Em 16 episódios lançados em 2017 na Coreia do Sul, “Strong Girl Bong-soon” foi um grande sucesso mundo afora, mas nunca chegou (ao menos oficialmente) ao Brasil. A série coreana misturava drama adolescente, fantasia e romance na história de Do Bong-soon, uma jovem parte de uma família em que todas as mulheres são superpoderosas. Durante a temporada única da série, a protagonista descobre seus poderes, aprende a controlá-los, se mete em um monte de confusões e no final fica tudo bem.
As séries produzidas pela TV coreana normalmente têm apenas uma temporada, e foi o que aconteceu com “Strong Girl Bong-soon”. Seis anos depois, com a Netflix voltando seu olhar cada vez mais para o mercado asiático e para a força das produções coreanas em países como o Brasil, “Strong Girl” volta à vida, mas em outra encarnação, “Strong Girl Nam-soon”.
Com dois episódios semanais, sempre aos sábados e domingos, “Strong Girl Nam-soon” é a história de Gang Nam-soon (Lee Yoo-mi, de “Round 6”), uma jovem coreana que cresceu na Mongólia após ser “perdida” por seu pai durante uma viagem. Quando a conhecemos, ainda uma pré-adolescente, ela participa de combates em um cenário meio “Mad Max”, mas sempre com um sorriso no rosto, como se aquilo fosse uma brincadeira.
Nam-soon tem o sonho de ir a Coreia encontrar seus pais biológicos, mas não quer deixar seus pais adotivos na mão e, por isso, viaja apenas quando completa 22 anos. Acontece que todas as mulheres da família da protagonista têm força sobrenatural e, assim, a mãe de Nam-soon realiza concursos de força com prêmios milionários para jovens coreanas; a ideia é que a menina talvez não se lembre da própria força e a redescubra nessas competições, um prato cheio para golpistas de plantão.
“Strong Girl Nam-soon” segue a linha das séries coreanas que apostam em uma estética quase infantil e em uma diversão leve, que remete a histórias em quadrinhos e a desenhos animados infantojuvenis. No meio da jornada de Nam-soon, acompanhamos também sua mãe biológica, Hwang Geum-joo (Kim Jung-eun), uma empresária de sucesso durante o dia, mas uma justiceira durante a noite. O caminho das duas se cruzará e, ao lado da avó de Nam-soon, Gil Joong-gan (Kim Hae-sook), elas combaterão o tráfico de uma nova droga muito mais potente que o fentanil ou a heroína que está assombrando a sociedade de Seul.
Como é costume nos doramas e nos k-dramas, a série tem uma cadência particular, quase novelesca. É interessante como a apresentação da protagonista, seus poderes e sua família é breve, mas os conflitos de “Strong Girl Nam-soon” nunca são resolvidos rapidamente, pelo contrário. A série opta por muitos “quase” e muitas pistas que deixam o espectador ansioso por uma resolução, mas ela raramente vem de imediato.
A nova série da Netflix em nada depende da série original da TV coreana, com tudo devidamente explicado para todos os novos espectadores – na verdade, é quase um remake com novos personagens e uma pegada atualizada. A série opta por uma pegada fantasiosa e infantilizada, que se assemelha a filmes e séries da Disney e com efeitos especiais intencionalmente toscos, que remetem aos anos 2000 e até a décadas anteriores.
Nam-soon é intencionalmente ingênua no limite do aceitável, conferindo, por vezes, um ar meio “Uma Advogada Extraordinária” ao texto, mas o tema central nunca é, de fato, a heroína. Entre o humor físico escrachado, quase esquetes de “Os Trapalhões”, e o melodrama sem vergonha, “Strong Girl Nam-soon” toca temas importantes e até ousados de maneira amigável. A série tem mulheres no centro da história, mas não apenas como heroínas; em cena, são elas que comandam empresas, dão ordens, sustentam famílias e tomam decisões importantes. Aos homens restam papéis menores, alguns com um pouco mais de destaque, mas quase sempre como coadjuvantes. Essa estrutura, que pode parecer boba, é uma afirmação forte na conservadora sociedade coreana, que em 2022 elegeu Yoon Seok-yeol, candidato antifeminista, como presidente.
“Strong Girl Nam-soon” é uma série que, de forma amigável e aparentemente inofensiva, busca se comunicar com um público maior. Ela usa todas as convenções que já deram certo em outras histórias, inclusive na sua série “mãe”, para criar uma narrativa confortável facilitada pelos episódios semanais. Assim, apesar de episódios longos, a série não se torna cansativa e ganha a possibilidade de conquistar novos espectadores pelo caminho.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.