Taylor Sheridan está na indústria há tempos, mas não tinha destaque algum. Seu papel mais “famoso” como ator é o David Hale, em alguns episódios de “Sons of Anarchy”. Quando resolveu deixar a atuação em segundo plano e se dedicar aos textos, porém, tudo mudou. Desde “Sicário” (2015), Taylor Sheridan se tornou uma marca. O roteirista foi indicado ao Oscar pelo ótimo “A Qualquer Custo” (2016), escreveu e dirigiu o excelente “Terra Selvagem” (2017) e se estabeleceu de vez na televisão americana. Atualmente, assina como criador de “Mayor of Kingstown”, do fenômeno “Yellowstone” e suas derivadas, “1883” e “1923”, todas exibidas no Brasil pela Paramount+.
É também na Paramount+ que Sheridan tem seu trabalho mais “diferente”, “Tulsa King”, que produz ao lado de Terence Winter. Com mais humor que o habitual e em episódios mais curtos, a série acompanha Dwight Manfredi (Sylvester Stallone), um ex-mafioso ítalo-americano em seus primeiros dias fora da prisão. Preso por 25 anos e sem nunca “abrir a boca”, Dwight esperava uma recepção calorosa fora da prisão, mas é recebido com frieza pela família da qual era parte. Como “prêmio”, é praticamente exilado em Tulsa, uma cidade pequena sem nenhum histórico de atuação da máfia italiana.
É muito interessante ver Stallone em sua primeira série, pois Dwight foi escrito pensando nele. O personagem mistura a imposição física do ator a seu excelente tempo de comédia. Ainda, Sly dá vida a um personagem de sua idade, 75 anos, e reconhece as fragilidades da idade. Por mais que a série tenha bons momentos que não dependem do ator, é difícil imaginá-la funcionando sem ele.
“Tulsa King” não é uma série de grandes arcos, com tudo se resolvendo com certa facilidade. Em poucos episódios, Dwight já tem sua própria “máfia” organizada em Tulsa e com figuras bem inusitadas. O conflito inicial da série, sobre como um mafioso das antigas e acostumado à Nova York se sairia em uma cidade pequena, em um mundo transformado, logo fica pelo caminho, dando lugar a algumas tramas mais pessoais, como a de Stacey (Andrea Savage), uma mulher com quem o protagonista se envolve e que ganhará destaque à medida que a temporada se desenvolve.
É muito interessante como o texto de Sheridan desenvolve o protagonista como um cara durão, com muito apreço à violência, talvez o único meio que ele conheça, mas também como um sujeito afetuoso e bom com os que o cercam. O roteiro tem uma sutileza inesperada ao lidar com o passado de Dwight, o fazendo sempre com cautela, sem de fato condenar suas ações, e ao construí-lo sempre lidando com a culpa, principalmente por ter sacrificado a família em prol da máfia. Essa ambiguidade dá complexidade a um personagem que precisa dessas camadas, pois é quem segura a série.
“Tulsa King”, porém, erra ao buscar as obviedades das narrativas televisivas. O roteiro busca a comodidade e o óbvio o tempo todo, como se fosse um projeto realizado às pressas. Mesmo quando apresenta alguma surpresa ou virada inesperada, o texto volta ao conforto pouco depois. Isso não chega a ser um problema, pois a série realmente funciona como um veículo para Stallone protagonizar conflitos geracionais de um “dinossauro” que passou 25 anos sem contato com o resto do mundo.
A série da Paramount+ não tem (e talvez nem busque ter) a profundidade de outros dramas de máfia assinados por Terence Winter (“Os Sopranos”, “Boardwalk Empire”), funcionando mais como se um personagem de uma série mais série fosse jogado no meio de uma sitcom. Assim, a série acaba reunindo elementos de obras como “Justified”, “Banhsee” e “Sons of Anarchy” em uma narrativa muitas vezes boba, mas que ganha ritmo ao longo da primeira temporada (já renovada para uma segunda) e se garante no carisma de seu protagonista.
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