A falta de peças automotivas no mercado revela um problema muito sério que, num primeiro momento, pode até ser pouco dimensionado.
A realidade vivida hoje é a de que o setor da reparação de veículos tem passado por uma verdadeira transformação e as oficinas de lanternagem e pintura transformaram-se em estacionamento de carros parados por falta de peças.
Os clientes também estão sendo impactados com esse desabastecimento e o impacto direto se dá na locomoção, já que o motorista fica sem o veículo ou por tempo insuficiente, pois a maioria das apólices prevê a contratação de carro reserva por apenas sete dias.
Para entender esse movimento, vamos relembrar alguns fatos.
Logo após a pandemia, o mercado ficou carente de semicondutores e componentes mais complexos. A GM, por exemplo, ficou muito tempo sem fabricar o modelo Onix que, na época, era o carro mais vendido no Brasil.
E sem a fabricação de peças e com a alta quantidade de veículos circulantes, o efeito postergado é a indisponibilidade hoje vivida pelo mercado. Já com a guerra da Ucrânia, o mercado também foi atingido pela interrupção da fabricação de farol de alguns modelos de carros.
E os leitores devem estar se perguntando: como está a indústria automotiva agora? A realidade que o setor vivencia é de grande falta de itens de lanternagem.
Os carros que sofrem alguma colisão e que são reparados pelas seguradoras estão numa fila de até seis meses para serem consertados. O motivo da demora do serviço, por parte da seguradora, decorre da necessidade de fornecer peças genuínas, compradas das concessionárias da marca do seu veículo. Estas, por sua vez, recebem no fluxo de tempo determinado pelas respectivas fábricas. E é aí que inicia a demora no processo.
Mas então, quais são as peças com maior defasagem nos estoques?
Podemos afirmar que 60% das peças mais indisponíveis são os faróis, portas, laterais, para-choques, painel e caixa de roda.
Os microchips, que lá atrás já ocuparam espaço de liderança nessa fila, hoje representam 25% dessa ausência. O restante é atribuído às peças de mecânica, elétrica, vidros e itens de acabamento como frisos, grades e maçanetas.
Segundo levantamento feito pela Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a qual reúne 72 seguradoras, dos 40.700 itens encomendados entre janeiro e março, ainda faltavam 7.100 peças para serem entregues.
As seguradoras vêm notificando as montadoras sobre a necessidade de reposição de peças, mas esse movimento ainda não tem apresentado resultado.
E essa demora das peças já trouxe resultado negativo para os consumidores que, apesar de estarem ao final da cadeia de consumo, estão pagando pela conta, pois o seguro já ficou mais caro devido à necessidade de prorrogação do tempo de disponibilidade do carro reserva.
A média de tempo de 11 dias de utilização de carro reserva em 2019 mais que dobrou, passando para 25 dias no ano de 2023.
De acordo com o presidente da comissão de Seguros da FenSeg, Marcelo Sebastião, a indústria, no entanto, voltou à produção de peças para fabricação de automóveis zero quilômetro, deixando de lado o mercado de reposição”. Ora cobriu um lado e ora destampou outro.
O mercado está sofrendo muito com o desabastecimento de peças, pois a indústria, ao lançar novos modelos, mudando, por exemplo, uma grade, um farol, um detalhe no para-choque, mas não disponibiliza as peças no mercado para reposição.
Em entrevista, a Associação Nacional dos Fabricante de Veículos Automotores (Anfavea) manifesta-se no sentido dessa demanda ser pontual, ou seja, não generalizada. Mas não é essa a realidade vivida pelo setor de reparação e pelos clientes.
E querem saber por que a notícia da falta de peça não chega até a montadora?
Quando um cliente judicializa a demanda, a ação geralmente é contra a oficina e a seguradora, raras vezes contra a corretora. Nunca pela montadora. O setor de ouvidoria das fábricas também é pouco demandado pelos clientes. E qual a participação da corretora de seguros e das oficinas nesse fluxo?
Ora, a corretora e a oficina não fabricam e também não fornecem as peças. Quem fornece as peças são as seguradoras que, a seu turno, recebem das fábricas, responsáveis pela defasagem em toda essa cadeia de serviços.
E diante de todo esse contexto apresentado para os amigos leitores, agora venho aqui deixar algumas dicas para que sua experiência seja a melhor possível com os recursos de que dispomos:
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01
Deixe tudo claro
Na hora de abrir o aviso de sinistro, forneça todos os detalhes, por exemplo: relatar como foi a colisão, no lado direito no para-lama dianteiro e foi projetado o lado esquerdo no meio fio, amassando ou arranhando a roda dianteira do lado esquerdo. Se assim não o fizer, o seguro pode se negar a pagar a roda do lado esquerdo e a contestação vai atrasar, ainda mais, a realização do reparo. Nesse caso, a orientação é de que solicite a ajuda do seu corretor de seguros.
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02
Tenha confiança na oficina
Leve seu carro para uma oficina credenciada para realizar vistoria prévia. O profissional irá desmontar o seu carro e o perito terá mais assertividade no orçamento, o que possibilitará que sejam solicitadas todas as peças para a seguradora no orçamento inicial, diminuindo eventuais surpresas na hora do reparo.
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03
Mantenha o seguro em dia
Converse com o seu corretor de confiança e solicite, por ocasião da renovação de seu seguro, um prazo maior de disponibilidade do carro reserva. A sugestão aqui é, na conjuntura atual, renovar a apólice com intervalo de 30 a 60 dias de carro reserva.
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04
Não perca tempo
Caso seu veículo seja impactado pela demora na entrega das peças, faça contato com a ouvidoria das montadoras e, se for judicializar, envolva a montadora por ser ela a maior responsável pela falta de peças, já que é seu o ônus de abastecer o mercado de reposição.
Gostaria de finalizar este artigo dizendo, aos amigos leitores de A Gazeta, que não são todos os reparos de colisões que demoram na conclusão do conserto. Isso vai variar bastante a depender do modelo do carro, ano de fabricação, se o carro já não é mais fabricado e, também, do tipo da peça em questão.
E não poderia concluir de outra forma. Como eu sempre digo e repito: faça o seguro com o corretor, é mais seguro.
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