A jornalista capixaba Denya Pandolfi, 46, que mora há 15 anos, em Florença, parou suas atividades de blogueira (ela é autora do "Grazie a te") e acompanhante turística devido à pandemia de coronavírus na Itália. "Só podemos sair para ir ao supermercado e à farmácia", diz a jornalista. "O Brasil está tendo condições de ver como está a Itália e com isso se precaver para enfrentar a questão. Isolamento domiciliar é imprescindível nesse momento. É preciso diminuir a curva de pessoas infectadas."
Como estão as coisas por aí?
Sensação de muita insegurança, as pessoas estão assustadas. Muitas perguntas em relação ao coronavírus ainda estão sem resposta. Estamos diante de uma questão nova, em que ainda não conhecemos bem o inimigo que estamos enfrentando.
Você tem saído de casa?
Não, de jeito nenhum. Até o próximo dia 3 de abril, toda a Itália está em quarentena. Os únicos lugares onde podemos ir é ao supermercado e à farmácia. Mesmo assim o governo pediu para limitarmos o máximo possível as saídas de casa. E quando saímos precisamos levar um documento - que podemos imprimir online - informando o motivo do deslocamento. As pessoas que não justificam a saída de casa quando são abordadas pelos vigilantes recebem uma multa de 206 euros.
Como tem sido em relação ao trabalho ?
Muito ruim. Não sabemos quando as coisas voltarão ao normal. Além de escrever o blog, trabalho com turismo. Eu organizo passeios privativos e tour temáticos aqui na Toscana. Todos os agendamentos para este ano foram cancelados.
E o estudo das crianças?
Tenho dois filhos, de 7 e 11 anos. Os professores estão enviando tarefas que estão sendo realizadas em casa.
Tem clima de pânico?
Pânico não, mas de insegurança. O clima está muito ruim. Eu ainda não saí de casa, mas meu marido e amigos me contaram que nos supermercados, por exemplo, as pessoas se olham de forma estranha, como se o próximo representasse uma ameaça.
Você sente medo?
Medo não, estou muito triste com o rumo que as coisas tomaram. De vez em quando assisto a alguns videos de médicos que estão combatendo nos hospitais, exaustos e incansáveis, pedindo para a população respeitar e não sair de casa. A luta agora é para diminuir o número de pessoas infectadas.
As ruas estão vazias?
Sim, está tudo parado. Restaurantes, bares, academias, escolas, cabeleireiros e lojas estão fechados. Muitas empresas acordaram com os colaboradores para trabalharem de casa. O "smart working" foi a solução encontrada para muitas empresas. Ninguém pode circular pelas ruas, a não ser para ir ao supermercado ou à farmácia. Não podemos visitar amigos e parentes. Os serviços de transporte estão funcionando, assim como as fábricas e indústrias, mas é preciso que as pessoas respeitem a distãncia de 1 metro entre elas, e essa mesma regra vale para todos os lugares onde podemos frequentar.
Algum evento cancelado?
Todos dos próximos meses, de todos os setores. Alguns eventos foram remarcados para junho, mas ainda è cedo para confirmar. Precisamos esperar mais um pouco para ver quando as coisas voltarão à normalidade.
O que teria para dizer pra quem está no Brasil?
A primeira coisa é não se deixar levar pelo pânico. É um momento de sermos racionais e seguirmos as orientações dos profissionais da saúde. Quando o vírus chegou aqui na Itália nós erramos. Todos nós subestimamos o problema. O vírus entrou em circulação no inverno, período onde é comum as pessoas griparem, talvez por esse motivo atitudes imediatas de precaução não foram tomadas. O Brasil, assim como muitos outros países, estão tendo condições de ver como está a Itália e com isso se precaver para enfrentar a questão. Isolamento domiciliar é imprescindível nesse momento. É preciso diminuir a curva de pessoas infectadas. O sistema de saúde aqui arrisca entrar em colapso caso o número de pessoas que precisam de internação supere a quantidade de leitos disponíveis nos hospitais. O vírus não é letal para a maioria das pessoas que o contraem, só que para algumas é necessário internação, pois precisam de aparelhos de respiração artificial. Idosos e pessoas com doenças pré-existentes, como diabéticos, hipertensos e pessoas com doenças respiratórias, são muito vulneráveis. Muitas pessoas que têm o vírus não apresentam sintomas. Precisamos olhar para o próximo e nos ajudarmos mutuamente, é preciso ter senso de responsabilidade e de coletividade. Cada um de nós precisa ser consciente do risco de contrair e/ou transmitir o vírus, que se propaga rapidamente. Isolamento domiciliar é muito importante momento, é um sacrifício que precisamos fazer para o bem de todos.
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