A jovem escritora valenciana Elísabet Benavent é um fenômeno na Europa, principalmente na Espanha e em Portugal. Em 2013, ela lançou digitalmente o livro “En Los Zapatos de Valeria” (sem lançamento pelo Brasil) e viralizou em sua terra natal - logo uma editora lançou os escritos em formato físico, foi o início da saga de Valeria, protagonista da trama que já se estende por cinco livros com mais de dois milhões de exemplares vendidos em 10 países.
Nosso desconhecimento sobre a autora em solo brasileiro é a única coisa que justifica a total falta de empolgação com a adaptação de das desventuras de Valéria para um seriado da Netflix. Disponível a partir de sexta-feira (8) na plataforma de streaming, a série propriamente intitulada "Valéria" tem oito episódios para contar as histórias não só da protagonista que dá título ao programa, mas de um grupo de amigas com trinta e poucos anos lidando problemas pessoais, profissionais e… sexuais.
Sim, a premissa é basicamente a mesma de “Sex And The City”, impressão ainda reforçada pelo fato de Valéria (Diana Gómez) ser uma escritora com bloqueio criativo. As semelhanças, porém, vão ficando pelo caminho. “Valéria” é mais moderna, ensolarada e mais “gente como a gente”. Sai o ambiente basicamente urbano da Nova York habitada por Carrie Bradshaw e suas amigas e entra uma Madrid ensolarada e cheia de latinidade.
Sem o glamour nova-iorquino, a série aposta em protagonistas com os pés no chão e ainda em busca de identidade. É um texto escruto por uma millennial para millennials; saem cosmopolitans e entram as cervejas baratas; as grandes festas dão lugar a baladas em casa e em “inferninhos”- a definição do que é “legal” mudou muito nessas mais de duas décadas.
Nesse cenário, tanto Valéria quanto suas amigas Lola (Silma López), Nerea (Teresa Riott) e Paula Mlia (Carmen) lutam para alcançar o protagonismo social que Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte já tinham quando a série da HBO começou.
Em “Valéria”, o sexo também deixa de ser um protagonista. Não que ele não exista ou que a série seja pudica, nada disso, a série é, inclusive, bem sexy, mas ele (o sexo) apenas deixa de ser (em parte) a força motriz da história. A trama gira em torno das relações entre as amigas e das idas e vindas da amizade delas, e também se expande para seus relacionamentos amorosos e familiares.
“Valéria” traz um recorte social de pessoas descoladas, de uma Espanha jovem e efervescente, para dialogar diretamente com jovens e adultos crescidos nos anos 90 e 2000. Elísabet Benavent, que serve como consultora na série, diz escrever diretamente para o jovem adulto “perdido”, que não estuda, não trabalha, mora com os pais e não sabe ao certo o que fazer da vida. Sua criação, como ela mesma diz e este texto já deixou claro, tem muito de “Sex and the City” em sua essência, mas Valéria, a protagonista, tem muito de Bridget Jones.
Nos oito episódios que têm duração entre 30 e 40 minutos, acompanhamos o processo da escritora em busca de inspiração para a escrita ao mesmo tempo em que vemos seu casamento ruir e novos interesses surgirem; realidade e ficção se confundem na busca de Valéria por escrever algo de que realmente entenda.
A série é um retrato geracional de pessoas inseguras, que não sabem ao certo como expressar seus sentimentos ou sustentar relações, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais, tudo é líquido. O texto pode receber críticas por sua falta de diversidade - por mais que a série tenha personagens héteros, gays, trans, não-binários, etc., praticamente todos são brancos, magros e dentro do que se habitou a chamar de bonito. Talvez essa seja a Madrid privilegiada da autora, ou talvez seja assim que boa parte dos millennials veja o mundo dentro de suas bolhas.
“Valéria”, a série, é divertida e sexy mesmo com seus altos e baixos. As personagens, em um primeiro momento encantadoras e envolventes, por vezes se tornam irritantes em suas inseguranças que causam idas e vindas vazias do roteiro. Valéria, a personagem, e suas amigas são reais, com todas as indecisões e paranoias que rondam a idade. Como disse no parágrafo anterior, trata-se de um retrato geracional, um recorte de uma geração cheia de incertezas que devem despertar identificação imediata com uma audiência enorme entre o público entre os 20 e os 40 anos.
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