Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Velozes e Furiosos 9" é um delicioso festival de absurdos

Nono filme da franquia "Velozes e Furiosos" chega às telas e ainda diverte, mas por quanto tempo mais a fórmula pode se sustentar?

Vitória
Publicado em 22/06/2021 às 23h14
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Filme "Velozes e Furiosos 9". Crédito: Universal/Divulgação

Duas perguntas básicas são feitas sempre que um novo “Velozes e Furiosos” chega às telas: “até quando?” e “até onde?”. A surpreendentemente longeva franquia teve início como um “car porn” com pegada policial, foi uma das primeiras a se aventurar pelo mercado asiático, se reinventou como uma franquia de ação e passou a caminhar lado a lado aos filmes de super-heróis, devendo, inclusive ser consumida como tais. Chegamos, então, ao ponto das linhas que abrem este texto. Afinal, até onde e até quando pode ir a franquia?

“Velozes e Furiosos 9” foi um dos filmes de estreia muito afetada pela pandemia. A nona parte das espetaculosas aventuras de Dominic Toretto (Vin Diesel) e cia. chegaria aos cinemas em maio de 2020, mas obviamente foi segurado até agora. Com 145 minutos de duração (sim, quase duas horas e meia), “Velozes e Furiosos 9” chega aos cinemas brasileiros que ensaiam uma retomada ainda cercada de desconfiança do público.

O filme tem início como alguns outros, com Dominic e Letty (Michelle Rodriguez) vivendo uma vida discreta, longe dos holofotes. Após uma misteriosa mensagem, é hora de juntar toda a trupe de volta para salvar o mundo ou algo do tipo. Assim, não demora para Dom e Letty estarem reunidos com Roman (Tyrese Gibson), Tej (Ludacris), Ramsey (Nathalie Emmanuel) e Mia (Jordana Brewster, de volta à franquia). Não demora e eles já estão em carros superequipados no meio de região de floresta para as primeiras cenas absurdas. É disso, afinal, que vive a franquia.

É curioso, quase engraçado, perceber como o filme ensaia, a essa altura do campeonato, uma jornada do herói para Dom - Vin Diesel recupera o protagonismo exclusivo após as saídas de Dwayne “The Rock” Johnson e Jason Statham da franquia principal, mas continua o mesmo canastrão de sempre. Por isso, Dom ganha flashbacks explicativos sobre a relação dele com o irmão, Jacob (John Cena), o novo vilão trabalhando junto a Cipher (Charlize Theron) para recuperar um artefato capaz de destruir o mundo. Nada como uma rivalidade entre irmãos e uma ameaça de mundo destruído para movimentar o texto…

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Filme "Velozes e Furiosos 9". Crédito: Universal/Divulgação

“Velozes e Furiosos 9” tem o retorno do diretor Justin Lin, um dos responsáveis pela reinvenção da série após dirigir quatro filmes, do terceiro ao sexto. Lin, que também assina o roteiro, tem noção plena de que tudo precisa ser maior e mais impressionante do que nos filmes anteriores. Assim, o filme dá adeus a qualquer lógica e abraça ainda mais o universo de super-heróis que criou.

A influência desse universo é tamanha que “Velozes e Furiosos 9” abraça características dos quadrinhos, como o irmão nunca antes citado que aparece de repente como um mega vilão ou a volta de um personagem dado como morto - Han (Sung Kang) retorna com uma história esdrúxula sobre o que aconteceu. Esse retorno serve também para aliviar a barra de Deckard Shaw (Jason Statham), ex-vilão transformado em mocinho e agora até com um filme próprio ao lado de Hobbs (Dwayne Johnson).

Os absurdos do roteiro viram piadas para os próprios personagens. É bom ressaltar que apesar de toda pose sisuda de Dom Toretto, “Velozes e Furiosos” copia também a fórmula de comédia de grandes blockbusters de sucesso; o humor fica por conta do elenco de apoio. Tudo no filme de Justin Lin pode ser compreendido como uma autossátira, das inacreditáveis cenas de ação que culminam no clímax hiperbólico e, a seu modo, delicioso. Lin abusa das frases de efeito, do melodrama barato e dos enquadramentos que reforçam a transformação de seus personagens em marcas.

Assim, Lin constrói o antagonismo entre Dom e Jacob com calma, entre uma ou outra cena de ação. Quando os dois finalmente se veem em conflito, já entendemos o que há ali, o que move aquela rivalidade. Falar de desenvolvimento de personagem em um “Velozes e Furiosos” me soa quase tão absurdo quanto a inexistência da gravidade nos filmes, mas é o que acontece.

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Filme "Velozes e Furiosos 9". Crédito: Universal/Divulgação

“Velozes e Furiosos 9” é um espetáculo de diversão, mas não é para todos. Se algum fã da franquia ainda sonha com o foco em pegas de carros tunados, esqueça. O que importa agora são efeitos visuais, cenários grandiosos e imaginar maneiras de se superar a cada novo filme - é por isso, inclusive, que o uso excessivo de efeitos computadorizados se tornou um grande problema.

Justin Lin sabe o que é necessário para fazer um “Velozes e Furiosos” e entrega justamente o que se espera de um novo filme: uma aventura global, com cada localidade sendo filmada com excelência (contribuição do diretor de fotografia Stephen F. Windon). “Velozes e Furiosos 9” é um filme de excessos que recupera um pouco aspecto lúdico da série, mas nos faz questionar, mais uma vez, até onde a franquia pode chegar? Sim, há um desgaste da fórmula e dos personagens, mas com dois novos filmes já confirmados (teremos no mínimo até o 11) e o sucesso também de “Hobbs & Shaw”, é difícil ver o necessário ponto final para o universo que se mantém em alta desde sua reinvenção, há quase 15 anos. Um feito para poucos em uma indústria que nem sempre oferece uma segunda chance.

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