Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Wellmania" é uma ótima comédia sem hype na Netflix

Lançada sem alarde pela Netflix, "Wellmania" tem Celeste Barber como uma bem-sucedida jornalista que toma um susto e descobre que precisa cuidar da saúd

Vitória
Publicado em 30/03/2023 às 20h07
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Série "Wellmania", da Netflix. Crédito: Lisa Tomasetti / Netflix

De vez em quando, meio envergonhada e com pouca divulgação, a Netflix lança algumas pequenas pérolas. Foi o caso da ótima “Feel Good”, por exemplo, quase uma resposta da plataforma ao sucesso de “Fleabag” na concorrência. Estrelada por Celeste Barber, atriz australiana que ficou famosa imitando as poses de fotos de famosas no Instagram, “Wellmania” é a nova série meio deslocada entre os lançamentos da plataforma.

Barber vive Olivia "Liv", uma jornalista gastronômica bem-sucedida no disputado mercado editoral de Nova York e prestes a estrelar um reality gastronômico na TV. Para isso, porém, ela precisa furar sua bolha “jornalística” para a qual ninguém liga e alcançar o público que realmente importa para o sucesso de qualquer novidade, as redes sociais.

Quando encontramos Olívia pela primeira vez, ela está numa ambulância e acorda desesperada. Voltamos dois dias ao passado e a encontramos tendo relações com um homem que ela logo dispensa antes de ir a uma festa e emendar com uma viagem para sua terra natal, a Austrália, para o aniversário de sua melhor amiga, Amy (JJ Fong). Do outro lado do mundo, ela reencontra amigos e parentes, é furtada, usa drogas no banheiro de uma festa e acaba com problemas para voltar para os EUA, pois teve seu passaporte roubado.

A ideia do episódio inicial é clara: construir a protagonista como uma caótica mulher de 40 anos, afeita a substâncias ilícitas e com pouco compromisso no que diz respeito a relacionamentos. O conflito central de “Wellmania” é justamente obrigar Olivia a abandonar seu agitado estilo de vida para adotar uma rotina mais saudável e "condizente com uma pessoa da idade".

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Série "Wellmania", da Netflix. Crédito: Lisa Tomasetti / Netflix

É curioso, assim, que a série não tenha nesse conflito, na busca por saúde presente até no título, seu principal atrativo - “Wellmania” é muito melhor quando foca em questões como sucesso e o estresse da busca por ele. Baseada no livro homônimo de Brigid Delaney, a série lida com a geração de mulheres millennials que buscaram seus lugares na sociedade e empurram a fórceps o conceito de “lugar de mulher é onde ela quiser”.

Olivia é inicialmente difícil de se acompanhar; uma mulher às vezes arrogante, egoísta e com pouco apreço por tudo que não a envolva - uma caracterização que Hollywood por muito tempo guardou para personagens masculinos. Barber tem ótimo tempo de humor e também se sai bem quando o texto pede um humor mais físico, principalmente em todo o arco da busca pela saúde - é nesse arco, ainda, que o roteiro sutilmente se volta para as paródias que fizeram da atriz um fenômeno nas redes. 

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Celeste Barber em "Wellmania". Crédito: Lisa Tomasetti / Netflix

O que vemos em “Wellmania” é a desconstrução dessa mulher consumida pela rotina do trabalho, pela pressão do sucesso em uma posição na qual ela tem que se provar diariamente. Nesse processo, conhecemos melhor a protagonista à medida que ela se torna mais “simpática” ao espectador. O roteiro recorre a algumas muletas para esse desenvolvimento, como um trauma no passado de Olivia, recurso também utilizado em textos como os já citados “Fleabag” e “Feel Good”, além de outras obras como a ótima “I May Destroy You”, mas nunca parte para a artificialidade, pois é fácil comprar Liv da maneira como a série a vende.

Quando busca desenvolver os personagens que cercam a protagonista, principalmente Amy, “Wellmania” ganha em afeto e em possibilidades - ambas são jornalistas, vêm do mesmo cenário e se conhecem há muito tempo, por que, então, o caminho delas foi tão diferente, qual foi o ponto de cisão dessas jornadas?

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Alexander Hodge e Celeste Barber em "Wellmania". Crédito: Lisa Tomasetti / Netflix

Lançada como uma minissérie, “Wellmania” pode ser um pouco frustrante ao não entregar arcos definitivamente fechados. Muitos conflitos acabam sem uma solução satisfatória, inclusive o principal, em virtude do bom desenvolvimento de Liv e de outros personagens; ao invés de enxugar suas histórias (ou ter episódios mais longos), o texto sacrifica algumas histórias e subtramas introduzidas quando acha necessário.

O recorte da história de Olivia é ótimo para mostrar o caos de sua vida, o que era, o que se tornou e o que pode vir a ser. A confusão e o excesso de informação que o texto mostra em alguns momentos, talvez até de forma não intencional, funciona como a vida da protagonista. O resultado é uma narrativa curta (oito episódios de 25 minutos), ágil, divertida e bom bons momentos dramáticos. Mesmo sem ser brilhante e carecendo de um pouco mais de foco, “Wellmania” é ótima.

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