quiser e isso não a faz menos feminista; e Billie pode dar vazão à sexualidade sem sentir culpa. O problema da série erótica da Netflix é que seu roteiro continua se sustentando nas saídas fáceis e em coincidências (a do fim do primeiro episódio é risível), tornando tudo muito previsível. A Nova York, por exemplo, da série parece ser uma cidade pequena ou até mesmo um bairro, sendo impossível sair às ruas, ou visitar restaurantes, sem encontrar um ex ou algum desafeto - algo bem parecido com Vitória, na verdade.
"Sex/Life" é inteligente ao não prolongar demais sua história, tendo plena noção de onde queria chegar desde o início, algo raro. A entende seu público de nicho e nunca promete ser algo que não é. A segunda temporada oferece exatamente isso, um desfecho à trama de Billie, uma jornada que até pode ganhar novos capítulos, mas que tem uma conclusão bem apropriada quando a temporada chega ao fim. Nãoo
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