Em “Um Match Surpresa”, filme natalino lançado pela Netflix em 2021, um jovem conquista uma mulher após se passar por outra pessoa em um aplicativo de relacionamentos. Após muita confusão e a descoberta do “verdadeiro amor”, os dois acabam juntos. O filme é divertido, combina com a época do ano, mas deixa a mensagem de que a mentira é premiada. “Um Natal Cheio de Graça”, lançado nesta semana pela Netflix, tem mensagem parecida e uma inversão de valores no terceiro ato que acaba sendo necessária para o filme chegar aonde quer, mas que, tal qual no filme do ano passado, premia a mentira.
Dirigido por Pedro Antônio Paes, do bom “Altas Expectativas” e de vários programas do Multishow, “Um Natal Cheio de Graça” tem início em 23 de dezembro, quando Carlinhos (Sérgio Malheiros) sai estressado do trabalho para pedir a namorada em casamento. Chegando lá, no entanto, ele a encontra com outra mulher. Desnorteado, ele tenta sair correndo do prédio e encontra Graça (GKay) precisando de ajuda - a paraibana resolveu curtir sua escala no Rio de Janeiro antes de voar para Aspen para curtir o Natal com sua família.
Após o inevitável encontrão que acaba com ele caindo por cima dela no meio da rua, surge a ideia: como Carlinhos não quer ir sozinho às festas natalinas de sua tradicionalíssima (e milionária) família carioca e Graça não tem onde passar o Natal, por que eles não fingem ser namorados durante as festas?
Toda a dinâmica de “Um Natal Cheio de Graça” se resume aos costumes, ao contraste de uma família tradicional do Rio de Janeiro, os Bragança-Salles, com os hábitos nada tradicionais de Graça. O estereótipo da nordestina desbocada e sem modos, mas de bom coração, incomoda a princípio, mas deve ser ressaltado que é exatamente esse o perfil vendido por Gkay, ao redor de quem o filme funciona.
A atriz/influenciadora é a justificativa do filme para existir, com uma metralhadora de piadas que nem sempre funcionam, mas que garantem ao filme um ritmo acelerado. Como novo elemento naquele ambiente, Clara modifica a vida de todos a seu redor (em um dia) e, como uma apaixonada pelo Natal, lembra aquelas pessoas do que realmente importa na vida.
O filme surpreendentemente ainda consegue ser sutil em alguns arcos, como na sexualidade de outra personagem, que é apenas insinuado, mas, na maior parte do tempo, é bem direto, ou seja, pessoas consumidas pelo dinheiro recuperam suas essências antes enterradas pela ânsia capitalista.
“Um Natal Cheio de Graça” tem algumas piadas engraçadas e alguns coadjuvantes interessantes - Marianna Armellini, Noemia Oliveira e Flavia Reis rendem bons momentos. Para dialogar ainda mais com a geração da Netflix, o texto ainda tem Diogo Defante em uma participação até maior do que o necessário, mas, preso ao roteiro, ele passa quase despercebido.
A oferta de filmes natalinos nas plataformas de streaming é gigante, com alguns constrangedores e outros um pouco melhores. Em meio à multidão, “Um Natal Cheio de Graça” garante algumas risadas por brincar com a sociedade brasileira e os costumes da “família tradicional”. Assim, mesmo que a virada no fim seja preguiçosa e ruim, premiando a mentira de um personagem, o filme é um bom passatempo para quem não busca nada além disso.
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