“The Boys” é um fenômeno com jornada curiosa. A série da Amazon Prime Video soube levar para as telas a nem muito boa HQ de Garth Ennis, extraindo o que funcionava e o que não funcionava nas páginas, e entregando um produto pop muito eficiente. Violenta, exagerada, fantasiosa e divertida, a série consegue agradar diferentes tipos de fãs; os fãs de heróis gostam porque tem heróis, quem está saturado de Marvel e afins entende tudo como uma sátira; da mesma forma, a série agrada alguns pelas figuras masculinas imponentes, e a outros por entender que o texto ridiculariza essas figuras.
Em três temporadas, “The Boys” criou várias sequências de impressionante apelo gráfico, bons personagens e sempre teve potencial de viralizar. Tudo isso até fez com que o público relevasse alguns problemas da série, como o fato de ela pouco caminhar entre uma temporada e outra, mas isso é apenas um detalhe.
Para aproveitar esse sucesso, o Prime Video lança nesta quinta (28), às 21h, “Gen V”, um derivado de “The Boys”. Nos três primeiros episódios, que chegam juntos à plataforma, “Gen V” é excelente ao explorar o universo de “The Boys” e se aprofundar nele ao mesmo tempo em que se afasta da série principal.
A protagonista é Marie (Jaz Sinclair), uma jovem órfã determinada a usar seus perigosos poderes para se tornar uma heroína. É através dela, do olhar de uma novata, que entendemos a dinâmica e as regras do novo ambiente, a universidade de Goldokin, um berço para “futuros super-heróis” e um local onde jovens podem desenvolver suas habilidades adquiridas a partir de experimentos. Marie e seus colegas são a primeira geração de heróis a saber, de fato, que seus poderes não são naturais, ou seja, que eles não foram “escolhidos”, mas sim frutos do composto V. Assim, as suas concepções sobre o mundo da Vought, de heróis e estrelas de cinema, são bem diferentes das que nos acostumamos a ver em “The Boys”; o deslumbramento existe, claro, mas eles têm plena ciência disso, é quase uma escolha, uma carreira.
“Gen V” desde o início tem uma identidade própria. Com jovens bonitos e poderosos em tela, a série brinca muito com a tensão sexual, dando à narrativa ares de comédias adolescentes, mas com algo a mais, o fator do inusitado. Em meio a este cenário, Marie e os outros jovens percebem haver algo estranho acontecendo no campus. O primeiro episódio organiza as peças de maneira nem sempre previsível e dá o tom: dali em diante, tudo é possível.
Um dos grandes méritos da série é expandir assuntos anteriormente tratados, e não repeti-los. “Gen V” explora a questão do composto V e sua utilização muito além do sugerido por “The Boys”. Enquanto a série principal tratava o assunto como pais “roubando” a infância de seus filhos por uma oportunidade, a nova série traz os jovens falando sobre os traumas a partir dos experimentos vividos por eles sem que tivessem escolhas. Esses relatos muitas vezes duros, como o de Jordan Li (Derek Luh e London Thor), trazem um tom diferente à série e até a afasta de uma parcela do público de “The Boys” – desde o início, a nova série preza pela não repetição.
Outro ponto que merece destaque é a criatividade dos autores com seus personagens. Há algumas habilidades já conhecidas, similares aos poderes clássicos de alguns X-Men, mas elas se encaixam de forma diferente na personalidade de cada jovem. O texto usa alguns estereótipos das comédias adolescentes e os mistura aos clichês de heróis para criar personagens complexos, poderosos, mas que se destacam pelo lado humano.
Em seus episódios de estreia, “Gen V” é uma série cheia de violência gráfica potencializada por uma rebeldia juvenil e uma pegada entre a sensualidade e a perversão – é uma narrativa deliciosamente subversiva que oferece muito pouco respiro ao espectador. Ao menos neste primeiro momento, a trama não depende de personagens de “The Boys”, fugindo da incômoda fórmula dos derivados de “Star Wars”, que insistem em aparições de personagens clássicos. Ainda assim, os acontecimentos da série devem se cruzar com o da vindoura quarta temporada da série principal, resta saber como tudo será feito.
“Gen V” obviamente tem um público alvo, os fãs de “The Boys”, mas a nova série tem força própria e pode ir além. Com foco diferente e esticando o limite de violência e absurdos, a trama pode atrair um público não necessariamente habituado às HQs ou a filmes e séries de super-heróis, além, claro, de quem já está saturado dessas histórias e busca algo com um certo frescor.
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