Se me pedissem para eleger o estilo de cerveja mais famoso entre os cervejeiros do Estado (ou do país), eu diria sem pestanejar: IPA. Na pronúncia em inglês: "ai-pi-êi". Para os tradicionais: India Pale Ale. O estilo da Escola Britânica, conhecido por seu amargor devido à carga extra de lúpulos é, já há um tempo, o queridinho dos cervejeiros. Mas você já parou para pensar o que as IPAs têm de tão especial?
O estilo e seu amargor são um fenômeno na cultura craft, principalmente com a influência da Escola Americana e dos seus vários lúpulos cítricos, refrescantes e frutados. Essa tendência chega cada vez que nos deparamos com vários subestilos derivados da tradicional English India Pale Ale, como Belgian IPA, Rye IPA, New England IPA (NEIPA), Black IPA, Session IPA, Double IPA, Imperial IPA e muitos outros.
Tantas variações tangem uma competição de quem leva o amargor a números escalafobéticos e que podem não ser percebidos nas nossas papilas gustativas. O International Bittering Units Scale (IBU), índice que mensura o amargor da nossa bebida favorita, está geralmente acima dos 40% quando trata-se de uma IPA. Devido à banalização do amargor, muitos cervejeiros buscam IBUs altíssimos e esquecem de algo fundamental para nosso paladar: o equilíbrio.
Oficialmente, o amargor é medido entre 0 e 120%, porque esse é o máximo que nossas papilas podem sentir. O desequilíbrio entre os ingredientes pode fazer com que toda a carga de lúpulo extra adicionada à receita tenha sido um enorme desperdício de dinheiro. Muitos cervejeiros também costumam inserir mais lúpulo para mascarar problemas da receita. É claro que muitas cervejarias ao redor do globo têm cervejas que ultrapassam essa porcentagem de amargor e volta e meia surge alguma novidade com IBU nas alturas.
Ou seja, fazer e reconhecer uma boa IPA é uma arte. É possível beber uma bela representante do estilo que tenha apenas um lúpulo (single hop), assim como não é raro achar cervejas com mais de oito tipos de lúpulo em suas receitas sem que elas estejam desequilibradas. Há de se buscar beleza e equilíbrio por trás de tanto amargor. Como eu costumo dizer, não adianta ser "ipeiro" e hophead assumido se você nunca tomou o chá de boldo da vovó e fica tirando onda com os amigos para ver quem toma a cerveja mais amarga.
HISTÓRIA OU LENDA?
Todo fã de IPA que se preze conhece a história do estilo: por volta do século 18, quando a Inglaterra reinava com a exploração da Ásia, os navegadores enfrentaram muitos problemas para levar suas cervejas para tão longe sem que elas estragassem, seja pela longa viagem, seja pelo calor.
Foi assim que, em 1760, um cervejeiro londrino chamado George Hodgson, da Bow Brewery, resolveu adicionar mais lúpulo aos barris das bebidas do estilo Pale Ale, já que além de adicionar amargor, o lúpulo também conservaria a bebida. Após meses de viagem, a cerveja permaneceu fresca e própria para consumo, porém, com amargor mais alto. Nascia assim o estilo India Pale Ale.
Super bacana a história, mas, aparentemente, pode ser uma grande lenda. Não existem evidências de que esse cervejeiro foi o responsável pela ideia lupulada. Além disso, a Inglaterra já exportava cerveja para a Índia há mais de um século e cervejeiros anteriores a Hodgson entendiam que era um bom negócio acrescentar mais lúpulo em suas ales para que fossem consumidas em países quentes (olha o frescor do lúpulo aí, gente!).
Tudo indica que a fama de hophead de George Hodgson deu-se pela proximidade de sua cervejaria dos portos de Burton on Trent (o berço das Porters inglesas). Ou seja: vários cervejeiros já dominavam a lupulagem, e ele, pela facilidade que tinha, levou a fama.
Vale acrescentar que a autêntica English IPA tem IBU ligeiramente menor (entre 40% e 60%) que o de suas herdeiras American IPAs (acima de 50%), e que a escolha dos maltes e as características dos lúpulos de cada terroir fazem a diferença. English IPAs são mais herbais, terrosas e com traços maltados mais evidentes. Já as American trazem seus lúpulos frutados e condimentados, acrescentando mais variedade ao estilo e assim tornando-o tão popular.
3 IPAS QUE VOCÊ PRECISA PROVAR
Em meio à infinidade de rótulos lançados em todo o mundo, escolhi três cervejas marcantes, daquelas que todo hophead precisa conhecer:
- BrewDog Punk IPA - Cervejaria BrewDog (Escócia)
- A primeira IPA bebida na fonte a gente nunca esquece. Conheci a BrewDog em 2012, quando morei na Escócia, tive a chance de ir a vários pubs da cervejaria e beber na fonte. É uma das cervejas mais marcantes da minha vida e sei que muitos também começaram por essa belezinha. Trata-se de uma American IPA com aroma fresquinho, fresquinho, e amargor presente, de lúpulos que trazem notas cítricas e final seco.
- R$ 30,99 (300ml) na The Beer Planet.
- Roleta Russa IPA - Cervejaria Imigração (Brasil)
- Medalha de ouro no Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau em 2017, essa é uma IPA clássica brasileira. Um dos rótulos pioneiros da Roleta Russa, essa cerveja é fácil de ser encontrada e não perde seu encanto: com 6,2% de teor alcoólico, ela tem final seco e uma explosão de lúpulos cítricos no olfato. Daquelas para ter sempre à mão.
- R$ 11 (350ml), na Top Beer.
- Votus 001 - Cervejaria Votus (Brasil)
- Essa cerveja foi eleita a melhor IPA do mundo no World Beer Awards do ano passado e, sim, é brasileira! A Red IPA da cervejaria paulista tem como marca o equilíbrio entre o dulçor do malte e suas notas amargas e lupuladas. Como boa English IPA, ela representa o estilo com notas herbais no olfato, além de outras terrosas somadas ao caramelo e ao toffee do malte. Uma riqueza com 7,2% de ABV.
- R$ 24,87 (600ml) na Cervejaria Virtual.
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