Poucas obras clássicas são tão gosto adquirido quanto “Doctor Who”. Praticamente uma instituição no Reino Unido, a série iniciada em 1963 (!!!) já teve 13 protagonistas diferentes ao longo de mais de cinco décadas, isso sem falar das complexas ambientações, reencarnações, de uma chave de fenda sônica, da Tardis, da linha espaço-tempo… O fato é que não estou aqui para tentar convencer ninguém a assistir às aventuras do Doutor (mesmo acreditando que todos deveriam), mas para falar de “Truth Seekers”, série britânica disponibilizada pelo Amazon Prime Video que bebe diretamente na fonte da popular série de ficção científica, mas traz uma narrativa bem mais simples e um mundo nada complicado.
“Truth Seekers” é mais uma criação da dupla dinâmica formada por Simon Pegg e Nick Frost - Pegg ficou famoso como coadjuvante em filmes da franquia “Missão: Impossível” e “Star Trek”, mas se destaca mesmo é como roteirista dos filmes da trilogia “Cornetto”: “Todo Mundo Quase Morto”, “Chumbo Grosso” e “Heróis de Ressaca”, filmes que sofrerem no Brasil com péssimos títulos em nossa língua pátria. Frost, por sua vez, permaneceu “escondido” com participações em comédias e, claro, sempre ao lado do amigo Pegg nos filmes produzidos por ele.
“Truth Seekers” é exatamente o que se espera de uma história com a assinatura Pegg & Frost, uma divertida aventura meio absurda, mas com espaço para afeto e dramas pessoais que aproximam o público dos personagens. Na trama, Frost é Gus Roberts, o melhor funcionário de uma empresa de serviços de internet 6G. Ele recebe de seu chefe (Simon Pegg) a incumbência de treinar Elton (Samson Kayo), e, relutante, coloca o jovem no carro e partem para o primeiro atendimento. Chegando lá, se deparam com um fenômeno estranho, algo meio sobrenatural, e é quando entra em ação a faceta investigador de fenômenos inexplicados de Gus, que tem um canal no YouTube chamado, claro, “Truth Seeker”.
Assim como acontece em “Doctor Who”, a nova série da Amazon traz uma narrativa procedural, com um caso por episódio, mas todos eles acabam se encaixando em uma trama maior. Em cada um dos oito episódios da primeira temporada, vamos conhecendo mais sobre os personagens e vendo as tramas paralelas se aproximarem cada vez mais. Ao fim, até o apagado Simon Pegg, um coadjuvante na série, ganha mais espaço.
A semelhança com “Doctor Who” vem também na utilização de efeitos simples, sem a menor pretensão de imprimir uma realidade, pelo contrário, a ideia é mostrar que as criaturas criadas pelos efeitos não pertencem àquele ambiente. O recurso é comum nas séries de TV britânicas, muitas delas feitas com poucos recursos e que, por isso, preferem focar na narrativa do que em pirotecnia.
O primeiro episódio imprime um estilo mais de terror, mas a série logo se encaminha para uma ficção científica com fantasmas. É interessante como cada episódio explica seu fantasma de maneira “plausível” logo no início; assim, quando Gus e Elton se deparam com ele, nós já o conhecemos.
À medida que vamos conhecendo mais os personagens e suas histórias, vamos também entendendo suas escolhas e simpatizando com eles. “Truth Seekers” tem um roteiro inteligente para dar dicas de seus caminhos aos poucos, para que o espectador possa montar seu próprio quebra-cabeças e se achar um gênio por isso quando, na verdade, as peças foram colocadas em ordem pelo texto. Funciona muito bem inclusive para os coadjuvantes de luxo como Malcolm McDowells.
“Truth Seekers” provavelmente não será uma série tão popular e dificilmente teria uma segunda temporada na Netflix. No Amazon Prime Video, no entanto, a série pode ganhar força e mais uma temporada para explorar os bons ganchos deixados. A assinatura de Nick Frost e Simon Pegg confere à série um humor único, leve, mas também uma boa trama e, principalmente, muito coração.
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