Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Sorte de Quem?": bom suspense da Netflix é divertido e inteligente

Com influências que vão de Hitchcock aos suspenses modernos, "Sorte de Quem?", da Netflix, mostra a importância de um bom roteiro na construção de uma boa virada

Vitória
Publicado em 18/03/2022 às 16h36
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Filme "Sorte de Quem?", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Desde os créditos iniciais de “Sorte de Quem?” fica clara a intenção de o diretor Charlie McDowell emular o estilo de Alfred Hitchcock. Enquanto nomes aparecem em tela, a estética clássica do diretor de fotografia Isiah Donté Lee mostra, de forma estática, uma varanda do que parece ser uma bela casa de férias no deserto. A trilha sonora de Danny Bensi ("Ozark") e Saunder Jurrians (“O Tigre Branco”) reforça a referência classuda acompanhando a câmera até ela encontrar Jason Segel sentado tomando um suco. Como se pertencesse àquele ambiente, o homem se levanta, sacode o copo e o atira para longe antes de entrar na casa.

Logo entendemos que aquele homem é um ladrão que acaba surpreendido quando aparecem por lá os donos da casa, um bilionário (Jesse Plemons, indicado ao Oscar por “Ataque dos Cães”) e sua esposa (Lily Collins, de “Emily em Paris”). O ladrão não consegue é descoberto antes de escapar e acaba criando uma situação de reféns. Após negociações, eles chegam a um valor para dar fim àquilo tudo, mas o dinheiro vai demorar quase dois dias para chegar, ou seja, os três terão que passar algum tempo juntos e fazer escolhas importantes.

“Sorte de Quem?” tem um roteiro com ritmo interessante e que nunca se atropela apesar dos poucos mais de 90 minutos de duração. A ideia do filme com equipe reduzida, provavelmente uma limitação imposta pela pandemia, funciona também para que não haja muitos desvios desnecessários à trama - além dos três protagonistas, somente um outro personagem aparece, mas é completamente dispensável.

O filme de Charlie McDowell (marido de Lily Collins) às vezes se assemelha a uma obra dos irmãos Coen, misturando a tensão e o clima de que tudo pode acontecer a situações cômicas reforçadas pela trilha sonora e até pela figura de Jason Segel. É interessante como o texto prefere manter as motivações do ladrão um mistério, mesmo que seu refém várias vezes tente extrair isso dele.

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Filme "Sorte de Quem?", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

É nesses momentos, também, que “Sorte de Quem?” ganha um pouco de profundidade com certa leveza. O bilionário parece acostumado a arruinar vida das pessoas, é assim que o capitalismo funciona. Ainda, ele se coloca na situação de vítima: “sabe como é difícil ser um homem branco e rico hoje em dia?”, questiona. Enquanto o personagem de Plemons é desenvolvido de supetão, a personagem de Lily Collins é mais complexa - inicialmente apenas a feliz esposa de um bilionário, ela ganha camadas com o transcorrer do filme e se transforma em um meio-termo entre seu marido e o ladrão. Mesmo que isso nem sempre ocorra de forma orgânica, funciona bem para o que o texto busca.

O roteiro é redondo, mas tem sua falha na presença do quarto elemento, um personagem utilizado apenas como muleta para o início do terceiro ato, sem desenvolvimento, sem justificativa plausível; ele entra, cumpre seu papel, e sai de cena para total esquecimento dos outros personagens. O recurso não é mal utilizado, mas quebra a dinâmica construída pelo texto até aquele momento.

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Filme "Sorte de Quem?", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Sorte de Quem?” é uma produção pequena, com boas atuações e com uma boa construção de personagens. Um suspense esperto e com bons toques de comédia, o filme de McDowell mistura referências e estéticas clássicas a elementos modernos para construir uma narrativa agradável, inteligente e com uma boa virada construída desde o início do filme.

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