A fotógrafa e jornalista capixaba Thaissa Duarte, 37, vive desde outubro de 2011 na província de Quebec, em Montreal, Canadá. Casada com o também capixaba Renato Rebouças e mãe de três filhas, Lys (5 anos) e as gêmeas Luna e Maya (3 anos), ela enfrenta a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus clicando os momentos do isolamento da família. "E em meio do que poderia ser apenas caos, tem tanta beleza que eu não resisti e coloquei a máquina fotográfica para funcionar. Comecei a fazer registros de vídeo e de fotos de alguns momentos das crianças", conta.
Qual a sensação por ai?
As sensações foram mudando no decorrer do tempo e em relação a cada medida que foi sendo tomada pelo governo. Tudo foi muito rápido, num dia estávamos ouvindo as notícias sobre China. Depois Itália... e de repente as notícias eram sobre o Canada. A cada dia era (e é) uma nova orientação. Começamos com o fechamento das escolas, as pessoas foram trabalhar de casa, eu tive que cancelar as sessões de foto que tinha. Os supermercados ficaram lotados e o papel higiênico também acabou (como em muitos outros países, vai entender!). Nesse momento ficamos um pouco mais assustados e preocupados, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Hoje, vendo que o governo está em ação, fazendo a parte dele, nós estamos fazendo a nossa e estamos esperançosos. Tem dias mais tensos e dias mais calmos, claro. Mas no geral, seguimos em casa, e pensando a cada dia nas lições que podemos tirar desse momento em que estamos vivendo.
Você tem saído de casa?
Não. A gente segue a orientação do Governo Canadense e da Organização Mundial de Saúde, estamos em casa. E eu achei que esse seria, de fato, um dos maiores desafios da minha vida. Minhas filhas (Lys de 5 anos e Maya e Luna de 3 anos) têm muita energia e eu e meu marido não podemos contar com a ajuda de ninguém. Então sou eu e elas, o dia inteiro, a semana inteira, sem intervalo comercial! E a verdade é que, apesar dos momentos de estresses, eles não definem os nossos dias. Tem sido muito surreal, porque em meio ao caos e ao medo que uma pandemia pode causar, estamos tendo tempo para olhar para a nossa casa. Olhar para dentro, meditar e pensar em tudo que podemos melhorar nossa forma de viver. E, olhar para elas, as minhas filhas, é enxergar a doçura, a espontaneidade , a criatividade, a leveza e o amor. Tudo isso em sido muito inspirador... em meio ao que poderia ser apenas caos, tem tanta beleza que eu não resisti e coloquei a máquina fotográfica para funcionar. Comecei a fazer registros de vídeo e de fotos de alguns momentos das crianças. No fundo, já que temos que ficar em casa, estou encarando como um presente. Ganhamos de presente (mesmo que sem ter escolhido) o tempo. Tempo de olhar, de estar junto, de abraçar e de agradecer por estarmos bem e unidos. Tem sido um momento de muito crescimento espiritual e pessoal para mim. Tenho sentido também uma gratidão enorme pelos profissionais de saúde, pelas pessoas que continuam a trabalhar nos supermercados, pelos coletores de lixo, os motoristas dos ônibus... A gente se dá conta de muita coisa se sai da nossa bolha e enxerga que em volta da gente tem um mundo inteiro, não que a gente não soubesse... mas às vezes, na rotina do dia-a-dia, a gente não se dá mais conta
Como tem sido em relação ao trabalho/estudo?
Eu tenho ficado 100% do tempo com as crianças e meu marido está trabalhando de casa. As crianças estarão sem escola até 13 de abril (talvez mais). Resolvemos montar uma rotina para nos organizarmos, pela manhã, atividades de matemática e francês para a mais velha e atividades para ajudar no desenvolvimento motor e lógico para as mais novas, pintura, dança, teatro, massinha feita em casa... Tudo na medida do possível. Porque às vezes as coisas saem do controle e, eu estou aprendendo, que está tudo bem se isso.
Tem clima de pânico?
Não sinto pânico aqui. Sinto que as pessoas estão confiantes nas ações que estão sendo colocadas em prática para controlar a pandemia. Mas sinto um clima de angústia porque não sabemos o dia de amanhã, estamos literalmente vivendo um dia de cada vez.
Você está com medo?
Fico preocupada por não saber quanto tempo essa quarentena vai durar... fico muito triste quando vejo o número de mortes subindo aqui e em outros lugares no mundo. Quando penso no sentimento do medo, sinto que está mais relacionado ao que sinto em relação a minha família que está no Brasil onde as ações para conter o problema estão sendo muito pouco efetivas e, do ponto de vista, lentas.
E os eventos?
Todos que estavam previstos até 13 de abril e alguns até junho que incluíam artistas estrangeiros. No site do governo tem um aviso de que as fronteiras ficarão restritas até dia 30 de junho. Amigos que trabalham na área cultural (Montreal tem muitos festivais no verão, incluindo o Festival de Jazz de Montreal, Francopholie, Nuits d'Afrique et outros) já estão sentindo as consequências, todos esses eventos contam com artistas internacionais, eles ainda não foram cancelados, mas as expectativas não são boas.
O que teria a dizer pra quem está aqui ?
Fiquem em casa. Aproveite esse momento para adquirir hábitos mais saudáveis para si e para o planeta, estar com os seus filhos,fortalecer o comércio local e, mais uma vez, fique em casa.
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