Filme que para nós, brasileiro, tem a alcunha de “Clássico da Sessão da Tarde”, “Um Príncipe em Nova York”, de John Landis, funciona como uma história de Cinderella às avessas. O príncipe africano Akeem (Eddie Murphy), da fictícia nação de Zamunda, vai a Nova York atrás de um amor. Lá, fingindo não ser parte da realeza, conhece outro mundo e uma mulher que o ama pelo que ele realmente é, e não por seu dinheiro ou poder.
O filme é um clássico, com atuações divertidíssimas de Eddie Murphy e Arsenio Hall, e não à toa ocupa espaço nos corações nostálgicos de quem viveu aquela época. Incapaz de deixar algo legal (e possivelmente rentável) descansar, a indústria resgatou o príncipe Akeem de Eddie Murphy para “Um Príncipe em Nova York 2”, lançado nesta sexta (5) pela Amazon Prime Video.
Dirigido por Craig Brewer (do ótimo “Meu Nome é Dolemite”), “Um Príncipe em Nova York 2” faz a escolha ousada de não tentar reiniciar tudo, repetir situações e dar início a uma nova franquia. Ao invés disso, o filme é uma continuação do clássico oitentista e se sustenta praticamente todo sobre o filme lançado há 33 anos - inclusive com muitas cenas para buscar a memória afetiva de quem não quiser rever o clássico de John Landis antes de assistir a sua continuação.
Na trama, Akeem, agora rei de Zamunda, descobre que tem um filho perdido nos EUA, fruto de suas aventuras por lá no filme de 1988. Pai de três mulheres, Akeem precisa de um filho homem para dar prosseguimento ao legado de sua família, pois em Zamunda, mulheres não podem assumir o trono, mesmo que estejam preparadíssimas para isso. É a tradição. Além disso, Zamunda está ameaçada pelo país vizinho, comandado pelo caricato General Izzi (Wesley Snipes).
É curioso que a ida a Nova York desta vez seja tão breve. Akeem e Semmi (Arsenio Hall) chegam lá, encontram velhos amigos e, num passe de mágica, estão diante de LaVelle (Jermaine Fowler), o tal filho bastardo. Basta um novo piscar de olhos para que LaVelle e sua mãe, Mary (Leslie Jones), estejam no palácio de Akeem em Zamunda. O conflito agora é o oposto, é um jovem nova-iorquino vivendo os costumes e os luxos de príncipe africano. Por mais que esse arco renda alguns momentos, não é nada especial apesar do esforço do carismático Fowler.
Como dito antes, “Um Príncipe em Nova York 2” depende muito do primeiro filme e presta reverência a ele, mas infelizmente não mantém o mesmo nível de qualidade. Enquanto o Eddie Murphy dos anos 1980 era talvez o grande astro das comédias de Hollywood naquele momento, mais de três décadas depois, Murphy ainda é merecidamente mais lembrado pelos filmes que fez naquela época do que por tudo o que fez depois, e talvez seja justamente esse conflito de dois Eddie Murphy o problema do novo filme.
“Um Príncipe em Nova York 2” mira no Eddie Murphy dos clássicos oitentistas, mas acerta mesmo é em tudo o que o ator fez nas décadas seguintes. Não há em “Um Príncipe em Nova York 2” a ingenuidade divertida do primeiro filme, mesmo que a mensagem que queira passar ainda seja a mesma.
O roteiro, ciente do tempo que separa os dois filmes, tenta se adequar com piadas sobre as mudanças sociais, sobre o que “não se pode fazer com mulheres hoje” e até mesmo sobre a necessidade de continuações de filmes clássicos, mas tudo parece não passar de um mea culpa. Ainda, o texto atropela alguns relacionamentos e algumas situações, resolvendo-as com muita rapidez sem que tenhamos comprado a ideia daquelas relações.
“Um Príncipe em Nova York 2” se sustenta basicamente na nostalgia. Ao invés de pensar novos personagens e situações, o texto traz de volta vários personagens do filme original - o trio da barbearia no Queens, a lanchonete McDowell, o Reverendo Brown, a ex-noiva de Akeem (ainda latindo)… Seria interessante ter novos personagens na nova trama. Das novidades, quem se destaca, além de Fowler, é Tracy Morgan, que vive um tio do novo príncipe.
Resta pouco do Akeem do filme de 1988, assim como resta pouco do Eddie Murphy da década de 1980. Assim, quem consegue divertir no filme são os já citados Tracy Morgan, Leslie Jones e Arsenio Hall. Murphy se esforça e até se sai bem quando interpreta personagens sob pesada maquiagem. Ele e Hall interpretam três personagens cada - alguns funcionam, outros são apenas piadas de mau gosto.
Ao fim, “Um Príncipe em Nova York 2” não chega aos pés do filme original. É um filme de nostalgia, com um humor datado e sem o encanto do clássico oitentista. O lançamento da Amazon Prime Video até cria algumas boas situações, mas pouco as explora. Uma comédia morna, caricata e desnecessária.
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