Nós mulheres seguimos na luta para ocupar todos os espaços que queremos. Na cena cervejeira, ser mulher ainda é algo que surpreende. Quando figuras femininas tomam as rédeas de fábricas e tocam toda a produção de uma cerveja, então, a surpresa é ainda maior. Mas não deveria ser assim. Desde a Antiguidade, nas civilizações suméria e egípcia, são elas as responsáveis pela fabricação das cervejas.
À medida que a cultura das cervejas artesanais se desenvolve, nós mulheres aparecemos ainda mais. Assim, aos poucos, vamos quebrando tabus machistas insistentes – como a objetificação do corpo feminino – também na indústria cervejeira de larga escala. Felizmente, a era das musas de propagandas de cervejas e das fotos insinuantes usadas para divulgar a bebida está com seus dias contados.
Aproveitando que estamos no mês do Dia Internacional da Mulher, em que celebramos nossas conquistas e reforçamos a nossa constante busca por igualdade e respeito, decidi falar sobre alguns exemplos de protagonismo feminino na cena cervejeira capixaba – que, claro, também é lugar de mulher! Confira a seguir:
MINHA PRIMEIRA CERVEJA COLABORATIVA
Eu, que comando a Telúrica Cervejaria, e Carol Pizetta, dona da Serpentário Brewery, viramos grandes amigas no primeiro gole, em 2018, durante uma degustação guiada. Desde então, acompanho de perto a trajetória da cervejaria dela: vi abrir as portas oficialmente, lançar cervejas premiadas e ganhar seu espaço. O mais bacana dos rótulos da Serpentário é a fuga do óbvio: Carol busca produzir cervejas de estilos que não se encontra facilmente no mercado, como a Mild Ale. É uma forma de entregar a cultura cervejeira em sua essência.
Com nossa amizade e inúmeras afinidades veio a vontade de criar uma cerveja colaborativa que tivesse a nossa identidade. Ela produz cervejas há mais de cinco anos e tem muito a me ensinar, visto que comecei a produzir há pouco mais de um ano e meio.
Ao decidirmos participar juntas do Concurso Anual de Cervejas Caseiras da AcervA-ES, associação da qual fazemos parte, criamos a nossa Rye IPA, batizada posteriormente de Serpente do Nilo. Trata-se de uma IPA com malte de centeio, dois lúpulos e dry hopping. Picante e fresca, apresenta notas de frutas amarelas.
Com teor alcoólico de 5,5% e 50 de IBU, conseguimos trazer muito do que acreditamos: uma cerveja que pode ser fácil de beber e ao mesmo tempo complexa, ter refrescância e também amargor, sendo um ponto fora da curva das obviedades que saturam o mercado repleto de IPAs desequilibradas e com lupulagem desnecessária.
Discutimos ideias, decidimos o estilo, criamos a receita e passamos um dia entre troca de informações, experimentos e muita vontade de criar uma cerveja genuína. O resultado foi o terceiro lugar na categoria do concurso, já com a primeira amostra da receita, e muita alegria por conta de uma parceria que sabíamos que daria certo.
EM SANTA TERESA, UMA MULHER NO COMANDO
Quem chega a Santa Teresa logo se encanta com a imponência da Cervejaria Teresense, localizada às margens da Rodovia Josil Espíndola Agostini, em um amplo terreno na entrada da cidade. Inaugurada em 2019, é a maior cervejaria do Estado e tem no comando de sua produção Luana Hoffmann, que é mestre-cervejeira e responsável técnica.
Luana, que começou como todo cervejeiro, nas panelas das cervejas caseiras, anuncia a expansão da marca no mercado: "Já começamos a engarrafar nossas cervejas e vamos distribuí-las por meio de um site para a Grande Vitória. Hoje também é possível encontrar nosso chope e as cervejas em bares, restaurantes e supermercados de Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Itarana, Aracruz, Linhares e São Roque", informa a cervejeira, que também é Mestre em Engenharia de Produção.
SÓCIA DE CERVEJARIA EM VITÓRIA: SONHO VIROU REALIDADE
Um dos brewpubs mais bacanas de Vitória, a Fratelli Reggiani, era um sonho antigo da sua responsável técnica e sócia, a mestre-cervejeira Juliana Reggiani. Ela vem de uma família de produtores de bebidas e ensaiou por vários anos abrir seu próprio negócio no ramo. Após fazer inúmeros cursos e viagens nacionais e internacionais para entender ainda mais sobre o mercado cervejeiro, ela conseguiu, em 2016, construir o plano de negócios que deu origem à sua própria cervejaria.
"Em 2014, fui a Piracicaba e comprei meu primeiro equipamento cervejeiro, com capacidade de 100 litros. Mas o fabricante ficou doente e me entregou apenas parte dele. Nunca desisti de estudar e, nesse meio tempo, fiz diversos cursos e ampliei minha rede de contatos", relembra a empresária. O nome da cervejaria é uma homenagem ao bar fundado pelo avô e o irmão dele em 1943, na localidade de Araguaia, em Marechal Floriano.
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