Diversos meios de comunicação informaram em 9 de agosto que o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) revelou que o aquecimento global é fato e que não há dúvida de que a influência humana é fator determinante. Aproveitarei a matéria publicada na Agência Pública, assinada por Giovana Girardi, para realizar algumas ponderações.
Em áreas habitadas já se ultrapassou o aumento de temperatura de 1,5ºC. Tal fato torna irreversíveis diversos aspectos das mudanças climáticas. Eventos climáticos extremos são sentidos em diversas regiões do planeta. Enchentes recentes devastaram diversas cidades na Alemanha, na Bélgica e na Holanda, por exemplo.
Para o IPCC, destacou a matéria assinada por Girardi, “as mudanças climáticas já estão entre nós, ocorrendo de modo rápido, generalizado e estão se intensificando”. Cientistas alertam no sumário do relatório que “a influência humana aqueceu o clima a uma taxa que não tem precedentes pelo menos nos últimos 2 mil anos”. A temperatura da superfície global aumentou desde 1970 mais rapidamente do que em qualquer outro período anterior.
O relatório deveria nos fazer refletir sobre o modelo de desenvolvimento hegemônico desde então. A responsabilidade humana pelo aquecimento global é estimada em 98%. Existem responsabilidades históricas da parte das sociedades que se tornaram “desenvolvidas” queimando combustíveis fósseis, emitindo metano e poluindo o planeta. Padrões produtivos e de consumo insustentáveis são responsáveis.
“A influência humana”, reforça os cientistas, “torna eventos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes, ciclones tropicais e secas, mais frequentes e severos”. Em relação ao Acordo de Paris (2015), a expectativa é de que a temperatura média do planeta aumente 1,5ºC ou até exceda esse limite nos próximos 20 anos. Pelo jeito, as mudanças climáticas estão se tornando irreversíveis.
Nos cenários avaliados pelo IPCC, há motivos de preocupação para o Brasil. Existem sinais de que elevações de temperatura provocando secas e desertificações, do tamanho da Inglaterra no Nordeste, estão ocorrendo. Estima-se o aumento das secas em áreas agrícolas e naturais na região do sul da Amazônia brasileira. No Sudeste, é projetada a elevação das intensidades da frequência de chuvas extremas e inundações.
Haverá pressão sobre o Brasil, principalmente sobre o agronegócio. De acordo com Girardi, o IPCC está dizendo que o Acordo de Paris só será cumprido caso as emissões não só de CO2, mas também de metano, o gás ligado principalmente à pecuária, começarem a cair nos próximos anos.
A sustentabilidade ambiental será efetivamente um novo valor global no século XXI? A pandemia de Covid-19 reduziu as emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente 6,7%, quando quase tudo foi fechado e houve confinamentos em diversos países. Segundo cálculos do IPCC, a redução das emissões teria que ser dessa ordem nos próximos trinta anos para frear a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos.
Seria necessário descarbonizar rapidamente a economia global, ou seja, seria necessário remover enormes quantidades de CO2 da atmosfera. O problema é que a tecnologia para tanto é cara e dificilmente ela funcionaria na escala necessária. Portanto, não é sensato confiar apenas no progresso tecnológico para mitigar as externalidades negativas geradas pela lógica do modelo de desenvolvimento vigente.
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