A realeza britânica é conhecida por todos. Sabe-se o nome da rainha, dos príncipes, de suas esposas e de seus herdeiros, todos celebridades do mundo pop sempre em capas de jornais que contam com setoristas para acompanhar cada um de seus passos como se fossem a coisa mais importante do mundo. Pouco importa que o que eles fazem ou deixam de fazer não tenha relevância alguma para a vida das pessoas fora do Reino Unido, a família real é um produto vida “The Crown”.
Em contrapartida, alguém conhece a família real da Suécia? Uma das mais antigas monarquias do mundo, com mais de 1000 anos, a Suécia tem uma realeza sem poder político algum e com funções apenas de celebrações e como representantes do país em encontros oficiais com líderes de outras nações. Isso não impede, porém, que os integrantes da família sejam parte de uma elite econômica no país e despertem o interesse da população.
“Young Royals”, série sueca da Netflix, oferece um mergulho fictício na estrutura da família real sueca. A série acompanha Wilhelm (Edvin Ryding), o filho mais novo da rainha sueca que, após se envolver em uma briga numa boate, é enviado para o internato em que seu irmão Erik (Ivar Forsling), o príncipe herdeiro, estudou quando mais novo.
Hillerska, a tal escola, é o lugar em que estudam os ilhos das famílias mais ricas e importantes do país, inclusive um primo de segundo grau de Wilhelm, August (Malte Gårdinger), o cara mais popular da escola e quem praticamente obriga o príncipe a participar de tudo o que ele faz parte - estar do lado do filho da rainha reforça em todos a lembrança de que August tem “sangue azul”.
A escola também conta com alguns estudantes de origem mais simples, como os irmãos Simon e Sara (Frida Argento). Por enxergar em Simon alguém tão deslocado quanto ele naquele ambiente, Wilhelm se aproxima do jovem e dessa amizade logo surge um interesse romântico contra o qual o príncipe luta.
“Young Royals” utiliza a descoberta de Wilhelm e seu envolvimento com outro jovem como arco dramático, mas não pesa a mão. O grande conflito da série é imaginar a impossibilidade do jovem príncipe viver como ele quer e ter que lidar com as expectativas de um país inteiro sem ter sido preparado para isso ou ter o carisma do irmão. Para muitos, um príncipe gay representaria o fim da linhagem herdeiros, o que não seria bem aceito pelo povo. “Ser príncipe não é um fardo, é um privilégio”, repete a rainha em momentos bem distintos da série.
Também acompanhamos algumas subtramas, como a de Sara se adaptando na escola e sua amizade com a popular Felice (Nikita Uggla) e a de um problema particular de August - todas, de alguma forma, se conectam à trama de WIlhelm no fim da primeira temporada. Com apenas seis episódios, o texto de “Young Royals” é bem conciso.
A série faz uma escolha interessante ao retratar adolescentes de forma realista. Em “Young Royals”, os jovens são inconsequentes, arrogantes e fingem segurança quando, na verdade, não fazem ideia do que estão fazendo. É curioso também como o texto foge dos estereótipos de padrões de beleza inalcançáveis; Wilhelm tem muitas espinhas e pele oleosa, August é desengonçado, Felice, a garota mais disputada da escola, não é magra, loira e de olhos claros, e isso não é um problema.
“Young Royals” também traz uma discussão de classes, mesmo que não seja no centro da narrativa. Os alunos mais antigos de Hillerska, uma suposta elite financeira sueca, chamam de “socialistas” a família de Simon, de ascendência hispânica, e não entendem a amizade do príncipe com ele - os alunos por diversas vezes usam expressões como “gente como eles” ou "gente como vocês" para se referir aos estudantes que moram nas redondezas e não vivem internados na escola.
É até irônico, assim, que August sinta inveja de Wilhelm por ele “querer ter tudo” quando o príncipe só quer dar vazão a seus sentimentos. Os herdeiros não escondem o desejo de manter o status quo inalterado e também não veem problema algum em usar outras pessoas para isso. Eles acreditam merecer mais por terem sobrenomes pomposos e famílias de tradições centenárias.
“Young Royals”, ao fim, é uma história de amor impossível e de descobertas, uma série sobre lidar com expectativas em um mundo de aparências em que tudo é falso. A série sueca tenta entender os adolescentes sem fetichizá-los ou enquadrá-los em estereótipos. O resultado é uma jornada comovente, tocante e muito bem escrita; uma série com sentimentos reais justamente ao se aproximar do que há de mais distante para uma pessoa comum, uma família real.
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