Muitas vezes caindo em estereótipos nada saudáveis, a figura da sogra é uma instituição não apenas no cinema brasileiro, mas nossa dramaturgia explora isso como poucas outras no mundo. Seja como figura cômica, seja como centro de um conflito, a mãe da pessoa com a qual alguém se relaciona é sempre pauta. Assim, é surpreendente que ninguém até hoje tenha tido a ideia de “Ilhados com a Sogra”, novo reality show da Netflix.
Apresentado pela atriz Fernanda Souza, “Ilhados com a Sogra” tem requintes de crueldade. Seis casais vão a uma ilha paradisíaca com a desculpa de que irão disputar o prêmio de R$ 500 mil com outros casais – o prêmio existe, claro, mas a disputa não é exatamente entre os casais. Logo no primeiro dia, os casais descobrem que, na verdade, é a mãe de um deles que entrará na disputa ao lado da(o) companheira(o), ou seja, as duplas do reality são formadas por genro/nora e sogra.
“Ilhados com a Sogra” tem o grande mérito de ter feito uma seleção primorosa de seus participantes. “É muito importante a gente ter protagonistas acima dos 50 anos em um reality”, diz Fernanda, em entrevista à coluna. “Outro diferencial é que as pessoas só descobrem isso lá. Elas vão ter que disputar R$ 500 mil ao lado da sogra com a quel não se dão bem, o que já é um plot twist logo de cara”, completa. O roteiro ainda é sádico o suficiente a ponto de deixar os filhos como observadores de tudo, quase tão espectadores quanto o público, mas sofrendo muito mais.
Fernanda destaca também o poder do programa, com episódios semanais, de despertar empatia, pois o público pode se projetar em vários participantes diferentes. “Todo mundo quer ver treta e risada, e isso entrega, mas também tem transformação daquelas pessoas, daquelas relações… Ainda pega essas relações e coloca pra conviver com outras relações, outras sogras, é outro tipo de treta (risos)”.
Uma das boas sacadas de “Ilhados com a Sogra” é ter apenas a treta pela treta. O programa traz a psicóloga Shenia Karlsson como parte do programa e em sessões de conversas com os participantes. “É uma ótima sacada e ajuda na jornada de autoconhecimento daquelas pessoas mesmo. A psicóloga é sempre uma figura que a gente nunca vê nos programas, né?”, pondera a apresentadora.
De fato, tendo assistido aos episódios disponibilizados pela Netflix à imprensa antes da estreia, Shenia é essencial à trama. É a partir das sessões dos participantes com ela que conhecemos melhor cada um, que vemos aqueles personagens sendo quebrados, pois cada um claramente está diante das câmeras representando um papel.
A série manipula a expectativa do público, que começa simpatizando com alguns e cancelando outros, mas logo percebe uma mudança de dinâmica quando as pessoas parecem “esquecer” estarem em um reality. Todos os participantes, tanto noras/genros quanto as sogras, chegam se estabelecendo em arquétipos como a protetora, a ciumenta, o sarcástico, a abusada, a brava, mas isso se transforma e talvez permitir essa transformação seja o grande mérito de “Ilhados com a Sogra”.
Mas e se Fernanda Souza estivesse no programa com a sogra? “Eu sou só apresentadora (risos). Não acho que a gente teria o perfil do programa porque eu não sei se gente teria alguma coisa para transformar. O que buscamos no reality é ver a pessoa entrando de um jeito e saindo de outro. Oitenta ou noventa por cento das pessoas que entraram no programa saíram enxergando a própria vida e a relação com os outros de forma completamente diferente”, garante. “Tenho muita gratidão por todas aquelas pessoas e por tudo o que elas me ensinaram ao longo da temporada. O reality é divertido e transformador ao mesmo tempo”, completa a atriz/apresentadora.
É curioso como, pela fala dos envolvidos e talvez até por uma análise mais profunda da série, ela pareça séria, mas não é. “Ilhados com a Sogra” tem tudo o que você espera de um reality show: bagaceira, treta, vergonha alheia, mais treta, amizades e um pouco mais de treta. Tudo isso em um cenário lindo, com uma produção que construiu uma pequena vila na ilha, e dinâmicas interessantes, algumas parecidas com a de outras atrações, mas outras completamente novas. Além, claro, das sogras.
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