Desde o início da década de 1960, com a deposição do ditador Fulgencio Batista e a ascensão de Fidal Castro ao poder de Cuba após a Revolução Cubana, os EUA resolveram bloquear totalmente o acesso à ilha, uma ameaça comunista crescente ao lado de casa e um país cada vez mais alinhado à então poderosíssima União Soviética. Os embargos foram cruéis para o desenvolvimento da ilha caribenha e custaram à economia cubana cerca de US$ 685 milhões por ano - curiosamente, os EUA gastaram, em média, quase cinco vezes esse valor por ano para manter a vigência do embargo.
Foi a partir de 1989, porém, que a situação apertou para Fidel e cia. A derrocada da antiga União Soviética resultou em uma crise devastadora em Cuba - as exportações caíram em mais de 60%, e as importações, em mais de 70%. O embargo causou uma escassez de suprimentos básicos e muita pobreza na ilha. Ele (o embargo) era tão duro que incluia até maneiras de punir empresas não-americanas que negociassem com o país dos Castro.
É nesse período temporal que se situa “Wasp Network: Rede de Espiões”, novo filme do francês Olivier Assayas (“Horas de Verão”, “Personal Shopper”) para a Netflix. O cineasta se cerca de nomes latinos famosos no mercado internacional para contar a história de desertores cubanos que chegam a Miami e passam a trabalhar para a Fundação Nacional Cubano-Americana. A FNCA cuidava de cubanos que chegavam à Flórida e organizava protestos contra os irmãos Castro; eles tinham seu próprio plano de poder e financiavam tudo com ligações com o tráfico de cocaína colombiana para os EUA.
Neste cenário, conhecemos René (Edgar Ramirez), um piloto cubano que rouba um avião e segue para os EUA deixando a esposa, Olga (Penélope Cruz) e a filha na ilha. Chegando lá, ele passa a entender como funcionam as engrenagens das operações de seus novos amigos. Pouco depois encontramos também Juan Pablo Roque (Wagner Moura), ex-militar cubano famoso por nadar até a base de Guantanamo para pedir asilo político. Nos EUA, era tratado como celebridade, tendo trabalhado tanto para o FBI quanto para a FNCA e se casado com a bela Ana Magarita (Ana de Armas) numa cerimônia luxuosa.
“Wasp Network”, como o subtítulo nacional sugere, é um filme de espiões e tem tudo o que o gênero pede. Há agentes duplos, traidores, espionagem e contraespionagem, tudo reunido de maneira eficaz por Assayas e potencializado pelo poder dos fatos, mas falta algo.
Com uma história que atravessa meia década, o roteiro se atropela em alguns momentos - personagens entram e saem da história sem grande impacto a não ser movimentar a narrativa. Algumas relações afetivas e de confiança também parecem apressadas e seriam melhor desenvolvidas com mais tempo ou com um recorte menos amplo. A verdade é que “Wasp Network” seria uma série incrível, mas tem problemas como filme.
O lado positivo é que Assayas entende o potencial do elenco que tem em mãos. Ao longo do filme, o espectador tem vontade de passar mais tempo com René, Olga, Juan Pablo e Ana; revivendo o par romântico de "Sérgio", também da Netflix, o brasileiro Wagner Moura e a cubana Ana de Armas são ótimos juntos, com muita química em tela e um entendimento no olhar. O cineasta francês se mostra plenamente ciente do carisma da atriz e a deixa desfilar pela tela. Como disse, a vontade seria passar mais tempo com os personagens, o que não acontece.
A partir da metade do filme, “Wasp Network” tem uma mudança de narrativa, ganha ares quase documentais, com algumas imagens de arquivo para reforçar que tudo o que se vê em tela realmente aconteceu, pelo menos uma versão daquilo. O roteiro, escrito por Assasyas com base no livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais, carece de tensão e força dramática para que o espectador pudesse se interessar mais pelos personagens e entender o sofrimento deles. Até os momentos de maior tensão são resolvidos com facilidade e rapidez. Falta tempo.
Ao fim, “Wasp Network” é um competente, mas confuso, thriller de espionagem. A história é ótima, as atuações também, mas Assayas perde a mão ao optar por incluir vários personagens em recortes rápidos, mas de pouca contextualização, impedindo que o espectador se importe com o que vê em tela - isso torna o filme quase um documentário em alguns momentos. Ao fim, é um filme que funciona ao tratar de política internacional, mas que carece de força dramática quando resolve se aventurar por amor ou por um ideais.
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