Mesmo com o sucesso alcançado a partir de “Amianto” (2014), o Supercombo sempre se manteve como uma banda independente, o que é até surpreendente visto o nível de profissionalismo apresentado pela banda em seus shows e lançamentos. Leo Ramos (voz e guitarra), Carol Navarro (baixo e voz), Paulo Vaz (teclados) e André Dea (bateria) estavam prestes a continuar assim para o lançamento do sexto disco de estúdio da banda, mas uma ligação mudou os rumos do que viria a ser “Remédios”.
A banda estava em estúdio, tendo fechado um mês de aluguel para fazer jams e criar o disco, quando Leo atendeu a uma ligação de Rafael Ramos com o convite: “chegou a hora de fazer a parceria Supercombo e Deck”. O namoro, segundo Leo, é antigo, da época em que o Supercombo ainda engatinhava e o vocalista e guitarrista tocava com o Take Me, banda histórica do emo capixaba do início dos anos 2000. “Fomos gravar com o Rafael e, desde então, eu ficava mostrando os lançamentos do Supercombo pra ele”, diz Leo. Segundo ele, desde o lançamento de “Sal Grosso” (2011), essa relação foi se estreitando, mas o momento nunca era o ideal, “a gravadora sempre tinha o foco em outro artista”, lembra.
“Remédios”, o primeiro disco da parceria, é o Supercombo em sua essência, pesado, mas tropical; pop, mas cheio de experimentações – Leo e cia. fazem como ninguém esse equilíbrio que permite canções como “Aos Poucos” e “Estrela do Mar” coexistam no mesmo disco em total sintonia. Primeiro single lançado, “Aos Poucos” é pesada, remetendo aos tempos de “Amianto”, mas não dá o tom do resto do álbum, que prioriza a variedade, mas sempre com boas melodias e letras “espertas”, cheias de referências de cultura pop.
A cultura, aliás, é papel importante no conceito do disco. Mesmo não sendo um disco conceitual como “Rogério” ou “Adeus, Aurora”, “Remédios” tem seu fio condutor. “É algo mais sutil, cada música traz um problema, um antídoto, uma superação”, conta Leo. Neste cenário, a música “Remédio”, segundo Leo, é um desabafo: “a gente não consegue resolver tudo”. “Na pandemia, a cultura foi a válvula de escape de muita gente”, diz, revelando o conceito também por trás da capa do disco, que tem o quarteto em uma farmácia cheia de objetos que remetem à arte.
É irônico como o disco mantém o clima elevado, mas com temas nem sempre tão alegres. “Tarde Demais”, que conta com participação de Vitor Kley, parece lidar com as transformações, o envelhecimento, a inevitável visita do tempo. Foi durante a pandemia que a banda passou por transformações, com a saída do ex-guitarrista Toledo, após nove anos de Supercombo. “Não foi fácil… O primeiro teste foi ver se a gente conseguia tocar as músicas como um quarteto e deu pra ver que rolava bem. O Paulinho tem tocado guitarra em algumas músicas que tem menos arranjos de teclado”, conta Leo.
“Remédios” nasceu de experimentações, das famosas “jam sessions”. Tendo alugado estúdio por um mês, a banda foi criando músicas “aleatórias”, gravando e decupando essas sessões. “A gente se divertiu muito, foi muito massa de fazer”, diz Leo. Sonoramente, o disco é redondo, cheio de boas melodias e referências que a banda aprendeu a transformar em algo único. “Fim do Mundo”, “Imã” e “Esqueletos na Areia” são mais pesadas, mas funcionam perfeitamente bem ao lado de “Intervenção”, “A Baleia e o Lambari” e a já citada “Estrela do Mar”, um reggae/ska que tem Carol como vocalista principal ao lado da convidada Elana Dara. A baixista, presença constante nos vocais desde “Rogério”, ganha cada vez mais presença e importância nos discos da banda. se tornando parte da identidade musical do Supercombo.
Leo vive de música há tempos e também trabalha como produtor musical, grava jingles e toca outros projetos como o Scatolove, ao lado da companheira, Isa Salles, e o ReoLamos, definido por ele como “um reggae triste do inferno”, mas é a primeira vez que consegue “viver de banda”. “Supercombo virou plano A pela primeira vez na minha vida, o que me permite não fazer mais tanta coisa, ficar mais tempo em casa com minha filha”, pondera.
Isso, claro, se dá pelo sucesso da banda em plataformas de streaming, nos palcos e até nos cinemas – ano passado, o show “Ao Vivo Quando a Terra era Redonda”, gravado em 2019, ganhou sessões nos cinemas Brasil afora. A missão da banda é se equilibrar entre os fãs antigos, que esperam que banda “meta o louco” a cada lançamento, e o ouvinte casual, que talvez não entenda tanto as “loucuras” de Léo. “A dificuldade é chegar num público maior sem perder o público fiel”.
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