“Upload” foi lançada pelo Prime Video no início da pandemia, quando a recomendação ainda era o isolamento social e a ideia de enviar nossa consciência para algum outro lugar parecia muito boa. Criada por Greg Daniels, o que conferia à série a grife “dos criadores de ‘The Office’”, a comédia questionava a existência e as práticas capitalistas, mas era uma otimista história de amor. A questão acerca da série era até onde seria possível levar aquela trama quando o fator novidade temática não mais estivesse na equação.
O final da primeira temporada já trazia algumas possibilidades, com a presença de rebeldes anti-tecnologia no mundo real, o que acabou sendo aprofundado pela segunda leva de episódios, que tem um final surpreendente e um gancho que impossibilita que a nova temporada seja ignorada.
Em sua terceira temporada, que chega dia 20 de outubro ao Prime Video, “Upload” continua ótima, mas não permanece no mesmo lugar. A série segue com diversos elementos de histórias de amor, até mesmo de comédias românticas, no relacionamento de Nathan (Robbie Amell) e Nora (Andy Allo), mas busca ampliar o escopo da trama. A tentativa é bom ressaltar, requer cuidados – “Westworld”, por exemplo, não permaneceu no gosto do público ao expandir para o mundo fora da simulação; mesmo sendo séries diferentes, há uma lição a ser entendida.
“Upload” agora lida muito mais com a vida fora de Lakeview, com Nathan deixando de ser um upload e se tornando um download, talvez o primeiro bem-sucedido, o que representa a possibilidade de uma relação “real” com Nora, mas também alguns riscos. Primeiro, o que uma indústria que lucra horrores com a “vida eterna” dos uploads vai achar da possibilidade de downloads? Ainda, como vimos na temporada passada, ser um download oferece riscos literalmente explosivos.
A nova dinâmica é bem-vinda, mas o texto não abandona Lakeview, apenas o deixa a cargo de Luke (Kevin Bigley), que ganha um arco próprio enquanto outros personagens como Aleesha (Zainab Johnson) e Ingrid (Allegra Edwards) transitam em diferentes núcleos. Durante algum tempo, a terceira temporada de “Upload” parece sem foco, sempre divertida e nunca cansativa, mas sem foco. É na segunda metade, a partir do quinto episódio, que o roteiro entrega uma boa virada e a série ganha um rumo certo.
Essa falta de ritmo na temporada é sentida na reta final, como entre os episódios seis e sete, por exemplo, quando parece termos perdido algo. A princípio, parece um recurso narrativo para confundir, mas não é, o texto apenas não explora o gancho deixado pelo episódio anterior e deixa o preenchimento de lacunas a cargo do espectador. Ainda, a temporada deixa muitos acontecimentos para o episódio final, o que não é uma boa ideia em uma série com episódios de curta duração. O resultado é um episódio cheio de momentos importantes, mas um tanto atropelado, com arcos que poderiam sem mais bem explorados em dois episódios.
Nada disso, claro, compromete “Upload”. A série continua ótima, com um texto debochado e absurdo, cheio de críticas às práticas predatórias do capitalismo e agora abraçando ainda mais a inteligência artificial em um arco pequeno e engraçado, que se encaixa na trama principal no momento certo. A série também funciona como uma boa história de amor e talvez tenha nisso seu grande charme, uma relação cheia de obstáculos, mas com envolvidos dispostos a superar tudo para vivê-la. Mais uma vez, a série deixa um gancho para uma nova temporada, o que pode ser frustrante, mas também indica novos rumos e possibilidades caso a Amazon renove a série.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.