Uma das discussões mais calorosas no meio cervejeiro diz respeito ao melhor método de armazenamento da cerveja. De um lado, temos a praticidade das latas. De outro, a tradição das garrafas. Mas, afinal de contas, a forma de envasar influencia na qualidade da bebida? A resposta é sim, mas quando se discute qual delas é a melhor, as opiniões se dividem.
Os preciosistas defendem a tradicional garrafa de vidro como a melhor forma de armazenar, já que entre as vantagens desse método está uma presença maior de carbonatação (o que, juro, é praticamente imperceptível para leigos).
Os defensores das latas apostam na sustentabilidade e na praticidade de ter uma latinha sempre ao alcance das mãos. Porém, o processo de envase em latas tende a ser mais caro e mais difícil para o cervejeiro caseiro.
Já as garrafas exigem menos esforço nesse estágio final da cerveja, visto que seu fechamento é mais simples. Por outro lado, cervejas armazenadas em latas mantêm-se conservadas por mais tempo, porque as latinhas impedem a entrada de luz.
GARRAFA VERDE
Para que você entenda melhor a influência da luminosidade, sabe aquela famosa cerveja da garrafa verde? Você pode ter reparado que o sabor das cervejas dessa marca mudam de acordo com o modo de envase.
É que cervejas armazenadas em garrafas de vidro recebem incidência de luz. E essa iluminação extra resulta em um defeito conhecido como lightstruck (em tradução do inglês, "atingido pela luz").
O principal componente cervejeiro que sofre com a ação da luz é o lúpulo, e o resultado disso são cervejas mais amargas e com cheiro desagradável - chamado entre os cervejeiros de “cheiro de gambá”.
MUDANÇA DE PROCESSO
O mestre cervejeiro Fábio Anselmo, de Vila Velha, começou a pesquisar o uso de latas para implementar em sua cervejaria por conta da praticidade, dos altos preços em garrafas de vidro e também da escassez desse material na pandemia. "Percebi que há uma rixa parecida com a de times de futebol, cada um defende o seu lado com unhas e dentes", brinca.
Fábio destaca que o fato de as latas de alumínio serem recicláveis no Brasil (nosso país é líder mundial em reciclagem desse item) foi decisivo quando optou por esse processo de envase. Além disso, ele inspirou-se nas cervejarias artesanais de ponta no Brasil que embarcaram na tendência das latas e capricham no design (Satélite, Dogma, etc.).
O mestre cervejeiro considera o envase em latas mais difícil e mais custoso, até porque estava acostumado com o tradicional, em garrafas, porém aprova o método. "Gostei bastante do resultado em lata, tive tempo para aprender o processo e está bem legal. Vou seguir assim", afirma.
O MITO DO GOSTO METÁLICO
Vale ressaltar que as diferenças de envase são um mero detalhe para paladares menos experientes. A receita é a mesma, os métodos de pasteurização também são parecidos e o mito de que latas de alumínio deixam gosto metálico ou até mesmo oxidado é apenas mito mesmo.
O que costuma deixar esses resquícios são os KEGs, aquelas latonas de cinco litros, já que contêm ferro em sua composição. Como regra geral, as cervejas em lata costumam ser mais suaves e agradáveis ao paladar por estarem menos propensas a sofrer influências externas. Eu sou time lata, e você? Saúde!
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