Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Song of the Bandits": Faroeste coreano da Netflix é muito bom

Ambientada no movimento de independência da Coreia, série "Song of the Bandits" mistura faroeste, Quentin Tarantino e samurais em trama com bons personagens

Vitória
Publicado em 23/09/2023 às 00h39
Série coreana
Série coreana "Song of the Bandits", da Netflix. Crédito: Yu Ara/Netflix

Com os doramas e as séries coreanas mais em alta do que nunca, é irresistível a oportunidade de classificar “Song of the Bandits” como mais uma das produções coreanas com potencial para viralizar na Netflix, mas a nova série da plataforma não se encaixa na fórmula, ela busca voos mais altos. Em nove episódios, a série recria uma narrativa histórica do movimento de independência da Coreia, no início do século passado. Neste ponto, é importante ressaltar que, apesar de uma potência financeira e cultural hoje, a Coreia do Sul só conseguiu se libertar do domínio japonês ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, não sem antes viver uma guerra até 1953.

“Song of the Bandits” é um faroeste que se retroalimenta de toda a influência que o cinema hollywoodiano teve do cinema asiático, principalmente japonês, durante o século passado. A série se situa após a anexação coreana pelo Japão, em 1910, e lida com algumas consequências desse acontecimento. Lee Yoon (Kim Nam-gil) é um ex-escravo, antes forçado a integrar o exército japonês, que vive as cicatrizes do que a guerra o obrigou a fazer. Quando o conhecemos, ele está livre, a caminho de se reencontrar com a também ex-escrava Kim Seon-bok (Cha Chung-hwa), que tem lucrado com a venda de armas para chineses, japoneses e coreanos, sem se preocupar muito com a política da guerra.

A nova série coreana da Netflix se distancia do que estamos acostumados a consumir na plataforma. “Song of the Bandits” é um faroeste que busca vários paralelos no período de reconstrução dos EUA após a Guerra Civi. Toda a série é situada em um mundo sob domínio japonês, mas nunca sob este ponto de vista. O texto apresenta a resistência coreana como heróis, enquanto os japoneses são atrapalhados, meio covardes diante dos adversários, quase como se levantassem à audiência o questionamento de “como esses caras controlam outras nações?”.

Nessa construção, “Song of the Bandits” apresenta bons personagens no bando de fora da leis que Lee Yoon passa a integrar, cada um deles com habilidades e características próprias. Em nove episódios, a série comandada por Hwang Joon-Hyeok bebe na influência dos filmes de samurais, de Akira Kurosawa e do cinema de ação John Woo, mas também busca referências ocidentais em uma espécie de retroalimentação na obra de Quentin Tarantino. No primeiro ato, há referências a “Kill Bill” (as sombras e o sangue do segundo episódio) e a “Bastardos Inglórios”, em todo arco do bando disposto a se vingar dos japoneses.

Série coreana
Série coreana "Song of the Bandits", da Netflix. Crédito: Yu Ara/Netflix

Apesar das referências a grandes nomes do cinema, “Song of the Bandits” também se apoia no melodrama habitual das séries coreanas. O segundo ato da série é mais lento, com algum foco em jornadas pessoais e até em um deslocado romance que destoa de toda a série. É nesses momentos que o texto perde força, fazendo com que a atenção do espectador vá por outros caminhos enquanto tenta convencê-lo de que aquilo é importante, mesmo que não faça diferença alguma à série.

A série é muito melhor quando deixa o melodrama de lado e parte para a ação, para o faroeste, apostando muitas vezes em takes longos que valorizam os atores e as coreografias de ação. Em outros momentos, porém, a série busca a facilidade em uma ação genérica, na qual não se entende direito o que está acontecendo - ouvimos muitos tiros e entendemos que os corpos que caem foram atingidos, nada além disso.

Série coreana
Série coreana "Song of the Bandits", da Netflix. Crédito: Yu Ara/Netflix

Tecnicamente, “Songs of the Bandit” é quase sempre impressionante, exceção feita a um outro uso de computação gráfica desnecessário. As coreografias são criativas, usam bem o ambiente e são bem filmadas, em takes normalmente longos. Apesar da longa duração, com nove episódios de mais de 50 minutos, a sério tem bom ritmo, com arcos distintos. A ação é sempre competente, principalmente quando focada no bando de Lee Yoon, e oferece uma quebra narrativa ao arco dramático da série.

A nova série coreana da Netflix foge do lugar-comum, mas também oferece um produto confortável aos fãs dos dramas coreanos. “Songs of the Bandits” se perde no meio do caminho, com excessivas e desnecessárias tramas paralelas e um arco principal um tanto confuso. Ainda assim, a série é excelente em construir um faroeste a partir de um momento chave do movimento de independência da Coreia, e é interessante, até ousado, pensar em como a história pode seguir até a independência, de fato, do domínio japonês, uma história de união, revolução e liberdade.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Netflix Rafael Braz Séries Coreia do Sul Streaming

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.