Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Treze Vidas - O Resgate", da Amazon, é ótimo ao fugir do melodrama

Lançado "de qualquer jeito" pela Amazon Prime Video, "Treze Vidas - O Resgate" é ótimo ao reconstruir as dificuldades da operação de resgate de crianças em caverna da Tailândia

Vitória
Publicado em 11/08/2022 às 18h50
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Filme "Treze Vidas - O Resgate" acompanha o resgate de um time de futebol juvenil em uma caverna na Tailândia. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

Fosse lançado algumas décadas atrás, “Treze Vidas - O Resgate” seria vendido como um dos grandes filmes do ano nos cinemas e pelo menos entraria em conversas sobre o Oscar do ano seguinte. Dirigido pelo oscarizado Ron Howard (“Apollo 13”), escrito por William Nicholson (“Gladiador”) e protagonizado pelos renomados Colin Farrell e Viggo Mortensen, o filme ainda tem ao seu lado o fato de contar uma história real que comoveu o mundo, o complexo resgate de 13 jovens da caverna de Tham Luang, na Tailândia, em 2018.

A indústria mudou e, ao invés de um chamativo lançamento nos cinemas, “Treze Vidas” teve lançamento discreto na Amazon Prime Video, que o disponibilizou em seu catálogo sem grande alarde ou campanha publicitária, o que é uma pena, pois o filme traz um Ron Howard em grande forma em seu primeiro trabalho não-documental após o constrangedor “Era Apenas um Sonho”.

A premissa é apresentada logo nos minutos iniciais, quando vemos os jovens do time de futebol saindo de um treino e indo para as cavernas comemorar o aniversário de 17 anos de um deles. Era um hábito dos jovens ir ao local, que era bem conhecido por eles, mas ninguém contava com uma torrencial chuva na província de Chiang Rai. Surpreendidos por uma tromba d’água, eles não tinham saída além de se aprofundar nas cavernas em busca de um ponto ainda não alagado.

É interessante como o filme “abandona” os jovens após a chegada da chuva, colocando o espectador do outro lado dos fatos e dando a ele o ponto de vista de familiares e equipes de resgate, ou seja, sem nenhuma informação sobre o estado de saúde dos desaparecidos a partir daquele momento - ninguém sabia se estavam vivos ou não. Quando os reencontramos, já bem adiante na narrativa, o fazemos junto com os mergulhadores vividos por Farrell e Mortensen.

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Filme "Treze Vidas - O Resgate" acompanha o resgate de um time de futebol juvenil em uma caverna na Tailândia. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

A escolha de Howard pela manutenção desse suspense é um acerto narrativo mesmo que já saibamos o destino dos meninos e do técnico. O cineasta poderia buscar outros recursos para manipular a emoção do espectador, criar narrativas sobre as dificuldades vividas pelos jovens ou focar a atenção em suas famílias, mas, talvez justamente por já sabermos o desfecho, Howard prefere conduzir sua audiência a partir dos mergulhadores e das incertezas deles acerca do resgate; os jovens, afinal, poderiam estar em qualquer ponto dentro das cavernas e a chance de estarem mortos era grande.

O filme é eficaz ao transmitir essa incerteza inicial e também ao dar a dimensão exata ao trabalho de busca. Mergulhadores da marinha tailandesa tinham pouca experiência no mergulho de cavernas e o plano inicial de bombear a água para fora se mostrara inútil. Coube a John Volanthen (Colin Farrell), um profissional de TI, e Rick Stanton (Viggo Mortensen), um bombeiro aposentado, a descoberta do local.

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Filme "Treze Vidas - O Resgate" acompanha o resgate de um time de futebol juvenil em uma caverna na Tailândia. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

“Treze Vidas” é inteligente ao introduzir um resgate que quase deu errado para mostrar as dificuldades do trajeto, que chegava a durar mais de oito horas e passava por espaços em que mal cabiam um corpo. O texto também funciona ao lidar com as inseguranças dos mergulhadores e com o peso das escolhas deles, como a de sedar os jovens.

Ron Howard assume um tom quase documental para acompanhar as decisões das equipes de resgate e acerta ao fugir do atrativo melodrama. “Treze Vidas” também é ótimo nas cenas que envolvem os mergulhadores na caverna; as sequências são claustrofóbicas o suficiente para aproximar o público do desconforto mesmo que essas cenas sejam curtas, em recortes para não atrapalhar a narrativa convencional. Ron Howard replicou parte das cavernas em estúdio e trabalhou com alguns mergulhadores que participaram do resgate - Colin Farrell e Viggo Mortensen, inclusive, aprenderam a mergulhar e realizaram boa parte das cenas de seus personagens submersos.

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Filme "Treze Vidas - O Resgate" acompanha o resgate de um time de futebol juvenil em uma caverna na Tailândia. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

“Treze Vidas - O Resgate” é um filme que merecia estar nos cinemas (e provavelmente estaria em um mundo sem pandemia), um filme que representaria um respiro entre os tantos blockbusters de heróis e franquias - mesmo não sendo um filme de ação, o trabalho de som é impecável, dando total noção da força das águas, por exemplo, e isso enriqueceria a experiência do cinema. Mesmo no streaming, merecia maior carinho na Amazon Prime Video, uma plataforma confusa que nem sequer tem o filme entre seu carrossel de destaques, estratégia que pode prejudicar o filme na corrida para o Oscar 2023.

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