E aí? Você está pronto para voltar aos cinemas? Pergunto numa boa, sem fazer juízo sobre se deveríamos ou não nos manter em isolamento social. Na última semana, o Governo do Estado anunciou a possibilidade de reabertura das salas de cinema do ES com medidas sanitárias e ocupação de até 50% da lotação da sala. O Espírito Santo está entre as unidades da federação com os índices mais controlados da pandemia, e isso tem gerado um (justificado) otimismo em relação às reaberturas.
Vale ressaltar que apenas 10% dos municípios brasileiros reabriram suas salas - entre as capitais, Manaus, Fortaleza, Belém e Salvador. No Rio de Janeiro, uma situação curiosa: a prefeitura autorizou o funcionamento das salas no início do mês, mas não das lojas de bomboniere, ou seja, nada de pipoca. A resposta das empresas que controlam as salas foi forte, “sem pipoca, sem cinema”; pelo preço que custam as guloseimas ou até mesmo uma água nessas lojas, dá para imaginar que boa parte do faturamento vem dali e que ter um funcionamento para público reduzido e sem esse lucro extra torna a operação não muito lucrativa. Nunca foi sobre arte, cultura ou sobre dar uma opção de lazer à população em um ano tão combalido, sempre foi sobre lucro, e não há problema nisso, empresas têm que se sustentar.
Nos EUA, alguns Estados já estão com as salas de cinema reabertas, mas os resultados estão aquém do esperado. Lembra quando eu perguntei neste espaço se Christopher Nolan conseguiria salvar o ano de 2020 nos cinemas com “Tenet”? Pois é… parece que não. O filme de ação/ficção científica estreou no início de setembro nos EUA (uma semana antes em outros mercados) e até agora teve bilheteria modesta: apenas US$ 31 milhões no mercado americano. Mesmo indo bem em outros mercados como China (US$ 60 milhões) e Europa, no total “Tenet” fez US$ 251 milhões de bilheteria, valor um pouco superior aos custos de produção do filme. A expectativa é que, com a reabertura dos cinemas em outros países, o filme alcance cerca de US$ 400 milhões de bilheteria mundial, número que ainda o deixaria abaixo de “Bad Boys Para Sempre” e “Eight Hundred”, um lançamento chinês, entre os mais vistos do ano.
Em entrevista ao site “Vulture”, Jeff Bock, um renomado analista de bilheterias, afirmou que “esses números não eram o que a Warner esperava nem em um cenário ruim. Eles não estão felizes”. Bock completa dizendo, ainda, que o estúdio tem escondido e maquiado alguns números do filme. A esperança era de que sem outros grandes lançamentos, “Tenet” teria vida fácil nos cinemas, mas as sessões nos EUA têm sido vazias.
A prova de que a experiência não deu muito certo foi o fato de a Warner adiar “Mulher-Maravilha 1984” para o Natal, quando deve dividir espaço nas salas com “Duna”, do mesmo estúdio; isso, claro, se não adiarem novamente as estreias. Para “Duna”, nova adaptação do clássico romance de ficção científica, ter uma data de estreia ainda este ano faz sentido, pois a Warner quer que o filme chegue com força ao Oscar 2020. A aventura da super-heroína da DC, porém, é um filme que depende mais da força das bilheterias do que da credibilidade da Academia.
Outra aposta para o “pós-pandemia” (entre aspas porque ainda vivemos a pandemia) era “Mulan”, o filme com o selo Disney feito pensando no mercado asiático, mas que se tornou um grande fracasso nos reabertos cinemas da Ásia, com US$ 36 milhões na China e números baixos em todos outros mercados. Lançado num esquema de “premium video on demand” no serviço Disney+ nos EUA, o live-action sobre a heroína chinesa lucrou aproximadamente US$ 35 milhões até o final desta semana - para assistir ao filme era preciso ser assinante do serviço de streaming e ainda pagar US$ 30 adicionais. O teste não muito bem-sucedido fez a Disney jogar “Viúva Negra” para 2021; “Soul”, aguardada nova animação da Pixar, ainda tem estreia marcada para novembro, mas tem boas chances de ir direto para o streaming.
Voltando ao início do texto, é bom avisar que os cinemas reabertos não trarão grandes lançamentos tão cedo. A tendência, exceção feita a “Tenet”, com estreia programada para 15 de outubro, é que as distribuidoras apostem em filmes antigos de grande apelo popular e em alguns lançamentos encalhados, como “Magnatas do Crime”, de Guy Ritchie, filme lançado em janeiro nos EUA e há muito tempo já disponível em cópias ilegais.
Mais do que estar pronto ou não para voltar aos cinemas, a pergunta mais válida talvez seja: vale a pena ir aos cinemas? A resposta depende de cada um, mas você viu o que aconteceu com o Flamengo na semana que passou? Protocolo de segurança não é vacina, infelizmente.
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