“Que vista bonita”, diz uma personagem de “The White Lotus”, diante de uma alta sacada de hotel na paradisíaca Sicília, antes de completar: “Fico me perguntando se alguém já pulou daqui”. A frase é cômica quando pronunciada, mas também mostra a pegada da série da HBO cuja segunda temporada chega ao HBO Max dia 30, no espaço deixado por "A Casa do Dragão" na grade da HBO. “The White Lotus” não tem grandes conflitos além das incongruências humanas e da sensação quase voyeurística de acompanhar milionários às voltas com problemas pessoais que o roteiro sempre faz questão de diminuir para seu espectador, mas que, para os personagens, são as coisas mais importantes do mundo porque a série lida justamente com isso, o ego.
A ideia inicial de Mike White, criador da série, era uma minissérie, mas o sucesso fez White e a HBO repensarem a série para o formato antologia, com cada temporada em um hotel paradisíaco da franquia ao redor do mundo. Por isso, “The White Lotus” retorna dia 30, agora como ganhadora de dez Emmy, em sete novos episódios (cinco foram liberados para a imprensa) em que o Havaí dá lugar a Sicília para novas histórias e novos personagens… quer dizer, mais ou menos.
Tal qual a primeira temporada, a nova começa com um choque. Em seu último dia no resort, Daphne (Meghann Fahy) se depara com um corpo após um mergulho no mar. A narrativa logo parte para o início da jornada, com um grupo chegando ao White Lotus da Sicília. A bordo do barco, os ricos casais Harper (Aubrey Plaza) e Ethan (Will Sharpe), Cameron (Theo James) e Daphne, que já conhecemos anteriormente, três gerações da família ítalo-americana com raízes sicilianas, Albie (Adam DiMarco), Dom (Michael Imperioli) e Bert (F. Murray Abraham), e uma velha conhecida, Tanya (Jennifer Coolidge). Logo conhecemos também a gerente do resort, Valentina (Sabrina Impacciatore), uma garota de programa da região, Lucia (Simone Tabasco), e sua amiga Mia (Beatrice Granno).
Quase tudo na segunda temporada de “The White Lotus” gira em torno do sexo. Harper e Ethan aparentam um bom relacionamento, mas falta sexo; já Cameron e Daphne, de folga dos filhos, não conseguem se desgrudar. Harper representa essa complexidade com uma suposta superioridade - ela acha que Cameron quer tirar dinheiro de Ethan, que vendeu sua startup por uma fortuna - e uma vontade de se mostrar inabalável.
Aubrey Plaza é incrível ao aparentar inicialmente forte e em um relacionamento sólido, mas acaba se desconstruindo em uma mulher frágil à inversa proporção com que Daphne se mostra bem mais complexa do que aparentava a princípio. Já a relação entre os homens, amigos de universidade, tem um ar de competição, mas também é carregada de homoerotismo masculino.
O arco da família de ascendência italiana se mistura ao de Lucía e Mia (todos se misturam, mas o deles é mais interligado). Ao contrário da primeira temporada, quando os locais não tinham tanto destaque além de Armond, os novos episódios acertam ao dar tempo de tela, conflitos e personalidade as duas amigas. Naquele ambiente, por mais torto que possa parecer, elas representam o espectador, pessoas que não estão acostumadas à vida de bilionários e, por isso, despertam a identificação, um interesse além de observar os problemas dos ricos.
Ironicamente, Tanya, já querida pelo público, tem o arco mais desinteressante da temporada. Egoísta e egocêntrica como sempre, a personagem chega à Sicília com sua assessora particular, Portia (Haley Lu Richardson), mas logo a deixa de lado. Muita coisa mudou na vida da personagem, mas já a conhecemos e há pouco que ela ofereça de frescor além de um ou outro alívio cômico.
Mike White, que novamente escreve e dirige todos os episódios, sabe criar personagens e dar profundidade a eles com um ótimo texto e diálogos excelentes. É justamente por isso que “The White Lotus” é tão interessante e nunca chata mesmo na ausência de melodramas ou de tramas super intrincadas - a vida é simples, até mesmo a dos bilionários.
É muito interessante como Mike White cria um mistério com uma morte e torna esse o aspecto menos atrativo de seu texto. Foi assim na primeira temporada de “The White Lotus” e dá indícios de que será novamente assim na segunda. Como apenas cinco dos sete episódios foram disponibilizados previamente pela HBO, é impossível analisar a temporada e suas viradas como um todo, mas “The White Lotus” continua uma das séries mais legais dos últimos anos, com bons personagens, ótimas atuações, como as de Aubrey Plaza e Simone Tabasco. Morte, sexo, mistério, boas atuações e um ótimo roteiro num cenário paradisíaco? Não dá para pedir muito além disso para uma boa dramédia.
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