Já imaginou beber uma cerveja salgada? Isso pode acontecer, mas não me refiro à clássica michelada, drinque mexicano de cerveja com borda de sal, cuja receita que você confere clicando aqui. Cerveja salgada é sinônimo de um dos estilos mais inusitados da tradicionalíssima Escola Alemã, o Gose.
Esse estilo, natural da extinta região de Goslar, na Baixa Saxônia, ganhou sua primeira amostra em meados do século XIII. O rio Gose, que abastece aquela área, era também alvo de despejo de inúmeros resíduos que vinham da exploração de minas de sal nos arredores.
Como tratar a água para produzir cerveja não era comum naquela época, as cervejas, todas da família Ale, apresentavam essa característica salgada. Uma afronta daquelas à Lei da Pureza Alemã, lançada dois séculos depois, em 1516.
Devido à baixa produção e popularidade, o Gose foi se perdendo aos poucos e, apesar de ter resistido em algumas tabernas de Leipzig, as Gosenschänken, desapareceu completamente séculos depois, durante a Segunda Guerra Mundial.
Nas décadas seguintes, alguns cervejeiros da região voltaram a produzir o estilo, porém sempre em pequena escala, tornando as Gose uma joia alemã.
DE VOLTA À CENA
A partir dos anos 1980, Ohne Bedenken, um entusiasta cervejeiro, tornou-se o responsável por recriar receitas antigas e reviver o estilo por um período mais considerável.
Para alegria dos apreciadores de cervejas diferentonas, as Gose voltaram à cena há alguns anos, tornando-se conhecidas nos Estados Unidos, já que a Escola Americana destaca-se por resgatar estilos tradicionais e trazer inovações.
Essas cervejas, do tipo Ale, têm como características o uso de malte pilsner e de malte de trigo em suas receitas, bem como a adição de sal, além de sementes de coentro e lactobacilos.
Além do sabor salgado, outra sensação de destaque nas Gose é a de frescor, que vem à tona com o coentro. As notas salinas devem mostrar características de sal marinho ou de sal fresco, sem qualquer resquício metálico ou de iodo.
Podemos dizer que o estilo se parece com as Berliner Weisse, pela adição do malte de trigo e dos lactobacilos, assim como se assemelha às primas belgas Gueuze - essas, porém, são produzidas com fermentação espontânea.
As Gose são excelentes pedidas para quem busca cervejas diferentes, refrescantes e com amargor quase nulo, e harmonizam bem com frutos do mar em geral. Abaixo, trago dicas de bons exemplares do estilo.
4 CERVEJAS GOSE QUE VALE A PENA PROVAR
-
01
Casa Bruja Gose Limón Kaffir (Panamá)
Com adição de sal rosa do Himalaia, limão kaffir (tailandês) e sementes de coentro, essa cerveja panamenha exemplifica perfeitamente como uma Gose pode ser refrescante. Recomendadíssima!
-
02
Tesla Freud Explica Sour Gose com Uvaia (Brasil)
Além de salgada, é incrivelmente ácida. A nota cítrica extra fica por conta da adição de uvaia, que também entrega um dulçor necessário para a receita. Surpreendente por seu frescor e complexidade.
-
03
Itajahy Maré Gose (Brasil)
Clara, dourada e levemente ácida, essa representante do estilo Gose produzida em Santa Catarina parece ter nascido para a harmonização com crustáceos e bivalves. Perfeita para um dia de praia, sol e sal.
-
04
Narcose Flip-Flops To Heaven Gose Caju (Brasil)
Essa collab da gaúcha Narcose com as cervejarias brasileiras Suricato e 4 Islands e a alemã Freigeist coleciona prêmios - destaque para a medalha de prata do Concurso Brasileiro de Cervejas 2021 e para a de ouro na Copa Cerveja Brasil Abracerva 2019. Com final seco e caju proeminente, é uma excelente representante do jeito brasileiro de fazer cervejas alemãs. Clique aqui para comprar.
Este vídeo pode te interessar
Acompanhe a colunista também no Instagram.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.