Quando foi lançada, em dezembro de 2020, “The Wilds” ganhou uma imediata e preguiçosa comparação com “Lost”. A série original da Amazon Prime Video, afinal, colocava jovens mulheres em uma ilha após um acidente aéreo e algumas coisas estranhas começam a acontecer. Logo, porém, o texto se mostrou uma criatura diferente; “The Wilds” não tem o aspecto fantasioso da icônica série e gradualmente, contando as histórias das personagens, desperta uma identificação com o público justamente por seu lado humano e pelas jornadas de fácil identificação.
No final da temporada de estreia, quando Leah (Sarah Pidgeon) já está fora da ilha, descobrimos haver outro grupo, este formado por meninos, em situação similar ao das meninas. O que estaria acontecendo? A segunda temporada, que estreia nesta sexta (6 de maio), ensaia uma resposta, mas derrapa ao preterir o arco principal à apresentação dos novos personagens com uma
A escolha da série por se dedicar ao núcleo masculino é questionável não pelos personagens ou seus arcos, mas por parecer um passo atrás ao invés de mirar o desenvolvimento de tudo o que foi bem apresentado na temporada inicial. Os oito novos episódios, assim, ganham a obrigação de responder questões levantadas pelo roteiro na temporada anterior e avançar na trama principal além de apresentar e desenvolver oito novos personagens: Seth (Alex Fitzalan), Scotty (Reed Shannon), Josh (Nicholas Coombe), Alex (Jarred Blakiston), Kirin (Charles Alexander), Rafael (Zack Calderon), Ivan (Miles Gutierrez-Riley) e Henry (Aidan Laprete).
Como já conhecemos o funcionamento do projeto, a trama do segundo grupo é pouco interessante e repetitiva. Existem boas histórias, principalmente com Kirin, um personagem complexo que o texto faz questão de quebrar em camadas - essa, na verdade, é uma das questões de “The Wilds” nessa segunda temporada, quebrar os estereótipos de que ela abusa ao lidar com a vontade do oprimido se tornar o opressor, um dos arcos mais promissores da temporada.
É uma pena que essa seja apenas uma camada e que na maior parte do tempo, a série esteja preocupada em repetir as dinâmicas com um novo grupo, que terá que superar as diferenças para superar as dificuldades impostas pela situação. Fica claro que o projeto busca comparar homens e mulheres de grupos similares em situações semelhantes - é fácil, por exemplo, enxergar os pares entre os grupos, o que fica ainda mais óbvio na história que envolve Rafael (Zack Calderon) e Leah no futuro (ou no presente, dependendo de como você enxerga a série), quando a jovem inclusive explica isso para o recém-chegado.
Há também uma diferença de tons nos arcos de meninos e meninas. O arco feminino tem personagens mais complexas, com dores e angústias mais críveis; juntas, elas passavam a compreender a dor uma das outras. Do lado dos meninos, a história é construída na já citada desconstrução de alguns estereótipos, mas, ainda assim, sustentada por caricaturas às quais já estamos acostumados: o atleta, o jovem gay, o latino, o emo fã de My Chemical Romance, o menino frágil e cheio de alergias, e por aí vai. O grande problema é que nunca temos o tempo necessário para conhecê-los da mesma forma que a temporada inicial desenvolve as meninas.
A redução dos episódios (de dez para oito) também prejudica o desenvolvimento da segunda temporada e talvez até o desfecho da série. Ainda sem uma terceira temporada confirmada, a série perde a oportunidade de encaminhar a história das meninas para um desfecho ou ao menos para um rumo. Os novos episódios mostram um pouco que os produtores enxergam pra o futuro, e as possibilidades são interessantes - a intenção é clara e inevitavelmente os dois grupos irão se juntar na terceira temporada. Ainda assim, inserir vários novos personagens em situação praticamente idêntica à da temporada anterior talvez funcione narrativamente no futuro se a série mergulhar no experimento, suas causas e efeitos, mas para uma série de futuro indefinido, a escolha é arriscada.
A segunda temporada de “The Wilds” tenta fazer muito em pouco tempo e deixa a impressão de se repetir ao invés de avançar, uma grande falha com os fãs que se empolgaram com a primeira temporada e esperaram 18 meses por novos episódios com aquelas personagens. Com isso, a boa série sobre adolescentes, uma trama que não subestimava seu público, comete justamente esse equívoco ao tentar ampliar seu escopo sem apresentar grandes novidades na trama.
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