Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Your Honor", no Paramount+, é uma das melhores séries de 2021

Estrelada por Bryan Cranston, de "Breaking Bad", série "Your Honor" traz dilemas morais de um juiz que esconde um crime cometido por seu filho

Vitória
Publicado em 10/03/2021 às 01h31
Série
Série "Your Honor". Crédito: Skip Bolen/SHOWTIME

Considerada por muitos a melhor série já feita (não por mim), “Breaking Bad” não foi um sucesso instantâneo. A série criada por Vince Gilligan fez a ousada escolha por dois atores não muito conhecidos para seus papeis principais. A Sony e a AMC, produtoras da série, tinham ressalvas, inclusive, quando à escalação de Bryan Cranston, até então um ator conhecido por comédias, para o papel de Walter White - John Cusack e Matthew Broderick foram convidados, mas ambos recusaram.

O resultado é que Cranston deu vida a um dos personagens mais marcantes da cultura pop recente. Walter White é um sujeito de camadas, um cara comum, que se afunda nas escolhas e não consegue sair delas. Cranston registra bem as transformações de White, as nuances, os sentimentos conflituosos… Não à toa ele se tornou um ator cobiçado na indústria.

Em “Your Honor”, disponível no Paramount+ (dentro do Amazon Prime Video), Bryan Cranston vive o juiz Michael Desiato (o título faz referência a “vossa excelência”, expressão utilizada para se referir a magistrados), um dos caras bons de Nova Orleans, uma cidade que ainda sofre com a destruição causada pelo furacão Katrina, em 2005, acontecimento que tem papel importante, mesmo que nunca direto, em seu texto.

Após a morte da esposa, Michael passou a viver sozinho com o filho, Adam (Hunter Doohan). Um dia, no aniversário de morte de sua mãe, Adam atropela um jovem que morre após o acidente. Assustado, deixa o local da batida e vai para casa. Ao contar tudo para o pai, é levado à delegacia para se entregar.

O problema é que, chegando à delegacia, Michael descobre que o jovem morto é filho de Jimmy Baxter (Michael Stuhlbarg), um chefe do crime organizado na cidade. Se Adam se entregar, é bem provável que seja assassinado antes de ter um julgamento justo. Michael passa, então, a fazer de tudo para livrar a barra de Adam, mas isso envolve enganar a polícia e colegas de trabalho.

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Série "Your Honor". Crédito: Skip Bolen/SHOWTIME

“Your Honor” é construída na tensão que o espectador sente com as viradas de seu texto. Em seus 10 episódios, a série entrega diversas reviravoltas e tira proveito do ótimo elenco para que o público compre alguns absurdos. Cranston volta ao modo Walter White ao viver um sujeito se sacrificando por sua família e para esconder algumas verdades.

É impossível dissociar um papel do outro, principalmente pelas expressões faciais de Cranston e pela maneira como Michael se afunda nas mentiras criadas por ele mesmo, mas “Your Honor” independe disso para funcionar.

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Série "Your Honor". Crédito: Skip Bolen/SHOWTIME

O resto do elenco também é excelente, principalmente Hunter Doohan e Michael Stuhlbarg. O primeiro vive um adolescente às voltas com uma tragédia e é possível sentir sua dor e sua angústia. Durante o desenvolver da série, no entanto, é possível perceber também a arrogância adolescente de Adam de se considerar quase um imortal, de procurar o risco e fazer (várias) escolhas estúpidas. Um personagem irritante, mas que adolescente não o é?

Já Stuhlbarg é um ótimo vilão. Jimmy Baxter é um mafioso implacável, mas ainda assim desperta simpatia do público pela perda do filho. O ator constrói um personagem amargurado que só sente algum prazer na possibilidade de vingança pela morte de seu filho. O mesmo vale para Hope Davis, que vive, Gina, a esposa de Jimmy.

Um dos grandes apelos da série é o fato de ela estar sempre em movimento. Apesar dos episódios grandes, ela nunca parece arrastada - sempre há uma descoberta importante ou uma reviravolta no roteiro para manter tudo interessante. Tendo sida originalmente lançada com episódios semanais pelo canal Showtime, “Your Honor” tem bons ganchos ao final de cada um deles e sempre um conflito sendo criado ou solucionado.

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Série "Your Honor". Crédito: Skip Bolen/SHOWTIME

O roteiro encontra algumas saídas criativas, mas também aposta em outras que subestimam o espectador - ter ciência disso e não se importar tanto com essas escolhas narrativas é essencial para aproveitar melhor a série. Ainda assim, a experiência de assistir à série compensa pelos acontecimentos constantes.

“Your Honor” se beneficia do fato de ser uma minissérie para solucionar todos os conflitos que põe em pauta, mas deixa muita coisa para ser resolvida no episódio final. Assim, os últimos acontecimentos parecem um tanto atropelados e poderiam ter sido espalhados durante todo terceiro ato da série.

Ao fim, “Your Honor” é um ótimo e envolvente drama, com toques de thriller de tribunal e atuações excelentes. Michael Desiato lembra, sim, Walter White em vários momentos, mas essa relação conta mais a favor da série do que contra ela. Apenas como curiosidade, vale notar como a série, em sua reta final, começa a lidar com a pandemia em seu texto e até a utiliza como argumento.

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