Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"The Umbrella Academy": 3ª temporada é a melhor da série da Netflix

Terceira temporada de "The Umbrella Academy" chega à Netflix com muita ação, humor e uma boa dose de absurdo no melhor arco da série até agora

Vitória
Publicado em 20/06/2022 às 21h55
Terceira temporada de
Terceira temporada de "The Umbrella Academy", série da Netflix. Crédito: CHRISTOS KALOHORIDIS/NETFLIX

A primeira temporada de “The Umbrella Academy” chegou à Netflix em fevereiro de 2019 e se tornou uma das séries mais populares da plataforma apesar de arcos irregulares. Um dos grandes méritos da adaptação da HQ de Gerard Way e Gabriel Bá para as telas é a maneira como ela criou e desenvolveu seus personagens - em meio a uma ameaça de fim do mundo, os irmãos adotados e treinados por Reginald Hargreeves passam por questões existenciais, jornadas de autoconhecimento e confusões típicas de uma família disfuncional.

Esse lado mais humano em seres super-poderosos foi o que aproximou “The Umbrella Academy” do público, o que não ocorreu, por exemplo, com a boa “O Legado de Júpiter”, também derivada de uma HQ, que acabou cancelada após a única temporada.

Na terceira temporada da série, que chega à Netflix nesta quarta (22), tudo está meio confuso para Luther (Tom Hopper), Allison (Emmy Raver-Lampman), Diego (David Castañeda), Cinco (Aidan Gallagher), Klaus (Robert Sheehan) e Viktor (Elliot Page). No final da segunda leva de episódios, eles salvam o mundo e retornam para casa, mas acabam encontrando outra equipe de jovens poderosos, a Sparrow Academy, ocupando o lugar que deveria ser deles. O que teria acontecido?

O primeiro episódio da nova temporada traz uma breve contextualização dos novos personagens e daquele universo alternativo, mas logo volta ao ponto final do episódio anterior. O início da terceira temporada é ótimo, ágil e com boa ambientação, mas preocupado principalmente com suas relações. Um novo universo significa muitas novidades para os irmãos e algumas surpresas que não necessariamente têm a ver com as mudanças na linha temporal da temporada anterior. Toda a questão da transição de Elliot Page é tratada de forma natural pelo texto, que não teria como ignorá-la, mas que também não faz disso uma bandeira. Ao invés disso, a fantasiosa série usa bons diálogos para mostrar, inclusive, como essa questão deveria ser tratada fora das telas.

Terceira temporada de
Terceira temporada de "The Umbrella Academy", série da Netflix. Crédito: CHRISTOS KALOHORIDIS/NETFLIX

Após separar seus protagonistas para arcos individuais na segunda temporada, “The Umbrella Academy” faz a interessante opção de agora reuni-los, tornando os novos arcos mais focados e fáceis de serem desenvolvidos. A escolha funciona e dá tempo de texto aos novos personagens antes que todos eventualmente se cruzem em inevitável um arco único - Umbrellas e Sparrows, quem, diria, terão que salvar o mundo de um novo apocalipse.

É interessante como o roteiro traz seus personagens num mix de descrença, resignação e cansaço diante da nova situação. Por mais que três anos e quatro meses tenham se passado (para o espectador) desde que a série estreou, os acontecimentos da primeira e da terceira temporada estão separados apenas por 28 dias, ou seja, é o terceiro fim do mundo que deve ser evitado em menos de um mês. O texto é inteligente em ressaltar o curto tempo entre as temporadas conectando a nova história com tudo o que já aconteceu.

Terceira temporada de
Terceira temporada de "The Umbrella Academy", série da Netflix. Crédito: CHRISTOS KALOHORIDIS/NETFLIX

Após o início acelerado, a terceira temporada de “The Umbrella Academy” pisa um pouco no freio, quase como em um anti-clímax até o episódio quatro, mas nunca se torna desinteressante. Os novos episódios são curtos (para os padrões atuais da Netflix) e o roteiro está sempre em movimento, o que garante a agilidade necessária à trama. Essa desacelerada também funciona para preparar todo o cenário para o excelente arco final.

Em meio a todo o caos instaurado e com a proximidade do fim, todos se encontram num limite, oferecendo um prato cheio para relações complexas de amor e ódio em que até personagens outrora chatos, como Luther, se tornam mais atrativos. Todas as atuações são boas, sem um elo fraco, mas Tom Hopper ganha carisma e se destaca ao lado de Robert Sheehan, cujo Klaus é sempre um poço de carisma. A complicada relação entre Allison e Viktor traz momentos de tensão e afeto, funcionando como o principal arco dramático da temporada. Até Diego, um personagem intencionalmente misterioso, ganha um bom arco com Lila (Ritu Arya). Em contrapartida, quase todos os Sparrow são coadjuvantes superficiais, alguns mais interessantes do que os outros, mas, ainda assim, superficiais.

Tom Hopper e Elliot Page na terceira temporada de "The Umbrella Academy". Crédito: CHRISTOS KALOHORIDIS/NETFLIX
Tom Hopper e Elliot Page na terceira temporada de "The Umbrella Academy". Crédito: CHRISTOS KALOHORIDIS/NETFLIX

Ao longo de suas três temporadas, “The Umbrella Academy” é uma série que melhorou a cada leva de episódios, sempre aprendendo com os erros anteriores para não repeti-los. A série continua o bom trabalho de usar os quadrinhos de Gerard Way e Gabriel Bá como referência, mas sem grandes preocupações em ser fiel a eles - até porque o material da Netflix é muito mais popular do que as HQs lançadas em três volumes no Brasil pela Devir. É óbvio que há diversos detalhes reservados para quem leu o material original, mas são apenas brindes, nada que seja fundamental para o desfrute da série.

“The Umbrella Academy” entende ser o produto pop que é e brinca com isso utilizando doses de melodrama, surrealismo, ficção científica, ação e humor. A série se assume ridícula em diversos momentos, como em seus ótimos (e bem encaixados) números musicais, e assume isso como parte da narrativa.

A terceira temporada tem menos ação, mas protagonistas com arcos mais interessantes e com os quais o público pode se relacionar ainda mais. Com uma quarta temporada já confirmada, “The Umbrella Academy” alcança seu auge, mas ainda há muitas possibilidades de boas histórias a serem contadas neste universo.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Netflix Rafael Braz Streaming

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.