Ator de terceiro escalão transformado em diretor de segundo, Peter Berg ganhou algum destaque com “Hancock” (2008) e, mais tarde, por sua parceria com Mark Wahlberg. Com Berg no comando e Wahlberg como protagonista, eles já entregaram filmes interessantes como “Horizonte Profundo” (2016), “O Dia do Atentado” (2016) e “O Grande Herói” (2013), mas também o mais ou menos “22 Milhas” (2018) - o primeiro está disponível na Netflix, o segundo, na HBO, e os outros dois, no Amazon Prime Video.
A quinta parceria entre os dois chegou sexta-feira à Netflix. Filme original do serviço, “Troco em Dobro” é levemente baseado nos livros “Spenser”, de Robert B. Parker, que também virou uma série de razoável sucesso nos anos 1980. O filme mantém o nome do personagem e até um pouco da trama principal (baseada no livro “Wonderland”, escrito por Ace Atkins após a morte de Parker).
Wahlberg vive seu tipo favorito de personagem: o cara durão, mas de bom coração. “Troco em Dobro” (péssimo título em português) se passa em Boston, terra natal do ator, e acompanha Spenser (Wahlberg), um ex-policial recém-libertado da prisão. Logo que ele sai, um antigo desafeto é encontrado morto e a culpa recai sobre outro policial, um sujeito honesto que Spenser não acredita ser o responsável. Ele, então, passa a investigar o caso por conta própria com a ajuda de Henry (Alan Arkin) e Falcão (Winston Duke) e se vê no meio de uma trama que envolve policiais corruptos e mafiosos irlandeses - há até piada sobre “O Irlandês”, de Martin Scorsese, também da Netflix.
“Troco em Dobro” tem uma certa ingenuidade em sua trama, com tudo se resolvendo rapidamente e em sequência. Seu ritmo lembra filmes dos anos 1980 e 90, sem se aprofundar muito em nenhum relacionamento ou situação. Pouco sabemos, por exemplo, sobre Henry, com quem Spenser claramente tem um passado, ou Falcão. No caso do último, ainda vale ressaltar que o roteiro não se preocupa em desenvolver a amizade deles, é tudo instantâneo.
A trama é boba e desde o começo é fácil identificar os culpados, não há mistério algum. Tudo o que resta ao público é acompanhar a jornada, e ela tem bons momentos. As cenas de ação são quase genéricas - tanto as de luta quanto as de armas de fogo -, mas há boas piadas. Desde a primeira sequência, o público já sabe que o protagonista é bom de briga, característica reforçada mais adiante. Mesmo assim, o roteiro não mostra Spenser capaz de lutar contra quatro ou cinco pessoas e até faz piada recorrente com isso.
Wahlberg cria um personagem com senso de conduta invejável e, à sua forma, carismático. No elenco de apoio quem se destaca é Alan Arkin, com boas piadas; Winston Duke oferece presença, mas não tem muito com o que trabalhar além de uma ou outra cena interessante. O filme ainda tem Iliza Shlesinger como a Cissy, uma ex-namorada de Spenser, que também garante algumas risadas.
Ao fim, “Troco em Dobro” é razoável, um passatempo similar a uma série de TV daquelas em que você sabe exatamente o que vai acontecer, mas mesmo assim assiste a cada episódio. É fácil, inclusive, perceber a vontade da Netflix de que o filme se torne uma franquia de longas ou uma série no serviço, já que o final abre diversas possibilidades que, se não cumpridas, ao menos funcionam como uma homenagem legal ao seriado dos anos 1980. Lembra quando nossos pais falavam dos “enlatados americanos”? "Troco em Dobro" é exatamente isso.
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