Começo esta coluna em tom de retrospectiva. É que 2020 foi, definitivamente, o ano da reinvenção. Essa nossa redescoberta no digital esteve muito presente no cotidiano, em momentos de trabalho, de estudos ou de lazer.
Uma lição primorosa que aprendemos está ligada à proximidade viabilizada pela internet. Mesmo à distância, pudemos nos manter conectados e realizamos inúmeras atividades on-line. E pela primeira vez, julguei cervejas de forma virtual.
Para quem se interessa por sommelieria e avaliações de bebidas de uma maneira geral, vale a pena contar como funcionam os julgamentos de cerveja presenciais: uma mesa composta por juízes (o número varia de acordo com o perfil do concurso) recebe uma garrafa da cerveja (que chamamos de amostra) sem identificação.
A partir do momento em que a amostra é colocada à mesa, tudo passa a ser observação e uso de sentidos - desde a audição para ouvir o barulho da abertura da garrafa até o olfato, a visão, o tato e, claro, o paladar.
É comum também que juízes troquem impressões e observações com outros juízes, seja para tirar uma dúvida ou para reforçar uma percepção. Agora, imagine fazer isso de maneira remota. Faz toda a diferença.
ADAPTAÇÃO
Sem deixar o copo esquentar, a Associação dos Cervejeiros Artesanais do Espírito Santo (Acerva Capixaba), adequou-se às limitações da pandemia e adaptou a sexta edição do seu concurso anual de cervejas caseiras ao formato on-line. Com uma logística eficiente de entregas das amostras para avaliação e o aumento do período para julgamento, tudo aconteceu da melhor forma possível.
Neste ano, o VI Concurso de Cervejas Caseiras Acerva Capixaba teve apenas dois estilos escolhidos concorrendo dentro de sua própria categoria: German Pils, representando a família das Lager e a Escola Alemã, e American IPA, à frente da Escola Americana e da família das Ale.
O JÚRI
Os 10 juízes foram divididos em duplas e julgaram 136 amostras dos estilos por meio de videoconferência e reuniões on-line. Essa distância é, para mim, o grande desafio. Apesar de ser uma experiência muito particular, cervejeiro gosta da troca de opiniões postas à mesa, de ouvir percepções no instante pensado e da sensação de proximidade que só a cerveja transmite.
Com o digital, tudo mudou. Em vez da súmula tradicional, preenchida a próprio punho, tivemos acesso direto ao sistema da Beer Awards Plataform e digitamos as informações simultaneamente. Foi minha terceira vez como juíza de cervejas em concursos cervejeiros e aos poucos vou ganhando experiência nessa área que é meu foco no universo da bebida.
Trocar experiências com um juiz mais experiente (Daniel Cupertino, você é demais!) por meio de um monitor, entretanto, foi enriquecedor. Precisávamos confiar ainda mais nas percepções um do outro e deixar a comunicação fluir.
RESULTADO
O resultado final deu certo. Avaliamos 14 garrafas, sendo duas de cada amostra e tivemos cervejas incríveis entre as opções: uma German Pils equilibrada (fazer Pilsen é o terror de muitos cervejeiros, mas deixo isso para uma próxima coluna), muitas experimentações, alguns off flavors (aromas e sabores indesejáveis) e também uma amostra levada ao Best of Show - que são as cervejas avaliadas com as maiores pontuações e que concorrem ao primeiro lugar geral de um concurso.
Os ganhadores do concurso de cervejas caseiras em 2020, de todo o Estado, foram:
- German Pils Ouro: Loveland German Pils, por Joaquim Natal, de Ibatiba
- German Pils Prata: Ocean Pils, por Vinícius Scheidegger, de Vila Velha
- German Pils Bronze: Marci Pils, por Marcieli Roberta, de Vila Velha
- American IPA Ouro: American IPA I Lupi, por André Piol, de Ibiraçu
- American IPA Prata: Bradus IPA, por Matheus Magalhães, de Vila Velha
- American IPA Bronze: Bäumler American IPA, por Marcelo Mantovaneli, da Serra
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