Para que não reste dúvida alguma da influência do clássico “Cinderella” em “Tratamento de Realeza”, logo em um dos primeiros encontros da protagonista com seu príncipe, uma amiga comenta “é como o sapato de cristal” antes de outra completar “mas é grana”. O diálogo é inocente e surge como uma piada, mas, apesar de obviamente estarmos diante de uma “Cinderella” moderna, o filme de Rick Jacobson tenta se afastar da fórmula, mesmo que nem sempre consiga.
Lançado pela Netflix, “Tratamento de Realeza” é a história de Isabella (Laura Marano), uma adorável cabeleireira nova-iorquina de ascendência italiana. Em um desses acasos da vida, ela é convocada para cortar o cabelo de Thomas (Mena Massoud), um príncipe de um pequeno país europeu. A química entre ambos é imediata, mas Izzy não gosta da indiferença com que ele trata os funcionários e vai embora antes de concluir seu trabalho. Thomas, claro, vai atrás da jovem para se desculpar e eles acabam se aproximando.
O grande conflito do roteiro de Holly Wester é o fato de o príncipe estar prestes a se casar. Como se não fosse suficiente, Izzy e suas companheiras de salão ainda são contratadas para maquiar a noiva; elas partem então para a fictícia Lavania e se deparam com um mundo muito diferente do que conhecem.
É óbvio que boa parte da narrativa é desenvolvida a partir do interesse mútuo entre Isabella e Thomas. Laura Marano e Mena Massoud funcionam bem juntos e têm carisma como um possível casal, o que segura o arco principal do filme de maneira confortável principalmente nos momentos em que a protagonista leva o príncipe para conhecer a parte “perigosa” de seu país. Vale ressaltar que a fictícia Lavania se parece com um país do Leste europeu, mas aparenta ter o inglês como idioma oficial.
Essas sequências são as que conferem mais afeto e até um pingo de profundidade à trama, pois é Izzy quem abre os olhos de seu interesse amoroso para a realidade da população do país comandado por seu pai, o rei, tirando o jovem príncipe da bolha à qual sempre pertenceu pelo fato de ter nascido nobre. Ele questiona, por exemplo, por que sua nova amiga, uma mulher inteligente, talentosa e decidida, é “apenas” uma cabeleireira
Apesar disso, é nos personagens secundários que “Tratamento de Realeza” é mais interessante. O contido mordomo Walter (Cameron Rhodes), por exemplo, desde o início, antes mesmo de Thomas se dar conta, tenta quebrar a tradição e impedir que o príncipe passe a vida se arrependendo. Outro destaque é Destiny (Chelsie Preston Crayford), amiga de Izzy e responsável pelas melhores piadas do filme.
Esses aspectos não são essenciais, mas conferem a “Tratamento de Realeza” algum frescor a um filme que utiliza a fórmula e os clichês do gênero como recursos para não desafiar o espectador em busca apenas de conforto. Esse conforto e alguns personagens interessantes não significam, porém, que estejamos diante de um grande filme. O longa de Rick Jacobson se perde em algumas subtramas e todo o casamento é mal explorado pelo texto, que tenta conferir alguma profundidade social ao evento, mas se perde em suas intenções e no maniqueísmo de alguns personagens, como os pais tanto da noiva quanto do noivo.
“Tratamento de Realeza”, ao fim, é mais uma comédia romântica convencional, mas é também um conto de fadas modernizado para funcionar na sociedade atual. A nova “princesa” é uma jovem independente, com consciência de classe e que não abre mão de suas convicções para ficar com o príncipe.
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