Quem acompanha as tendências da gastronomia já deve ter notado um aumento na valorização dos ingredientes locais. O incentivo a essa prática, inclusive, vai além da mesa: consumir produtos de um determinado lugar também traz à tona características históricas, geográficas, culturais e sociais daquela região.
Sempre lembrado no mundo dos vinhos, o terroir também tem seu espaço no universo das cervejas, principalmente quando mencionamos escolas cervejeiras tradicionais e regiões do globo que produzem ingredientes cervejeiros, como cevada e lúpulo, de excelência.
Com o desenvolvimento da cultura cervejeira no país, nosso Brasil varonil ganha destaque com seus diferentes tipos de terroir e também na produção de insumos locais. Afinal de contas, um país continental como o nosso pode e deve fabricar cervejas com ingredientes locais de alta qualidade.
INSUMOS 100% NACIONAIS
Pegando carona na última coluna, em que falei sobre a Catharina Sour, o primeiro estilo de cerveja criado no Brasil, lembro que já temos no mercado rótulos de cervejas com ingredientes 100% brasileiros. E adianto: há excelentes insumos cervejeiros sendo produzidos de Norte a Sul do país.
Nas regiões Sul e Centro-oeste são cultivados grãos de cevada que também passam pelo processo de malteação. Destaque para a Agrária, maior maltaria da América do Sul, que supre cerca de 30% do mercado local com seu malte Pilsen.
Já o queridinho lúpulo espalhou-se por vários cantos mais frios e secos do Brasil, desde o Sul até as regiões serranas do Sudeste. Aqui no terroir das montanhas capixabas, Domingos Martins abriga o Hopfenbüge (Instagram @hopfenbuge), primeiro campo de lúpulos certificado do ES, com o qual algumas cervejarias locais já fecharam parceria para produzir cervejas de origem.
Responsáveis pelo grand finale da fermentação, as leveduras cervejeiras, chamadas Saccharomyces cerevisiae, são desenvolvidas a todo vapor em todos os cantos do país e carregam consigo características de cada região.
Já temos leveduras reconhecidamente brasileiras catalogadas e isso traz fôlego para o sonhado reconhecimento do nosso país como futura escola cervejeira. Cervejarias e até mesmo cervejeiros caseiros arriscam em cultivar suas próprias cepas, o que torna essa alquimia ainda mais interessante.
EM LARGA ESCALA
Devido à alta demanda, ainda não é possível encontrar em grande escala rótulos de cervejas com todos os ingredientes produzidos no país. Há alguns anos, cervejarias como a sulista Coruja e a Colorado, que pertence à Ambev, vêm fazendo experimentos com insumos brasileiros.
O sucesso, por enquanto, fica por conta de marcas que produzem receitas já disseminadas pelo país com ingredientes produzidos por aqui. Há pouco tempo atrás, a cervejaria paulista Baden Baden fechou parceria com a Verace, com a Three Monkeys e com a Landel. Todas essas cervejarias criaram rótulos colaborativos com a Baden Baden usando lúpulos 100% brasileiros.
As amostras dos lúpulos, vindas de Indaiatuba/SP, foram analisadas pelo Instituto de Cerveja do Brasil (ICB), distribuídas entre as parceiras e apresentadas no Mondial de La Bière de 2019. Como resultado, tivemos: uma Dark Lager (Verace), uma Sour de frutas vermelhas e café (Landel) e uma Pilsen com levedura Ale (Three Monkeys).
Também tem cervejaria se aventurando no frescor do lúpulo in natura. Neste ano, a curitibana Lunatic Brew lançou a Harvest Ale, uma American IPA em parceria com a Tamayo Hops, plantação orgânica de lúpulos localizada em Brasília.
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