Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"The Last Days of American Crime", da Netflix, é constrangedor

Lançado pela Netflix, "The Last Days of American Crime" parte de boa premissa para entregar um filme de ação confuso, preguiçoso e pouco interessante

Publicado em 06/06/2020 às 20h23
Atualizado em 06/06/2020 às 20h23
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Filme "The Last Days of American Crime". Crédito: Marcos Cruz/Netflix

Há filmes que se sustentam unicamente por sua promissora premissa - toda a franquia “Uma Noite de Crime” ("The Purge"), por exemplo, é baseada nas possibilidades levantadas pelo argumento inicial: o que você faria se pudesse fazer qualquer coisa em uma noite? Mesmo que os filmes (e a série) não sejam grandes coisas, eles são competentes o suficiente para criar boas histórias dentro daquele universo. Essa introdução serve apenas para ressaltar o quanto “The Last Days of American Crime” desperdiça sua boa premissa e entrega um dos piores títulos do catálogo da Netflix.

Dirigido por Olivier Megaton (“Carga Explosiva 3”, “Taken 2”), o filme adapta para as telas a cultuada graphic novel homônima criada por Rick Remender e Greg Tocchini. Em um futuro próximo, os EUA parecem ter encontrado a solução para acabar com a onda de violência e o crime organizado; o governo instalou antenas por todo o país que emitem um sinal secreto que afeta o cérebro dos cidadãos e os torna incapazes de realizar qualquer ação fora da lei.

O filme se situa na semana que antecede o início do funcionamento das antenas, quando Graham Bricke (Edgar Ramírez) planeja um último grande roubo enquanto todo mundo tenta aproveitar os últimos dias de “liberdade”. Bricke é construído como um anti-herói, o bandido bondoso, que sente falta do irmão morto na cadeia, mas é apenas isso - apesar de quase duas horas e meia de filme, nenhum personagem tem um pingo de desenvolvimento.

O caminho do ladrão se cruza com o do playboy Kevin Cash (Michael Pitt) e o de sua noiva, Shelby (Anna Brewster). O casal convence Bricke a participar de um plano para roubar um bilhão de dólares e fugir para o Canadá antes que as antenas estejam em pleno funcionamento. Há ainda uma subtrama envolvendo o policial William Sawyer (Sharlto Copley) que sai do nada para chegar a lugar algum - quando as histórias finalmente se cruzam, percebe-se que todo o tempo gasto até ali foi um desperdício.

“The Last Days of American Crime” é confuso em sua estrutura narrativa, com muita coisa sem importância acontecendo de forma encadeada - em uma tentativa de fazer ação de “tirar o fôlego”, Megaton não oferece um respiro à audiência. O resultado disso é uma trama atropelada, cheia de soluções “ex-machina” (aquelas sequências em que alguém surge do nada para resolver a situação), com péssimos diálogos e personagens odiáveis. O Kevin Cash de Michael Pitt, um festival de clichês e caricaturas, protagoniza uma das cenas mais constrangedoras do cinema recente em uma “reunião familiar”.

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Filme "The Last Days of American Crime". Crédito: Marcos Cruz/Netflix

Toda a narrativa ainda é conduzida por diálogos péssimos e totalmente expositivos durante praticamente todo o tempo. Preocupado em criar sequências pop e estilizadas, o diretor se esquece de todo o resto - Olivier Megaton ignora regras básicas de narrativa e até de bom senso em nome do estilo, o que fica claro em uma sequência de fuga no terceiro ato.

O roteiro aos poucos se esquece de sua premissa interessante em nome do tal estilo almejado pelo diretor e de uma narrativa supostamente ágil. Assim, ao invés de entregar um filme cheio de possibilidades, o diretor francês assina uma obra remendada por ideias genérica e clichês de filmes de ação. Nenhuma das tramas desperta um mínimo de interesse, o que torna a experiência de assistir ao filme por 150 minutos um sofrimento.

“The Last Days of American Crime” não é apenas ruim, ele é constrangedor. O filme de Olivier Megaton lançado pela Netflix é um exemplo claro de que uma boa ideia e algumas cenas de ação não são o suficiente para distrair o público. A mesma história, se bem dirigida e com uns 50 minutos a menos de duração, teria potencial para se tornar cult, mas do jeito que foi lançado, o filme é apenas desinteressante.

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