Tudo muito lindo! Muito brilho, muita vida! Mas pouca gorda. Sim, não é ser chato, mas é necessário ocupar todos os lugares. Falamos todas as semanas sobre a importância de entendermos o corpo gordo como um corpo resiliente e existente, que precisa ser respeitado, e esse entendimento se estende a fazer parte de todo um contexto social, no sentido do "eu existo", logo "eu consumo", "eu trabalho", "eu me relaciono" e "eu também pulo carnaval".
Talvez você, ao ler o título desse texto, questione: “Mas por que precisa de uma pessoa gorda na avenida? Já estão “forçando a barra demais!” É simples. O carnaval é uma vitrine, a maior festa cultural de um país. Através de seus enredos e fantasias as escolas e seus integrantes manifestam suas crenças e opiniões políticas, e celebram suas homenagens! Não seria um cenário perfeito pra gente quebrar padrões? Não seria o cenário perfeito para celebrar, de fato, que o carnaval é uma festa democrática?
Então onde estão esses corpos? Eu tô falando de destaque! As campanhas midiáticas, as marcas e grandes empresas continuam se utilizando de inúmeros discursos de empoderamento, representatividade e empatia, mas acabam ganhando a confiança do público e sendo admiradas pelas massas. Mas quando o abre-alas entra na avenida, continuo vendo rainhas, madrinhas e musas de corpos esculpidos carregados de brilho e vaselina.
São maravilhosas? São! E merecem toda nossa admiração e respeito. Mas o “ Carnaval de Todos os Corpos” ainda não é uma realidade. Pra mim e pra muitas pessoas, principalmente mulheres, é muito importante olhar pra uma mulher na avenida esbanjando beleza e samba no pé, e enxergar que ela é como eu, como nós! É de suma importância que essa representatividade ocorra pra que a gente se sinta à vontade em fazer parte desses ambientes (que também nos pertencem) sem medo de julgamentos, discriminação e olhares.
Existem pessoas que não saem de casa pra curtir o carnaval de rua ou de avenida, porque, infelizmente, esses ambientes ainda são padronizados e relativamente opressores. É uma realidade. Não seria uma oportunidade enorme para uma escola quebrar esse preconceito, bater no peito e dizer: “Nosso carnaval, de fato, celebra todos os corpos”
O Espírito Santo é um dos Estados que mais celebra a cultura do corpo. Vitória é a cidade sol, a cidade saúde, e tem muito mais presença de corpos sarados. E quem sai da curva? A gente precisa parar de usar discursos de inclusão, e começar a incluir. E isso serve pra você, leitor, pras empresas, pras marcas. Isso serve também pras grandes organizações sociais. Isso vale pros donos do carnaval.
A gente quer destaque! Representatividade não é confeccionar fantasia grande e vender a X reais; compra quem quer e desfila quem pode. A gente quer que os olhares de repúdio se transformem em olhares humanos. Olhares de respeito, porque somos o que somos, e somos como todos.
Mas nem tudo está perdido! Nunca se viu tanta representatividade nos blocos. O “ Movimento Corpo Livre” tem sido uma verdade nas ruas no carnaval. Muitas mulheres gordas se empoderaram e saíram de suas casas, apostaram em seus looks e arrasaram nos blocos. Essa liberdade tem sido alcançada a cada dia, e não se pode voltar atrás. Que seja uma liberdade diária independentemente das fantasias, do brilho e das festas.
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Mas eu ainda espero ver no carnaval Capixaba, a beleza transcender todos os padrões! Uma rainha, uma musa, um carro, um enredo, não importa a forma que vier, mas que venha com verdade, com paixão, com orgulho. Gordas em destaque, seria lindo de ver.
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