A médica capixaba Stephanie Itala Rizk, 33 anos, não esconde os sinais de cansaço. "Não tive um dia de folga desde que tudo isso começou!", conta a cardiologista que está na linha de frente de combate ao coronavírus, desde meados de março. Formada na Emescam, atende pacientes com a Covid-19 nos hospitais Sírio-Libanês, Vila Nova Star e Paulistano, em São Paulo. "Tenho passado visita em pelo menos três hospitais por dia para ver pacientes com Covid-19, além de continuar atendendo pacientes cardiológicos no ambulatório", conta a médica. E no final do dia, ela se dedica a replicar suas informações em um projeto de telemedicina pra ajudar médicos no manejo de pacientes com a doença nos hospitais de campanha do Brasil. "Estamos ajudando médicos dos hospitais da campanha do Rio, de Roraima e do Amazonas". Entre um plantão e outro, a doutora, que enche de orgulho a mãe Simone Rizk, conversou com a coluna. Veja a entrevista:
Fale sobre o seu dia a dia e como faz para não ser contaminada?
Moro sozinha, acordo cedo, pego minha máscara N95, óculos de proteção, álcool em gel e começo minha jornada. Cada hospital adota um protocolo um pouco diferente, mas tenho a sorte de trabalhar em locais que não faltam EPIs, isso já dá uma certa tranquilidade. Troco minha roupa para a roupa privativa e então visto avental, luvas, gorro e óculos. E esse procedimento se repete diversas vezes no meu dia. Tenho passado visita em pelo menos três hospitais por dia para ver pacientes com Covid-19, além de continuar atendendo pacientes cardiológicos no ambulatório. No fim do dia fico envolvida em um projeto de telemedicina para ajudar os médicos no manejo dos pacientes com Covid-19 nos hospitais de campanha pelo Brasil. Não tive um dia de folga desde que tudo isso começou!
E no hospital, o que tem visto?
Os profissionais de saúde vivem um estresse coletivo, uma mistura de medo, insegurança e cansaço, mas ao mesmo tempo nos sentimos realizados em poder fazer parte dessa missão e ajudar tantas pessoas. É muito duro ver os pacientes, muitas vezes isolados, sem poder ver um familiar, um amigo, e isso vira um dos momentos mais angustiantes da sua vida. Às vezes vezes esses momentos são quebrados quando conseguimos colocar algum paciente, a maioria idosos na solidão de uma UTI, em contato com algum parente por um celular. Mas tem aqueles que morrem sem poder se despedir de ninguém.
Quais os tratamentos têm usado nos pacientes que complicam? Cloroquina tem efeito?
Até o momento não há evidência científica robusta sobre segurança e eficácia de medicações específicas no tratamento do Covid-19. Priorizo sempre suporte clínico com uma boa estrutura de UTI, mas mais que isso, ter uma boa equipe multiprofissional, isso sim faz a diferença. Já usei cloroquina no início da pandemia, mas não uso mais. Em alguns casos individualizados tenho feito corticoide, anticoagulação e tocilizumabe (usado em artrite reumatóide), porém, repito, faltam evidências mais robustas.
E a vacina? Podemos ter esperança, arrisca um palpite de quando chega?
A vacina salvará vidas, porém acho que não teremos disponibilidade em larga escala antes de 2021.
Como viver na pandemia? Quais hábitos vão ficar deste período para o pós-surto?
Fomos obrigados a nos reinventar, encontrar um novo “normal” e buscar formas distintas de sobreviver. É tempo de solidarizar. Entenderemos que muitas reuniões presenciais e a correria do dia a dia serão desnecessárias, em contrapartida nossos valores mudarão e a nossa forma de ver o mundo também, pelo menos espero imensamente que mude! Aprenderemos a dar valor a um abraço, um encontro com pessoas que amamos, uma viagem em família, pequenas coisas, pequenos gestos, que descobriremos que de pequeno não tem nada.
HOMENAGEM À MÃE
E como estamos no Mês das Mães, a coluna resolveu ainda homenagear a mãe dessa doutora que orgulha nosso Estado: Simone Rizk, com a declaração de amor da filha nas redes sociais. "Não pude dar o abraço apertado de aniversário de dia das mães que sempre dou nela. Mas em breve estaremos juntas. Te amo".
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