É fácil entender o hype em cima de “Vermelho, Branco & Sangue Azul”, comédia romântica da Amazon Prime Video que teve ampla campanha de divulgação em redes sociais como o Twitter e o TikTok, plataformas em que o livro homônimo de Casey McQuiston já era popular. O filme, dirigido pelo estreante Matthew López, é uma comédia romântica como tantas outras, com referência a Jane Austen, rivais que se tornam amantes e segredos, mas tem uma diferença: os protagonistas são o filho da presidente dos EUA e um príncipe inglês.
O filme tem início no casamento do príncipe Phillip (Thomas Flynn), primeiro na linha de sucessão do trono inglês. É lá que conhecemos o outro príncipe, Henry (Nicholas Galitzine, de “Continência ao Amor”), o queridinho da coroa, um jovem bonito, carismático e adorado pelo povo britânico. Lá também conhecemos Alex Claremont-Diaz (Taylor Zakhar Perez, de “Cabine do Beijo”), filho da presidenta americana vivida por Uma Thurman, um jovem charmoso que sabe viver a vida.
O primeiro contato entre eles não é dos mais amigáveis e resulta em um incidente internacional na festa de casamento. É justamente quando as famílias decidem aproximar os dois jovens para resolver tal incidente que eles se tornam íntimos, primeiro como amigos, trocando provocações e memes em uma relação já cheia de flerte, e, depois, como amantes. Não é difícil imaginar o caminho que o filme segue a partir daí.
“Vermelho, Branco & Sangue Azul” sofre com a superficialidade do material original, livro de estreia de McQuinston, mas tenta compensar em outros aspectos. O texto, uma estrutura convencional e conservadora, mas num contexto moderno, oferece conforto ao espectador enquanto traz pequenas surpresas nos detalhes. O filme tem uma presidenta dos EUA progressista natural de um estado conservador; o filme tem também uma primeira-ministra inglesa negra e nunca faz disso seus conflitos.
A sexualidade de Henry e Adam também não chega a ser o foco principal, que tem mais a dizer sobre o conservadorismo e a preocupação com as aparências da família real britânica do que com qualquer outra coisa. O filme entende o mundo atual e discute, de forma simples, mas assertiva, o direito à privacidade, de não ter sua vida pessoal exposta ou de não precisar ser “tirado do armário” à força. O roteiro também se esforça em construir Alex e sua família como parte da "classe trabalhadora" estadunidense, mesmo que seu pai seja deputado e a mãe, presidente; essa construção serve em oposição à família real que, de certa forma, é a vilã do filme.
“Vermelho, Branco & Sangue Azul” se sustenta no carisma e na química de Nicholas Galitzine e Taylor Zakhar Perez. Os dois funcionam muito bem juntos e fazem com que o público goste de Henry e Alex. Uma adaptação bem fiel ao livro, o filme é muito bom na construção da relação, do flerte inadequado, do não saber se o sentimento é recíproco. O filme também funciona no que tornou os livros populares, as cenas mais “quentes”. Não há nada explícito além de uma bunda aqui e outra acolá, mas a câmera não se esforça para esconder os dois se beijando e se pegando, deixando claro tudo o que rolou mesmo que a gente não tenha de fato assistido.
Dito tudo isso, todo pano de fundo é inócuo. “Vermelho, Branco & Sangue Azul” lida com o processo de reeleição da mãe de Alex apenas para dar mais peso ao personagem. O texto desperdiça suas ousadias e não faria diferença alguma se o presidente fosse um homem. Da mesma forma, a família real representa o atraso, o conservadorismo em questões já superadas. Os coadjuvantes deste arco se distinguem entre as mulheres progressistas e os homens conservadores preocupados com a imagem, nenhum deles desperta o menor interesse no público – é compreensível a escolha de manter o foco nos protagonistas, mas o filme talvez fizesse bom proveito de menos personagens mais bem trabalhados.
Ao fim, “Vermelho, Branco & Sangue Azul” é uma comédia romântica LGBTQIA+ convencional, um filme que outrora seria protagonizado por um casal de personagens heteronormativos e viraria um filme conforto para muitos. O lançamento da Amazon é interessante ao normalizar a sexualidade de seus personagens e não buscar o confronto, pelo contrário, o filme é extremamente confortável, daqueles que oferecem um sorriso no rosto um coração aquecido ao final. Passa longe de ser perfeito, com uma direção quase amadora em alguns momentos, mas é otimista e alto astral, o que às vezes basta.
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