Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Um de Nós Está Mentindo", da Netflix, é esquecível, mas diverte

Série de mistério "Um de Nós Está Mentindo" tem quatro jovens suspeito do assassinato de um colega que revelava segredos de todos na escola

Vitória
Publicado em 22/02/2022 às 19h24
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Série "Um de Nós Está Mentindo", da Netflix. Crédito: Peacock/Divulgação

As tramas com foco no “whudunit”, aquelas em que todo o mistério é construído na busca por um responsável por algo, estão em alta em gêneros e formatos diferentes. De grandes produções como “Morte no Nilo” e “Entre Facas e Segredos”, passando por séries dramáticas como “Mare of Easttown” e comédias como “Only Murders in the Building”, até chegar às tramas adolescentes de gosto duvidoso, tal qual o remake de “Eu Sei o que Vocês Fizeram Verão Passado” e “Clickbait”. “Um de Nós Está Mentindo”, nova série da Netflix, até tem seus bons momentos, mas se aproxima demais das duas últimas para se destacar positivamente.

Lançada originalmente pelo serviço Peacock, a série criada por Erica Saleh a partir do livro de Karen M. McManus inicialmente parece uma narrativa ao estilo “Gossip Girl”, com alguém publicando segredos sobre os alunos do colegial. A diferença é que todos sabem que o responsável por publicar esses segredos é Simon (Mark McKenna), o filho da prefeita e um cara não muito popular na escola.

Um dia, durante um castigo, o jovem tem uma reação anafilática causada por uma alergia e vem a óbito, tornando os outros quatro jovens em detenção os principais suspeitos pela morte. A popular Addy (Annalisa Cochrane), o atleta Cooper (Chibuikem Uche), o bad boy Nate (Cooper van Grootel) e até a exemplar Bronwyn (Marianly Tejada) tinham motivações para querer a morte de Simon.

A narrativa tem início como um jogo de desconfiança entre os quatro protagonistas e aos poucos vamos conhecendo seus segredos e suas possíveis motivações para o crime. Logo, porém, a trama ganha novos contornos e um espectro mais amplo - quase todos na escola, afinal, tinham motivos para querer a morte de Simon.

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Série "Um de Nós Está Mentindo", da Netflix. Crédito: Peacock/Divulgação

“Um de Nós Está Mentindo” é eficiente em construir Simon como um sujeito odiável que usava segredos como vingança pessoal ou como punição, com um senso de justiça torto e equivocado. Fica fácil, assim, acreditar que realmente todos são suspeitos.

Partindo dessa construção, no entanto, o texto abusa dos clichês do gênero, criando tensão forçada em momentos descabidos em tentativas de criar um clima “perigoso” e a cada episódio indicando novas direções. Ao final dos oito episódios, todos os personagens com um mínimo de tempo de tela já foram tratados como suspeito pelos protagonistas e pelo roteiro, que se esforça para compremos suas viradas que obviamente são apenas distrações.

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Série "Um de Nós Está Mentindo", da Netflix. Crédito: Peacock/Divulgação

É bom ressaltar que “Um de Nós Está Mentindo” nunca se vende como algo que não é. Mesmo que force referências ao cinema de John Hughes ("Clube dos Cinco" é a inspiração da autora do livro) em citação até direta, a série assume o tom sério até em seus momentos mais ridículos, com uma comicidade quase involuntária, como na prisão de um suspeito em cena que parece saída diretamente de “Murderville”, também da Netflix. A atuação da polícia é risível pela incompetência e pelas práticas dos investigadores, que acreditam piamente em provas que aparecem convenientemente, sem investigação alguma.

“Um de Nós Está Mentindo” é aquele tipo de narrativa em que há sempre alguém escutando ou observando, um recurso preguiçoso para colocar o roteiro em movimento. Da mesma forma, todos os planos incluem em roubar celular, computador ou outro dispositivo para checar se a pessoa é inocente ou não - curiosamente, as senhas e os bloqueios só existem quando o roteiro precisa deles para criar alguma tensão.

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Série "Um de Nós Está Mentindo", da Netflix. Crédito: Peacock/Divulgação

Falta ao suspense lançado no Brasil pela Netflix atenção a alguns detalhes, como um olho roxo milagrosamente curado de um dia para o outro, e até mesmo um casting mais cuidadoso, pois boa parte dos atores têm mais de 25 anos, alguns quase 30, e aparentam as respectivas idades, sendo difícil comprar a ideia de ainda estarem no colegial. Apesar disso, o texto tem boas abordagens para questões de sexualidade e relacionamentos abusivos, tendo o tema central como faísca para o desenvolvimento de alguns personagens.

Caminhando perigosamente sobre a linha que separa o “whodunit” de um episódio de “Scooby-Doo”, “Um de Nós Está Mentindo” é eficaz como um suspense adolescente e tem boas ideias, mas peca na execução da maioria delas, o que resulta em uma série com atrativos, mas com desenvolvimento preguiçoso. O final deixa um gancho gigante, mas pelo menos uma segunda temporada já foi confirmada pela Peacock.

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